É professor do Instituto Federal do Espírito Santo. Em seus artigos, trata principalmente dos desafios estruturais para um desenvolvimento pleno da sociedade. Escreve quinzenalmente, às segundas

Índice de desalento em alta acirra desigualdade entre trabalhadores

Flexibilização de regras no mercado de trabalho elevou a incerteza para os trabalhadores e impactou adversamente no consumo das famílias

Publicado em 07/10/2019 às 08h14
Atualizado em 07/10/2019 às 08h14
Carteira de trabalho. Crédito: Edson Chagas/ Arquivo AG
Carteira de trabalho. Crédito: Edson Chagas/ Arquivo AG

No recente boletim sobre o mercado de trabalho de número 67, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), consta a nota técnica assinada por Rogério Jerônimo Barbosa, sob o título de "Estagnação desigual: desemprego, desalento, informalidade e a distribuição da renda do trabalho no período recente (2012-2019)". Entre as relevantes questões abordadas nessa nota técnica, destaca-se que a “desigualdade da renda do trabalho voltou a subir no Brasil”.

A nota técnica ressalta que “o desemprego e o desalento foram responsáveis pelo início do crescimento da desigualdade”. As disparidades entre as remunerações, que têm a ver com a formalização ou não dos vínculos empregatícios, atuam nesse contexto. Segundo afirma Babosa, “benefícios e direitos típicos (e sazonais) do setor formal se tornaram mais escassos e concentrados”. Essa questão afetou a segurança dos trabalhadores para o consumo e ela vem dificultando a recuperação da economia.

O contexto institucional de flexibilização de regras no mercado de trabalho elevou a incerteza para os trabalhadores e impactou adversamente no consumo das famílias. Em meados de 2014, os 50% mais pobres se apropriavam de 5,7% de toda a renda do trabalho, enquanto que no primeiro trimestre de 2019 essa mesma fração caiu para 3,5%. O grupo dos 10% mais ricos, por sua vez, recebeu aproximadamente 49% do total da renda do trabalho em meados de 2014 e 52% no início de 2019.

Desde o fim de 2014, argumenta Barbosa, “o crescimento do número de desocupados, desalentados e inativos implica que um contingente expressivo passa a não ter qualquer rendimento do trabalho. Com isso, esses grupos de renda zero se acumulam na base da distribuição e contribuem para o aumento da desigualdade”. A partir de 2017, a informalidade passa a se expandir rapidamente. Trabalhadores vivenciam o aumento da desigualdade em suas categorias, sendo que a incerteza e as instabilidades perpassaram todo o mercado de trabalho.

Conforme argumenta Barbosa, em “2017 e 2018, desemprego e desalento se estabilizam em níveis extremamente altos e então as tendências gerais passam a refletir basicamente as desigualdades entre trabalhadores”. A eliminação de postos formais impactou diretamente o aumento da desigualdade. Nesse contexto, a informalidade, que possui características de precariedade laboral, se expandiu e contribuiu para o aumento da desigualdade. Deveria causar maior preocupação entre nós o fato de que o mercado de trabalho “pós-crise” dê poucos sinais de recuperação.

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