Na coluna passada, intitulada “Quando R$ 1 vira R$ 5”, eu falava sobre aquela armadilha silenciosa em que muitos caem: olhar apenas no detalhe para os números imediatos, sem perceber o elefante da valorização passando no meio da sala. Hoje, quero dar continuidade a esse raciocínio, talvez indo um pouco além do desconforto.
Vivemos num mundo barulhento. Somos bombardeados o tempo inteiro por opiniões, receitas mágicas, gurus de ocasião, influencers de planilha aberta e verdades absolutas que duram até o próximo story. No fim do dia, quase todos querem a mesma coisa: a sua atenção… e o seu dinheiro. Não culpo ninguém por pensar assim.
O ambiente foi construído para isso. Mas o problema começa quando essa lógica invade um dos temas mais importantes da vida adulta: a escolha da moradia. O imóvel virou, para muita gente, apenas uma conta. Um Excel emocionalmente estéril. Taxa aqui, rendimento ali, oportunidade acolá.
Enquanto isso, a pessoa mora mal, vive apertada, desconfortável, desalinhada com o dinheiro “rendendo” no banco. Banco esse que, convenhamos, pega o dinheiro dela e empresta para outros, muitas vezes ganhando dez vezes mais no processo. No final das contas, quem sempre ganha é o banco. E a vida… passa. Isso não é uma crítica ao empresário, ao investidor ou a quem gosta de fazer conta. Pelo contrário.
Comprar bem, negociar bem, não deixar dinheiro na mesa é importante. A psicologia explica: o impacto emocional de uma perda é muito mais intenso e doloroso do que a satisfação ou prazer de um ganho de valor equivalente. O conceito é conhecido na psicologia e economia comportamental como aversão à perda (do inglês, loss aversion). Isso é humano.
Ninguém quer perder. O problema é quando só existe essa dimensão para a pessoa e ela não enxerga mais nada. Porque o imóvel não é apenas investimento. O imóvel é o seu lar. É o lugar onde você chega no fim do dia e entende, sem precisar racionalizar, que todo o esforço valeu a pena. Horas de trabalho. Trânsito. Pressão. Impostos. Responsabilidades.
O mundo adulto não é para amadores. E, justamente por isso, a casa deveria ser o lugar onde você se reconecta consigo mesmo e se desconecta da loucura. Onde o corpo descansa, a mente desacelera e a consciência volta a respirar. Muita gente compra imóveis de que não precisa. E deixa de comprar os que realmente precisava.
Não por falta de dinheiro, mas por falta de reflexão. Certa vez, num treinamento do Dale Carnegie, um programa focado em desenvolver habilidades interpessoais cruciais como comunicação eficaz, liderança inspiradora e autoconfiança, ouvi do Dr. Edson Hage uma frase que nunca mais me saiu da cabeça: “As pessoas se realizam com poucas coisas.
O difícil é elas entenderem quais são essas poucas coisas.” Talvez seja disso que estamos falando aqui. Menos conta. Mais consciência. E você? Já parou, de verdade, lá no fundo, no fundo, no fundo, para entender o que realmente te realiza? Na próxima coluna, seguimos esse fio. Porque essa história, como toda boa série, está só começando.
LEIA EM RENATO AVELAR
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