Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Quem vai ganhar e quem deveria ganhar o Oscar 2021

Cerimônia do Oscar será realizada neste domingo (25) e tem em "Nomadland" o franco favorito, mas pode haver surpresas em outras categorias

Vitória
Publicado em 23/04/2021 às 23h03
Bela Vingança, Nomadland e Minari, indicados ao Oscar 2021
Bela Vingança, Nomadland e Minari, indicados ao Oscar 2021. Crédito: Divulgação

Parece que foi há muito tempo, mas foi há pouco mais de um ano que "Parasita" e Bong Joon-ho surpreenderam o mundo no Oscar. A cerimônia deste ano é atípica, em função da pandemia. Muitos filmes foram tiveram filmagens adiadas, outros foram interrompidos e muitos, mas muitos mesmo, tiveram a estreia postergada para algum momento em que as salas de cinema pudessem ser abertas. De uma forma ou de outra, o Oscar 2021 está entre nós e a cerimônia será realizada neste domingo (25).

O grande favorito da noite é "Nomadland", de Chloé Zhao. Com seis indicações e protagonizado por Frances McDormand, o filme sobre uma mulher que vive em uma van, sem casa, pulando entre empregos temporários, é comovente e permanece com o espectador muito depois de seu fim. Favorita, Zhao deve se tornar a segunda mulher a levar o Oscar de Melhor Direção.

Outro queridinho é "Bela Vingança", com cinco indicações. O filme de Emerald Fennell é atual e forte em seu discurso anti-misoginia e o "pornô de vingança". Com uma ótima atuação de Carey Mulligan, é também considerado para prêmios importantes para a diretora, que também assina como roteirista, e a atriz. Curiosamente, assim como "Nomadland", ainda não está disponível no Brasil.

Há outros grandes filmes que foram pouco vistos por aqui, como "Judas e o Messias Negro", de Shaka King, "Meu Pai", de Florian Zeller, ou "Minari", de Lee Isaac Chung. Alguns  indicados estão na Netflix - "Mank" e "Os 7 de Chicago" - ou no Amazon Prime Video - "O Som do Silêncio".  A questão que fica é: quem vai ganhar?

Obviamente não sei as respostas, mas abaixo você pode conferir os favoritos da imprensa especializada, gente que cobre o Oscar há muitos anos, e também a minha opinião sobre quem deveria ou poderia ganhar no lugar de cada um deles. Se um dia errei alguma previsão, não me lembro.... Divirta-se.

MELHOR FILME

Quem vai ganhar: É bem pouco provável que algum filme tire o prêmio de "Nomadland". O filme de Chloé Zhao com Frances McDormand levou os prêmios dos sindicatos de produtores (PGA), de diretores (DGA), o Globo de Ouro e o BAFTA, entre outros. Merece ganhar? Aí é outra história.... Um prêmio para "Nomadland" significa mais um ano de discussão sobre "não é filme de Oscar".  "Nomadland" é um road movie solitário no qual a protagonista filma com não-atores que não fazem ideia de que ela é uma atriz. A falta de um elemento mais forte, de um impacto imediato, parece diminuir a força do filme, mas a verdade é que suas belas sequências permanecem com o espectador por muito tempo depois que o filme acaba. 

Quem pode ganhar: Como disse acima, é difícil tirar esse prêmio de "Nomadland", mas vale lembrar que no ano passado "1917", de Sam Mendes, surgia como grande favorito após levar boa parte dos prêmios que o filme de Chloé Zhao levou nesta temporada. Dito isso, há a expectativa de que "Bela Vingança" ("Promising Young Woman") possa dar uma de "Parasita" e surpreender. Acho pouco provável. Neste cenário, o impecável "Minari" também tem chances correndo por fora.

Cena do filme
Cena do filme "Nomadland", de Chloé Zhao: favorito ao Oscar 2021. Crédito: 20th Century Studios/Divulgação

MELHOR DIREÇÃO

Quem vai ganhar: Chloé Zhao é a grande favorita numa categoria que mistura novos nomes (Emerald Fennell e Lee Isaac Chung) e nomes consagrados (David Fincher e Thomas Vinterberg). Pela maneira que "Nomadland" foi filmado, Zhao deve se tornar a segunda mulher (a primeira foi Kathryn Bigelow, por "Guerra ao Terror") e primeira "de cor", como os americanos chamam qualquer não caucasiano (chamaram até Anya Taylor-Joy, de "Gambito da Rainha", assim pelo fato de ter nascido na Argentina), a ganhar o prêmio.

Quem deveria ganhar: Na verdade, Chloé Zhao não deve ter muita competição. "Nomadland" é um filme único e a Academia reconhece esse tipo de trabalho. Ainda assim, Emerald Fennell corre por fora por "Bela Vingança".

Frances McDormand e a diretora Chloé Zhao nas filmagens de "Nomadland". Crédito: Searchlight Pictures
Frances McDormand e a diretora Chloé Zhao nas filmagens de "Nomadland". Crédito: Searchlight Pictures

MELHOR ATOR

Quem vai ganhar: Tudo indica que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood dará o Oscar póstumo ao saudoso Chadwick Boseman por "A Voz Suprema do Blues". A atuação do eterno Pantera Negra no filme lançado pela Netflix é gigante e o prêmio não seria apenas em virtude da sua morte, por um câncer, em agosto de 2020. 

Quem deveria ganhar: É complicado falar que outro ator mereceria o prêmio no lugar de Chadwick Boseman, mas é um pecado que a atuação de Anthony Hopkins em "Meu Pai" não seja premiada com o Oscar. O veterano ator, premiado por "O Silêncio dos Inocentes" e com um total de seis indicações, seria o favorito em qualquer outra situação. Mas Hopkins é tão elegante que ele será o primeiro a reconhecer que o prêmio para Boseman foi merecido.

Filme
Filme "A Voz Suprema do Blues", da Netflix. Crédito: David Lee/Netflix

MELHOR ATRIZ

Quem vai ganhar: Frances McDormand deve levar seu terceiro Oscar para casa por sua atuação em "Nomadland". Novamente, o filme é construído em cima da entrega dela ao papel de uma mulher que vive em uma van entre uma comunidade de nômades que pulam de um trabalho temporário para outro. Para o papel, ela trabalhou em vários desses empregos, inclusive como empacotadora da Amazon.

Quem deveria ganhar: Em uma categoria com boas concorrentes, a única injustiça talvez fosse Andra Day, que até levou o Globo de Ouro. "Estados Unidos Vs Billie Holiday" não é um bom filme, mas não seria a primeira vez que isso aconteceria, afinal,  Renée Zellweger é atual vencedora pelo péssimo "Judy: Muito Além do Arco-Íris". Se escolher um outro caminho, a Academia pode premiar Carey Mulligan por "Bela Vingança", mas é um estilo de atuação (e de filme) normalmente não muito valorizado pelo Oscar. Mas nunca se esqueça da força de Viola Davis ("A Voz Suprema do Blues").

Frances McDormand em "Nomadland". Crédito: Searchlight Pictures
Frances McDormand em "Nomadland". Crédito: Searchlight Pictures

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Daniel Kaluuya, por "Judas e o Messias Negro" deve levar. É curioso que tanto ele quando seu colega de filme, Lakeith Stanfield, estão indicados na categoria de coadjuvante, mas Stanfield é claramente o protagonista do filme. Kaluuya está ótimo no filme, reproduzindo o carisma e os trejeitos do histórico líder dos Panteras Negras Fred Hampton.

Quem deveria ganhar: Neste ponto a opinião se torna mais pessoal, mas a força da atuação do veterano Paul Raci em "O Som do Silêncio" é impressionante. Raci constrói um personagem forte e afetuoso. É possível sentir sua dor quando tem que lidar com algumas decisões do protagonista. 

Filme
Filme "Judas e o Messias Negro". Crédito: Warner/Divulgação

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Yuhi-Jung Youn, por "Minari", parece ser a escolha mais óbvia. Em um Oscar marcado pela representatividade entre os indicados, a veterana atriz sul-coreana entrega uma atuação divertidíssima e se transforma no coração de um dos filmes mais legais da temporada. 

Quem deveria ganhar: Não tem muita surpresa aqui. Mesmo com nomes como Glenn Close, pelo péssimo "Era Uma Vez um Sonho", no páreo, ninguém deve ou deveria tirar o prêmio de Yuhi-Jung Youn, até porque pode ser o único de "Minari" na noite de domingo. Correndo por fora, a sempre excelente Olivia Colman, por "Meu Pai". Olivia venceu em 2019, pelo ótimo "A Favorita".

Filme
Filme "Minari", indicado ao Oscar 2021. Crédito: Diamond Films/Divulgação

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Quem vai ganhar: É bem provável que seja o único prêmio de "Bela Vingança" na noite. O filme, um dos queridinhos do momento, se encaixa bem na categoria que premiou "Parasita" ano passado. "Bela Vingança" é uma história de vingança nos tempos de #MeToo, mas um filme pop, de fácil consumo, o que deve garantir o prêmio para Emerald Fennell. O filme levou o prêmio no sindicato dos roteiristas também, o que já é um indício.

Quem deveria ganhar: Novamente indo para o campo pessoal, "O Som do Silêncio" seria a minha escolha. O texto de Darius e Abraham Marder é delicado, mas de uma força incrível. A maneira como lida com a deficiência auditiva e nos faz entender como ela funciona é única.

Carey Mulligan em "Bela Vingança". Crédito: Univeral Pictures Brasil
Carey Mulligan em "Bela Vingança". Crédito: Univeral Pictures Brasil

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Quem vai ganhar: Oito dos últimos 10 vencedores de Melhor Filme levaram também o prêmio de roteiro, o que coloca "Nomadland" como favorito aqui. Entre seus concorrentes, "Borat 2" parece improvisado demais e o espetacular "Uma Noite em Miami" se assemelha demais a uma peça de teatro. Sucesso na Netflix, "O Tigre Branco" não tem chances. Mas ainda tem outro filme na disputa...

Quem deveria ganhar: "Meu Pai" seria a minha escolha. Tal qual "Bela Vingança" na categoria acima, pode ser o único prêmio para o filme na noite. Não seria injusto. Florian Zeller dirige o filme a partir da peça que ele mesmo escreveu, mas o texto tem colaboração de Christopher Hampton, veterano roteirista premiado com um Oscar por "Ligações Perigosas". É um espetacular mergulho na mente de um idoso que vem perdendo a conexão com a realidade. Um filme poderoso e emocionante que deixa o público tão perdido quanto seu protagonista. Um espetáculo de texto.

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Olivia Colman e Anthony Hopkins em "Meu Pai". Crédito: Divulgação

MELHOR FILME INTERNACIONAL

Quem vai ganhar: O dinamarquês "Druk - Mais Uma Rodada" é o grande favorito ao prêmio e também o meu favorito. Ajuda o fato de seu diretor, Thomas Vinterberg, estar entre os indicados ao prêmio de Direção. Com uma atuação espetacular de Mads Mikkelsen, que merecia estar indicado, o filme de Vinterberg é uma dramédia sobre um grupo de professores que decidem testar um estudo de que o corpo humano tem uma carência de álcool e, por isso, tentam compensar essa carência diariamente. É interessante como o humor e o desespero se misturam no desenvolvimento do filme.

Quem pode ganhar: Como já disse que "Druk" é também meu favorito, vale ressaltar aqui que o bósnio "Que Vadis, Aida?" pode perfeitamente roubar o posto do filme dinamarquês, mas não será fácil. "Druk" tem um rosto adorado por Hollywood (Mikkelsen) e um diretor renomado, além de ter sido muito mais assistido mundo afora.

Mads Mikkelsen em "Druk - Mais uma rodada". Crédito: Vitrine Filmes/Divulgação
Mads Mikkelsen em "Druk - Mais uma rodada". Crédito: Vitrine Filmes/Divulgação

MELHOR ANIMAÇÃO

Quem vai ganhar: Considero "Soul" um dos melhores filmes de 2020, então é difícil imaginar um mundo em que não o considere favorito aqui. A animação da Pixar é cheia de coração e entregou o tipo de entretenimento que o público procurava em um período tão complicado.

Quem pode ganhar: A única concorrência a "Soul" é a animação irlandesa "Wolfwalkers", que também é bem interessante, mas não conseguiu levar o prêmio nem no BAFTA, que premia o cinema britânico.

Filme
Filme "Soul", da Pixar, disponível no Disney+. Crédito: Disney/Divulgação

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Quem vai ganhar: "Professor Polvo", disponível na Netflix, é a grande aposta no momento. O filme de Pippa Ehrlich e James Reed reúne imagens belíssimas na improvável "amizade" entre um cineasta e um polvo. 

Quem deveria ganhar: "Crip Camp", também disponível na Netflix, conta a história de uma "colônia de férias" para pessoas com deficiência que se transformou em uma grande luta por direitos civis. Um filme acolhedor, com depoimentos divertidos e emocionantes.

Documentário "Professor Polvo", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação
Documentário "Professor Polvo", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

FAVORITOS EM OUTRAS CATEGORIAS:

  • FOTOGRAFIA: A natureza do Oeste americano de "Nomadland" dificilmente será superada, mas há quem aposte em "Mank".
  • FIGURINO:  O figurino "A Voz Suprema do Blues" é impecável e dá o tom do filme.
  • MONTAGEM/EDIÇÃO: "Os 7 de Chicago" tem ótima edição, misturando imagens de arquivo à narrativa e reforçando a força dos acontecimentos.
  • DESIGN DE PRODUÇÃO: "Mank" é o favorito por reconstruir a Hollywood do início do século passado. O responsável, Donald Graham Burt, já levou o prêmio por "O Curioso Caso de Benjamin Button", também de David Fincher.
  • CABELO E MAQUIAGEM: Tal qual em Figurino, "A Voz Suprema do Blues" é o favorito. 
  • EFEITOS VISUAIS: O tão falado "Tenet" é o grande favorito, mas Christopher Nolan com certeza tinha mais ambições para seu projeto.
  • SOM: equivocadamente reunindo as duas categorias antes existentes, Edição de Som e Mixagem de Som, a categoria de Melhor Som deve ficar com "O Som do Silêncio", que tem nele, o som, ou na ausência dele, o protagonista de sua história. 
  • CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO: "Se Algo Acontecer... Eu Te Amo", disponível na Netflix, é bem mais forte que aparenta a princípio. Vale a pena demais conferir.
  • CURTA-METRAGEM LIVE-ACTION: "Dois Estranhos", disponível na Netflix, consegue a façanha de divertir, passar mensagem forte e emocionar em 30 minutos.
  • DOCUMENTÁRIO CURTA-METRAGEM: O favorito é "A Concerto is a Conversation", mas "Colette", sobre uma idosa visitando o campo de concentração no qual seu irmão morreu durante a Segunda Guerra, pode surpreender.
  • TRILHA SONORA ORIGINAL: As chances de Trent Reznor e Atticus Ross levarem aqui são grandes. Eles são os responsáveis pelas trilhas de dois indicados, "Soul" e "Mank". Como a animação da Pixar é justamente um filme sobre um músico, fica com a minha escolha.
  • CANÇÃO ORIGINAL: Muitos apostam em “Io Sì (Seen)”, de "Rosa e Momo", mas minha escolha ainda permanece com a poderosa "Speak Now", de "Uma Noite em Miami", cantada por Leslie Odom Jr., indicado a Melhor Ator Coadjuvante.

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Oscar Rafael Braz

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