Colunista de Famosos

Carlinhos de Jesus: "Quero usar bailarinos de Vitória em DVD"

Recém-curado da Covid-19, coreógrafo coordena direção cênica de festival que deve gravar DVD no Espírito Santo até novembro

Publicado em 07/07/2020 às 07h49
Atualizado em 07/07/2020 às 11h26
O coreógrafo Carlinhos de Jesus
O coreógrafo Carlinhos de Jesus. Crédito: Reprodução/Instagram @carlinhosdejesus

O Brasil de Todos os Ritmos, festival que já deveria ter acontecido em Vitória, teve que ser adiado por tempo indeterminado devido à pandemia do novo coronavírus. Mas a produção do evento continua a todo vapor, via internet, adiantando o que é possível enquanto as regras de isolamento pela Covid-19 não são relaxadas no Espírito Santo.

Mesmo ainda sem data para acontecer, artistas capixabas - Flavinha Mendonça e Michelle Freire - e nacionais selecionados pela direção do happening também participarão da programação do festival com gravação de DVD. O produto musical será filmado em espaço de eventos do Aeroporto de Vitória. Diretor cênico do evento, o coreógrafo Carlinhos de Jesus quer usar talentos do Estado para celebrar o trabalho.

"Eu quero utilizar bailarinos aí de Vitória para o DVD. Certamente há talentos. Eu já tive uma filial de minha academia na Capital com o Andrezinho Castro, que era meu sócio no Espírito Santo", lembra, em bate-papo com a coluna.

Recém-curado do coronavírus, Carlinhos ainda se recupera da doença em casa, ao lado da esposa, mas confidencia como foi o tratamento da Covid-19: "Depois da internação, ainda fiquei uns 20 dias tomando anticoagulante, corticoides, cloroquina logo no início... Antibióticos também. Eu já entrei em um protocolo quando apresentei 39 °C de febre".

Durante a conversa, o coreógrafo ainda deu um panorama da cena artística atual, criticou o trato das autoridades com os setores culturais e adiantou detalhes de sua participação no festival que acontecerá na Ilha.

Qual é, exatamente, sua participação no festival?

Eu estou como diretor cênico de todo o festival. E há uma live que vou fazer às sextas, pela internet. Todo o quadro de diretores do festival faz uma transmissão, em determinado dia, para falar sobre o tema que lhe é sensível. Eu vou falar com artistas sobre performance, interpretação cênica, a naturalidade que é necessária e mais.

Há data para o DVD, que será gravado em Vitória, e para o festival acontecer?

Infelizmente não. O festival já teria acontecido. Mas, com isso tudo, estamos fazendo audições do projeto Novos Brasis (braço do festival que descobre e divulga talentos) pela internet. Sobre a gravação do DVD, pensamos que pode ser em agosto. Mas tudo isso depende muito da circunstância, da liberação de eventos com aglomeração de pessoas... Se não for para agosto, deve ser setembro. Mas até novembro pretendemos estar com isso feito.

Diante desse material que estão recebendo, da nova safra de artistas, consegue fazer um panorama de como está a classe?

Fico impressionado em como temos talentos. Se você ver a maturidade dos artistas que têm se apresentado, fica difícil, realmente, até você selecionar. São muito talentosos, muito competentes. Com uma lapidada nossa, vão ficar ainda melhores, que é a isso que o festival se propõe. Por meio de workshops, bate-papos, eles vão aprender desde administração de carreira até divulgação, como tudo funciona.

Você observa algo que falte ou que sobre nessa geração?

O que a gente percebe hoje, na minha visão, é que a internet traz muitas ferramentes. Para um cantor, por exemplo, a internet traz performance, coreografia, desenvolvimento no palco... E experiência de palco é o que mais deixa a desejar. E é fundamental. Porque cantar no banheiro, em casa, em uma câmera, é mais simples. Mas mostrar para a gente em um palco, é diferente. Percebo que há muita inibição no palco ainda.

E é algo que é simples de resolver?

Posso dizer que em grande parte, ou em quase a totalidade, dos artistas percebo isso. Então, já tenho uma psicologia para lidar. A gente lida com emoção. Sou artista, eu vou para o palco. E eu sei que, se eu chegar ao palco e acontecer algo antes inesperado, aquilo vai me abalar.

Carlinhos de Jesus

Coreógrafo

"A gente vive da emoção e do sentimento"
O coreógrafo Carlinhos de Jesus
O coreógrafo Carlinhos de Jesus. Crédito: Reprodução/Instagram @carlinhosdejesus

Na arte independente e na dança, outro braço cultural, também existem essas lacunas?

Sim. Essas pessoas que não têm gravadora, empresário, é o próprio cara que faz, a mãe é assessora, o pai é empresário... Eles têm que se preparar. Então, o trabalho que tem que existir é de preparo desses artistas. O festival, que é o primeiro de música brasileira para artistas independentes, tem workshop para tudo isso. Quando você vai ver, alguns independentes têm muito menos oportunidades e são verdadeiros talentos, muito mais do que artistas produzidos.

E sobre a dança...

Nossa intenção é que, em um próximo festival, a gente consiga incluir a dança, como categoria exclusiva, para fazermos audições para esse segmento. Por que não envolver outros artistas? A ideia tem que ser sempre expandir. Possibilitar a descoberta desses talentos. Você encontra grandes artistas, só não estão lapidados. Por falta de conhecimento e oportunidade.

Você já teve negócios no Espírito Santo, certo?

Sim, já tive uma filial da minha academia aí, em Vitória, com o Andrezinho Castro, que era meu sócio aí no Espírito Santo.

E o Estado tem talentos?

Sim, certamente. Eu quero utilizar bailarinos de Vitória para o DVD, certamente. E eu tenho um talento que mora aí em Vila Velha. É meu primo, o Pedro Salgado. Primo da minha mãe, meu primo de segundo grau. É um talento incrível, mas não o vejo há muitos anos. Os artistas que encontrei no Espírito Santo foram muito da dança... O pessoal do samba, quando desfilei na Jucutuquara. Agora, estou mais em contato com a Flavinha Mendonça e Michelle Freire que vão participar do DVD.

A Cultura, no geral, vem de episódios de instabilidade há muitos anos e, ao que parece, reerguer (ou tentar) o setor é sempre uma tarefa muito complexa. A dança segue esse ritmo lento, sobretudo em meio à pandemia?

Sim, (um ritmo) muito mal. A nossa atividade é emoção, sentimento, cor, luz, som... E isso você não vê de uma forma que não seja presencial. Eu vou assistir ao show de um cantor e eu analiso do repertório ao brilho no olho dele, quero que ele me emocione. A gente minimiza grande parte disso com a internet. Mas a coreografia, por exemplo, não permite uma live como a música permite.

O governo já aprovou a Lei Aldir Blanc, que prevê o auxílio de R$ 600 por três meses para artistas, editais e chamamentos públicos. Na dança, um aporte desse será suficiente?

Fico muito temeroso quando o Brasil começa com essas coisas que são diferentes. A gente não ouve: 'Lá na América aconteceu isso'. A coisa acontece (lá) e não existem as tramoias, roubalheiras. Aqui no Brasil, demoram para decidir, fazem restrições e, como tudo, fazem o desvio. Do desvio vem, também, a desonestidade das pessoas que enfrentam filas para tirarem (lugar) de quem realmente precisa. É muito complicado.

E tem solução?

Acho que precisamos de um rigor maior nas leis e no cumprimento das leis. Não flexibilizar. Quando um funcionário público rouba, não tem razão, não existe habeas corpus, não existe nada. É a lei.

Carlinhos de Jesus

Coreógrafo

"É uma obrigação do governo favorecer, atender e cuidar do seu povo e dos seus artistas. Contribuição é bem-vinda, mas o Brasil tem que enxugar a máquina burocrática "

E como está sua recuperação do novo coronavírus?

Ainda não estou 100% (risos). Me canso, acho que ainda preciso de uma fisioterapia... Quando eu falo muito, fico ofegante. Mas já soube que é 'natural'. Eu e minha esposa tivemos alta. Depois da internação, ainda fiquei uns 20 dias tomando uma medicação. Anticoagulante, corticoides, cloroquina logo no início, antibióticos também. Eu já entrei com um protocolo quando cai nos 39ºC de febre e a gente nem sabia que era Covid-19 ainda.

Como foram os sintomas?

Eu tinha certeza que era coronavírus pelo que senti. Nunca estive mal dessa forma, nunca tinha sentido algo tão ruim. Perdi paladar, olfato, tive febre, prostração incrível. Pedro, a gente não aguentava levantar da cama para ir ao banheiro. Emagrecemos assustadoramente. Na quinta colher de sopa, enquanto estivemos doentes, já não queríamos mais comer nada.

Fora os cuidados com a recuperação da Covid-19, o que tem feito isolado?

Estou com o festival e com alguns projetos na minha companhia. Vamos fazer um espetáculo de um grande intérprete e compositor brasileiro, que eu não posso citar ainda, mas tive que parar, porque esse tem que ser presencial. Como o artista tem que ver o caminho que estamos seguindo, e a gente não pode encontrar com ele porque ele é do grupo de risco, então tivemos que interromper. Aí continuo com essa parte visual do festival pela internet.

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