É médico, psiquiatra, psicanalista, escritor, jornalista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo. E derradeiro torcedor do América do Rio. Escreve às terças

Viva o simpósio, viva a lembrança... viva Carmélia!

Há décadas não nos víamos, Carmélia em espírito e outros maravilhosos fantasmas passaram por lá. Miramos o tempo. Como sabem, o presente não existe. É uma transição imperceptível. Passado e futuro, ou vai vir ou passou

Publicado em 08/07/2025 às 03h00

“Também acho que devemos melhorar o mundo, mas, para começar, vamos tentar urinar no vaso sem molhar a tampa”.

Mantenho essa convicção na parede azulejada do banheiro de meu consultório já faz tempo. O mundo não muda, nem eu.

Para onde a senhora olhar vai se deparar com alguém impregnado de poder posando de artista. A maioria não serve para nada.

As pseudos direita e esquerda são apenas rimas, nada mais que rimas (há sempre as honrosas exceções de um lado e do outro), principalmente no centro. A realidade tem mais a ver com estar em cima ou embaixo ou em lugar nenhum.

É muito bom lembrar que para cada lei tem outra exatamente igual e em sentido contrário, o que torna qualquer decisão de fato possível, por definição.

Os escândalos dos escândalos, sejam lá quais forem, vão ficando invisíveis e inaudíveis e fica tudo por isso mesmo. Ou piora, como o caso da renitente roubalheira no atual INSS.

Além das centenas de siglas que o bravo povo tupiniquim engole sem saber o que significa — a senhora sabe? — todas repletas de estranhos mistérios.

Mudando de conversa.

Ainda bem que o passado está no futuro.

Outro dia, reunimo-nos para um café, no meio da maior alegria que só existe em reencontros, Erildo dos Anjos, Rui Dias e eu, amigos de anos que não acabam mais. A memória decide sobre a felicidade. A solidão apavora e aprisiona a atualização das lembranças.

Acabo de lembrar que meu amigo e professor de psicanálise, Júlio de Mello, citava sempre a importância que Freud deu à gratidão, que é o sentimento mais completo que pode vir da alma de um ser humano. A ausência é insuportável. Amar o próximo é a única política com dignidade concedida a todos nós por Deus. Tudo que havia naquele momento.

Conversamos horas, atualizando, misturando, rindo e lacrimejando. A cumplicidade compareceu.

Carmélia M. de Souza também baixou o santo lá, que bom, que saudade. "Viva o simpósio", gritava ela com bom humor incentivando o primeiro grande evento a pensar o Espírito Santo. Muita coisa deu certo. O nosso encontro, por exemplo.

Carmélia Maria de Souza - Personalidades Negras do ES
Carmélia Maria de Souza . Crédito: Arte/Geraldo Neto

Há décadas não nos víamos, Carmélia em espírito e outros maravilhosos fantasmas passaram por lá. Miramos o tempo. Como sabem, o presente não existe. É uma transição imperceptível. Passado e futuro, ou vai vir ou passou.

A realidade estava escondida no impecável café que curtimos, e o tempo não se pode medir.

Que bom…

Dorian Gray, meu cão vira-lata, não falou, mas prestou atenção.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Crônica

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.