“Também acho que devemos melhorar o mundo, mas, para começar, vamos tentar urinar no vaso sem molhar a tampa”.
Mantenho essa convicção na parede azulejada do banheiro de meu consultório já faz tempo. O mundo não muda, nem eu.
Para onde a senhora olhar vai se deparar com alguém impregnado de poder posando de artista. A maioria não serve para nada.
As pseudos direita e esquerda são apenas rimas, nada mais que rimas (há sempre as honrosas exceções de um lado e do outro), principalmente no centro. A realidade tem mais a ver com estar em cima ou embaixo ou em lugar nenhum.
É muito bom lembrar que para cada lei tem outra exatamente igual e em sentido contrário, o que torna qualquer decisão de fato possível, por definição.
Os escândalos dos escândalos, sejam lá quais forem, vão ficando invisíveis e inaudíveis e fica tudo por isso mesmo. Ou piora, como o caso da renitente roubalheira no atual INSS.
Além das centenas de siglas que o bravo povo tupiniquim engole sem saber o que significa — a senhora sabe? — todas repletas de estranhos mistérios.
Mudando de conversa.
Ainda bem que o passado está no futuro.
Outro dia, reunimo-nos para um café, no meio da maior alegria que só existe em reencontros, Erildo dos Anjos, Rui Dias e eu, amigos de anos que não acabam mais. A memória decide sobre a felicidade. A solidão apavora e aprisiona a atualização das lembranças.
Acabo de lembrar que meu amigo e professor de psicanálise, Júlio de Mello, citava sempre a importância que Freud deu à gratidão, que é o sentimento mais completo que pode vir da alma de um ser humano. A ausência é insuportável. Amar o próximo é a única política com dignidade concedida a todos nós por Deus. Tudo que havia naquele momento.
Conversamos horas, atualizando, misturando, rindo e lacrimejando. A cumplicidade compareceu.
Carmélia M. de Souza também baixou o santo lá, que bom, que saudade. "Viva o simpósio", gritava ela com bom humor incentivando o primeiro grande evento a pensar o Espírito Santo. Muita coisa deu certo. O nosso encontro, por exemplo.
Há décadas não nos víamos, Carmélia em espírito e outros maravilhosos fantasmas passaram por lá. Miramos o tempo. Como sabem, o presente não existe. É uma transição imperceptível. Passado e futuro, ou vai vir ou passou.
A realidade estava escondida no impecável café que curtimos, e o tempo não se pode medir.
Que bom…
Dorian Gray, meu cão vira-lata, não falou, mas prestou atenção.
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