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Imóveis supercompactos: apenas para ‘short stay’?

O foco aparente desses lançamentos tem sido, predominantemente, para investidores que buscam gerar renda com locação de curta duração, mas o potencial é muito mais amplo

Vitória
Publicado em 01/12/2025 às 18h31
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Os imóveis supercompactos representam uma resposta contemporânea ao novo estilo de vida das antigas e novas gerações. Crédito: Shutterstock

Nos últimos meses, temos observado um aumento significativo na oferta de imóveis supercompactos – apartamentos studios e de 1 quarto, com áreas privativas entre 25m² e 39m², no mercado imobiliário do Espírito Santo. Essa tipologia de imóveis, que há pouco tempo era vista com certa reserva, ganhou força e hoje figura entre os lançamentos mais frequentes nas principais capitais do país.

O foco aparente desses lançamentos tem sido, predominantemente, para investidores que buscam gerar renda com locação de curta duração, o conhecido "short stay". Em um cenário onde plataformas digitais de hospedagem transformaram o modo como as pessoas viajam, há um forte apelo por investir em imóveis pequenos, bem localizados, de alta liquidez e com gestão facilitada.

Mas será que a demanda por supercompactos se restringe apenas à locação para “short stay”?

Em um país onde, segundo o IBGE, 18,94% dos domicílios são ocupados por um único morador e 20,22% por cônjuges sem filhos, esses números, por si só, já desafiam a ideia de que a procura por imóveis supercompactos se restringe ao universo da locação Short Stay.

Além disso, é importante observar que hoje há quatro gerações de consumidores ativos no mercado imobiliário - dos baby boomers à geração Z -, cada uma com suas motivações e estilos de vida. Entre os mais jovens, especialmente millennials e geração Z, que estão cada vez mais ativos na aquisição de imóveis, há um comportamento de consumo que valoriza a experiência, a praticidade e a mobilidade. Buscam a vida nos centros urbanos, gostam de morar próximos ao trabalho, em uma região com grande oferta de serviços e entretenimento, adotam uma cultura de compartilhamento, com menor apego à posse material excessiva.

Em paralelo, os baby boomers vêm adotando o chamado downsizing - a decisão consciente de trocar imóveis grandes, que exigem mais manutenção, e que muitas vezes estão ocupados apenas pelo cônjuge, por unidades menores e bem localizadas, sem abrir mão do conforto e da qualidade de vida.

Nesse contexto, o potencial de demanda para imóveis supercompactos é, na verdade, muito mais amplo do que se costuma supor. O público investidor é importante, claro, mas não deve ser visto como o único protagonista dessa tendência. Há um contingente crescente de consumidores dispostos a morar em espaços menores, desde que bem planejados, com soluções funcionais integradas às áreas comuns, que ampliem a experiência de moradia.

Talvez esse seja o momento de reavaliarmos os fundamentos que servem como premissa para o desenvolvimento desses produtos imobiliários. A lógica de projetar empreendimento com unidades supercompactas exclusivamente para o “Short Stay” pode ser limitadora diante das transformações no perfil de consumo dos compradores.

Mais do que atender investidores em busca de rentabilidade, o desafio está em criar produtos que conciliem os interesses de quem investe com os desejos de quem pretende viver nesses espaços - pessoas que enxergam nos compactos uma oportunidade de realizar o sonho da moradia própria, com praticidade, mobilidade e propósito.

Os imóveis supercompactos representam uma resposta contemporânea ao novo estilo de vida das antigas e novas gerações. E quanto mais o mercado compreender que o “Short Stay” é apenas um dos caminhos desse movimento - e não o seu destino exclusivo - maiores serão as chances de desenvolver empreendimentos que realmente traduzam os valores e necessidades da vida urbana moderna.

Fabiano Martins é diretor da Ademi-ES
Fabiano Martins: "O público investidor é importante, mas não deve ser visto como o único protagonista dessa tendência". Crédito: Divulgação

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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