Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

Prêmio Nobel e imigração: quando o talento cruza fronteiras

A história dos prêmios Nobel mostra que o conhecimento floresce onde há liberdade e oportunidades — e que a imigração é motor da inovação científica

Publicado em 23/10/2025 às 03h00

Em 10 de outubro agora, foi anunciado o Prêmio Nobel da Paz, concedido a Maria Corina Machado, líder oposicionista que luta contra a ditadura venezuelana, que fraudou as últimas eleições. Ela mora há mais de um ano escondida na Venezuela, longe dos familiares e perseguida por Maduro. Dias antes, o prêmio Nobel de Química foi concedido a três cientistas que desenvolveram pesquisas em estruturas metal-orgânicas (MOFs na sigla em inglês) que podem ter utilidades diversas em indústria e pesquisa. Dois dos três premiados moravam fora do país onde nasceram. Richard Robson nasceu no Reino Unido, mas hoje trabalha na Austrália e Omar Yaghi, o primeiro jordaniano a ganhar um Nobel em Ciências, hoje é cidadão americano.

Curiosamente, dois dos três físicos que dividiram o Nobel de Física são também imigrantes. Michel Devoret nasceu na França e John Clarke no Reino Unido. Ambos hoje residem e trabalham nos EUA. Pois a revista Nature publicou uma interessante investigação mostrando que, entre os 202 cientistas laureados em Medicina, Física e Química, neste século, menos de 70% nasceram no país onde trabalham ao serem premiados. Os restantes 63 cruzaram fronteiras, saindo do país onde nasceram e eram imigrantes quando laureados.

María Corina Machado ganhou o Nobel da Paz
María Corina Machado ganhou o Nobel da Paz. Crédito: Reprodução/Instagram mariacorinamachado

Cientistas ilustres muitas vezes eram imigrantes. Albert Einstein nasceu na Alemanha, fugiu do nazismo, inicialmente para a Suíça e depois para os EUA (ele era judeu). Marie Curie, primeira e única pessoa a receber o Nobel de Ciências duas vezes (em Física em 1903 e em Química em 1911, por seus estudos com radioatividade), nasceu na Polônia e mudou-se para a França.

Por que isso ocorre? Porque talentos podem surgir em qualquer lugar do planeta, mas as oportunidades são diversas, não são iguais em todos os lugares. Andre Geim, que ganhou o Nobel de Física com outro colega pela descoberta do grafeno, nasceu na Rússia e trabalhou no próprio país, depois na Dinamarca, na Holanda e finalmente em Manchester, na Inglaterra, quando foi premiado.

Entre os 63 cientistas imigrantes laureados nesse século, 41 trabalhavam nos Estados Unidos da América quando foram premiados. Especialmente após a segunda guerra, os EUA se tornaram um destacado centro global de pesquisa, verdadeiro ímã para cérebros de todo o mundo.

Em segundo lugar, o Reino Unido atraiu sete cientistas ganhadores do prêmio Nobel nesse século que saíram de seus países originais. Entre as categorias de Ciência, a Física teve a maior proporção de premiados imigrantes (37%), seguido pela Química (33%) e finalmente pela Medicina (23%). A liderança da Física reflete provavelmente o impacto maior de tecnologia de ponta nas nações mais ricas para atrair cérebros.

É interessante refletir quais consequências que a atual política americana de perseguição a imigrantes e cortes vigorosos nos “grants” de pesquisa universitária, com guerra mesmo às universidades de ponta nos EUA, vai ter na atração desses cérebros. Para algum lugar vão migrar as mentes privilegiados em busca de condições de trabalho e pesquisa, livres de interferências exóticas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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