Publicado em 23 de agosto de 2023 às 10:00
- Atualizado há 2 anos
Pesquisa realizada pelo Fipe Zap divulgada neste mês aponta Vitória como a capital com maior preço por metro quadrado entre as capitais do país e terceiro lugar geral entre as cidades avaliadas. >
Com o preço médio do metro quadrado residencial em 10.549 reais, Vitória está à frente de capitais que vinham ocupando esta posição em anos anteriores, como São Paulo (10.483), Rio de Janeiro (9.926) e Brasília (8.814). No ranking geral, a capital do Espírito Santo está atrás apenas de Balneário Camboriú (12.335) e Itapema (11.717), ambas cidades do litoral catarinense. >
Elencamos três razões para Vitória ser a capital com maior preço de metro quadrado do país: >
A indústria imobiliária tem por matéria prima a terra e esta, por sua vez, não é reciclável. Para que uma cidade atenda a demanda por moradias e atividades comerciais e de serviço, novas áreas de expansão são requeridas. A ocupação destas áreas proporciona o crescimento das cidades. >
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A maioria das cidades possui um ou mais vetores naturais de crescimento. Vitória é uma ilha acrescida de uma faixa continental e cercada, ao norte, por Serra; ao sudoeste, por Cariacica; e ao sul, por Vila Velha. Esta peculiaridade da capital capixaba, por si só, compromete suas possibilidades de expansão territorial. Não bastasse isso, boa parte da ilha é tomada pelo seu maciço central, uma faixa de montanha que se estende de uma ponta a outra em sentido latitudinal. Em síntese: Vitória não tem para onde crescer de forma óbvia. >
Em décadas passadas, os vetores de crescimento de Vitória apontaram rumo a região norte. Assim desenvolveu-se a região da Praia do Canto e os bairros da orla de Camburi (Jardim da Penha, Mata da Praia e Jardim Camburi), especialmente a partir da década de 80. Hoje, entretanto, são poucos os terrenos disponíveis para incorporação nestes bairros. Sem reposição, os imóveis, tanto os lançamentos, como os prontos, tem seus preços majorados. >
O Plano Diretor Urbano (PDU) é o instrumento que o poder público municipal possui para disciplinar o uso e ocupação do solo de uma cidade. Através dele, as prefeituras podem não apenas induzir ou afugentar atividades em determinadas regiões, mas determinar quais atividades podem ou não ser implementadas. >
Há um legítimo conflito entre os interesses de seus moradores ou entre estes e a municipalidade em relação às áreas em que a construção de novos empreendimentos deve ser estimulada ou restringida, mas o fato é que, sob o argumento de que o adensamento é algo negativo, os índices construtivos nos bairros da capital vêm sendo reduzidos a cada nova revisão do Plano Diretor. >
Como consequência, os novos empreendimentos são inviabilizados ou, para se viabilizarem, precisam atingir preços cada vez mais altos. >
O mercado imobiliário de Vitória, até mesmo em função do seu tamanho e das características que nortearam o seu desenvolvimento, atingiu uma maturidade bastante saudável. O que significa isto? Significa que as decisões dos atores envolvidos nos negócios (empresários, profissionais e compradores) são tomadas com elevado nível de consciência. >
Os empresários analisam com cautela os dados de mercado para definir tipologia, preço e atributos dos empreendimentos a fim de nortear suas decisões de empreender. Além disso, como os bons terrenos hoje na capital são escassos, o volume de lançamentos é baixo, logo, a assertividade é maior. >
Os compradores, por sua vez, são exigentes em relação à demanda por novidades e tendências, à qualidade do produto e à transparência em relação ao processo de negociação. Isto faz com que os profissionais (corretores) e empresas imobiliárias também se qualifiquem para atender com eficiência os seus clientes (incorporadores e compradores). >
Esta maturidade nas relações e decisões evita o “efeito manada” por parte dos empresários na quantidade, localização e tipologia dos lançamentos, bem como reduz as decisões de compra impulsivas por parte dos clientes, levando à arrependimentos futuros e ao consequente aumento de distratos. Com a oferta sempre alinhada à demanda, o mercado torna-se mais previsível e equilibrado: a curva de valorização é mais acentuada nos períodos de expansão e os preços são mais resilientes nos períodos de crise. >
Diante deste fato, uma pergunta se impõe: ser a capital com o preço por metro quadrado mais alto do país é bom ou ruim? Claro que um mercado imobiliário pujante e saudável aumenta a riqueza da sua população e isto é bom. Todavia, pode haver um efeito colateral neste processo que requer atenção: os preços de venda dos imóveis refletem diretamente no preço dos alugueis. Morar torna-se mais caro. Este fenômeno leva a uma transferência de parte dos moradores para cidades vizinhas onde os custos são mais baixos. Um certo equilíbrio neste movimento é necessário, pois, é na diversidade de pessoas e na multiplicidade de interações que está a verdadeira riqueza de uma cidade. >
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