Jornalista de A Gazeta há 10 anos, está à frente da editoria de Esportes desde 2016. Como colunista, traz os bastidores e as análises dos principais acontecimentos esportivos no Espírito Santo e no Brasil

Revezar jogadores funciona ou rodízio bom é só na churrascaria?

Jorge Sampaoli e Domènec Torrent gostam de utilizar essa estratégia. Já Jorge Jesus prefere manter sempre o mesmo time. Há exemplos de técnicos vencedores dos dois lados. Qual é a sua opção?

Publicado em 16/09/2020 às 06h00
Everton Ribeiro e Arrascaeta não iniciaram todos os jogos do Flamengo no Brasileirão
Everton Ribeiro e Arrascaeta não iniciaram todos os jogos do Flamengo no Brasileirão. Crédito: Alexandre Vidal/Flamengo

Estratégia muito utilizada por alguns técnicos, mas que ainda continua dando o que falar, o rodízio de jogadores é visto como necessário por alguns e também é odiado por outros. Muito comum no futebol europeu, a tática é sempre acompanhada de uma certa dose de desconfiança no Brasil. Por isso, Jorge Sampaoli, técnico do Atlético-MG, e Domènec Torrent, treinador do Flamengo, por exemplo, vivem sendo questionados por suas escolhas.

Dome recebe críticas no Flamengo, também pelo fato de seu antecessor no comando rubro-negro, Jorge Jesus, pensar de forma diferente. E como ele foi campeão do Brasileirão e da Libertadores, sem fazer rodízio, ganhou ainda mais moral para defender seu ponto de vista. Mas afinal de contas: rodízio é bom mesmo, ou melhor deixar esse assunto para a churrascaria?

Um dos melhores técnicos do mundo e que já deixou seu nome na história do futebol, Pep Guardiola, atualmente no comando do Manchester City, revelou seu pensamento no livro “Guardiola Confidencial”, escrito pelo o jornalista Martí Perarnau, que acompanhou o treinador de perto ao longo de uma temporada no  Bayern de Munique. Tudo fica muito claro no relato do preparador físico Lorenzo Buenaventura.

“Como todos os times grandes, o Bayern joga uma partida a cada três dias, e isso influi demais no planejamento da preparação. Estudos médicos feitos na Itália demonstram que a recuperação após cada partida depende da alimentação do atleta. Assim, no terceiro dia após o jogo, quando se alimentou bem, o jogador recuperou 80 por cento do glicogênio dos músculos. Somente 80 por cento! Imagine se ele se alimentou mal… E depois de quatro jogos consecutivos em ciclos de três dias, o risco de lesão aumenta 60 por cento”, pontua na página 54 do livro.

Discípulo de Guardiola, Dome não poderia pensar futebol de uma maneira diferente. Por isso já tomou decisões que foram duramente criticadas aqui no Brasil. Como não escalar Gabigol de titular contra o Fortaleza, não relacionar Arrascaeta para uma partida ou deixar Everton Ribeiro no banco. Decisões que se justificam visto que o naturalmente sufocante calendário do futebol brasileiro ainda está mais espremido devido à longa paralisação provocada pela pandemia do novo coronavírus.

O Palmeiras foi campeão do Brasileirão 2018 em uma temporada que Felipão apostou no rodízio de jogadores
O Palmeiras foi campeão do Brasileirão 2018 em uma temporada que Felipão apostou no rodízio de jogadores. Crédito: Lucas Figueiredo/CBF

Para o torcedor, a discussão quase sempre fica atrelada ao resultado. Quando perde, não poderia ter poupado e o técnico errou. Quando vence, ninguém reclama. Caso que aconteceu com Sampaoli na última rodada do Campeonato Brasileiro quando o Atlético-MG venceu o Bragantino mesmo ao poupar alguns atletas. Se tivesse perdido, a situação seria bem diferente. Vale lembrar que Sampaoli, que comandou o Santos na temporada passada, já praticava o rodízio no clube paulista. Não deveria ser nenhuma surpresa ver o técnico argentino seguir suas convicções no novo clube.

Sampaoli e Dome compartilham muito esse pensamento devido a suas passagens pelo futebol europeu, onde praticamente todas as equipes fazem isso. De certa forma até de modo mais agressivo. Os grandes clubes escalam praticamente um time todo formado por reservas nas competições secundárias como copas nacionais e até mesmo em algumas rodadas das ligas nacionais. Um pouco disto foi visto no Palmeiras comandado por Luiz Felipe Scolari, que conquistou o Brasileirão 2018. Ao longo da temporada, os times do Campeonato Brasileiro, da Libertadores e da Copa do Brasil eram bem diferentes. Na competição continental, o Verdão acabou eliminado na semifinal pelo Boca Juniors.

QUANTOS JOGADORES DEVEM SER POUPADOS? 

A forma como o rodízio é realizado é que dá o tom do acerto ou do erro. Não existe uma receita de bolo definida. Na derrota do Flamengo para o Ceará, em jogo válido pela 10ª rodada do Brasileirão, Dome errou, em minha opinião, ao poupar Rodrigo Caio e apostar na dupla de zaga com Léo Pereira e Gustavo Henrique, que mal jogaram juntos. Em um sistema defensivo que já estava sem seu lateral-esquerdo titular Filipe Luís, e com um lateral-direito que ainda recém-chegado ao clube. Todo o setor ficou comprometido. Erro de rodízio.

O desafio para os treinadores é montar um time competitivo que considere os desfalques por cartões, por lesões e que ainda preserve jogadores desgastados fisicamente. O que é extremamente complicado já que com jogos a cada três dias sobra pouquíssimo tempo para treinos. É possível ter rodízio e obter resultado. Uma missão que pode ser mais acessível a clubes com elenco mais qualificado como Flamengo e Palmeiras. Para aqueles com “cobertor curto”, maioria dos times do Brasileirão, algo mais complicado e que certamente vai cobrar caro, como cobrou do Vasco, que sem Benitez, perdeu para o Atlético-GO, em casa.

Campeão do Brasileirão 2018 com o Palmeiras, praticando rodízio, Felipão projetou 2019 com a mesma estratégia. "Vamos modificar sempre cinco, seis, sete, oito jogadores para não ter uma sobrecarga, como agora no fim do ano (2018), de jogadores com quase 70 jogos. Vamos mudar um pouquinho, e mudar a forma de como os jogadores de uma equipe grande se comporta. Não existirão 11 (titulares), existirão, 25, 27, 28. E a partir daí formaremos um grupo", afirmou em entrevista à TV Palmeiras na época.

MELHOR NO CHURRASCO

Jorge Jesus, Técnico do Flamengo
Jorge Jesus não adotou rodízio de jogadores quando comandou o Flamengo. Crédito: Marcelo Cortes/Flamengo

Se em 2018 deu certo, em 2019 Felipão acabou demitido em setembro, e sem os resultados esperados. Muito disso graças a Jorge Jesus, que com uma filosofia completamente diferente à frente do Flamengo, faturou Libertadores e Brasileirão, este com sobras. “Minha cultura não é essa (de poupar). E os jogadores provam domingo a domingo. Descansar? Isso não existe. Vamos descansar nos dias que temos. Quinta, sexta, sábado… Domingo é para correr. Se tivermos jogadores com sinais de lesão, é outra coisa”, bradou o Mister em entrevista coletiva ao ser questionado se preservaria jogadores para o jogo decisivo contra o Grêmio pela Libertadores. Jogo este que o Fla atropelou o time gaúcho com um humilhante 5 a 0.

O futebol é um esporte encantador justamente por não apresentar uma fórmula mágica que leva à consagração.Jogos e campeonatos podem ser vencidos de diferentes formas, inclusive com ou sem rodízio. Seja qual estratégia for escolhida, que seja executada com competência. Cada um escolhe se prefere rodízio dentro de campo, ou se deixa para a churrascaria.

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