Pós-doutora em Saúde Coletiva (UFRJ), doutora em Bioética (UnB), mestre em Direito (FDV) e coordenadora do doutorado em Direito da FDV

Hora de unir e reconstruir um Brasil de paz, esperança e justiça

É hora de, sem medo, com coragem e fé, iniciarmos a reconstrução de um país arrasado pela destruição de valores e pela destruição ambiental. Um país adoecido de afetos, armado, instigado a um agir violento e intolerante

Publicado em 01/11/2022 às 00h15
Bandeira do Brasil
Bandeira do Brasil. Crédito: Pixabay

O dia amanheceu carregado de luzes e de esperança!

Penso que ainda não temos a real dimensão do tamanho da vitória que alcançamos depois de muita luta e sofrimento.

Não é a vitória de Lula, de um partido ou de um programa de governo. É a vitória da democracia, da paz, da solidariedade, do amor e da justiça. É a vitória da esperança que se coloca como condição necessária para a construção do futuro.

É a vitória do povo que se alegra com pequenas coisas, como comida no prato, moradia, saúde e educação. As pessoas não almejam muito, até porque foram acostumadas a viver com quase nada.

É a vitória do povo, das mulheres em especial, que sentem, como ninguém, a dor de ver a fome e a morte dos filhos, patrocinada pela ganância acumulativa de poucos, muitos poucos, que não se contentam apenas em ter tudo, mas que querem ver a miséria do pobre, do negro, de uma grande massas de excluídos, que compreendem como necessária para que possam continuar a gozar de seus históricos privilégios.

É a vitória da democracia e dos democratas que não aceitam o processo de desinstitucionalização e de violação da Constituição em seus princípios basilares de justiça, solidariedade social e igualdade. A democracia não aceita ser ameaçada por arroubos de ditadura.

É a vitória de todos que entendem que os órgãos do Sistema de Justiça, STF, STJ, Procuradoria Geral de Justiça, Ministério Público, Defensoria Pública e todas as demais instituições que compõe a estrutura do Estado Democrático de Direito, apesar dos desvios de finalidade de alguns de seus membros, são essenciais ao alcance da justiça.

A defesa inconteste e radical da democracia precisaria ser um sentimento compartilhado por todos que viveram as dores e os horrores da ditadura ou que dela souberam por meio dos registros históricos ou por meio de suas racionalidades, capacidade de avaliar o contexto e o mundo ao seu redor.

Ignorar os riscos dos regimes autoritários que desconsideram a importância, por exemplo, de uma Suprema Corte, é inadmissível em alguém que conheça minimamente a Constituição e seja capaz de fazer análises de conjuntura e da história. O Estado anárquico não é o mesmo que o Estado autoritário, mas é o caminho mais fácil para que cheguemos nele.

Contra os ataques à democracia, somente a vigilância permanente de uma sociedade que se impõe soberana na defesa do Estado e de suas instituições. Os sindicatos, espaços essenciais na formação democrática e na luta por direitos, precisam ser valorizados. O desmonte deles, projeto vitorioso do ultraneoliberalismo, foi um passo importante para que chegássemos a essa situação de risco democrático na qual nos vimos envolvidos.

As associações profissionais, a academia, os órgãos de controle social e todos os outros espaços de debate, de reflexão e emancipação precisam de nossa energia e nossa participação.

A vitória não é uma momento de alegria pela conquista nas urnas. Ela é uma construção cotidiana que demanda esforço, união e busca pela paz.

Agora é hora de nos unirmos, nos reaproximando daqueles dos quais estivemos distantes nesses momentos de polarização. Não é hora de tripudiar os que estão de luto. Alguns deles, muitos certamente, são pessoas que, como nós, desejam viver em paz e são defensores das mesmas coisas que nós.

Por motivos diversos, incompreensíveis para nós, certamente, optaram por caminhos diferentes dos nossos. Não posso acreditar que todos sejam pessoas sem caráter ou desprezíveis. Muitos são homens e mulheres sérios e comprometidos com as mesmas coisas que nós, mas que se viram envolvidos em uma teia de fortes laços emocionais, religiosos e políticos da qual não conseguiram se desvencilhar ou ter os espaços de reflexão que lhes permitisse enxergar a verdade.

Claro que não estou aqui defendendo ou me referindo àqueles, dentre eles líderes religiosos, que comandaram uma verdadeira cruzada religiosa voltada para a implantação de um Estado teocrático no qual seus projetos de poder ou de interesses pessoais e institucionais econômicos, políticos e eclesiásticos os levaram a defender o indefensável, conduzindo seus “rebanhos”, fiéis desavisados, rumo a uma das piores tragédias que poderíamos assistir, com os púlpitos, lugar de adoração a Deus, sendo entregues à adoração de falsos deuses.

É hora de nos reunirmos de novo com os amigos, com aqueles com os quais compartilhamos fé e crenças por tanto tempo. É hora de retomarmos um diálogo interrompido por fomento externo, alheio aos nossos desejos. É hora de nos reaproximarmos com ouvidos dispostos a de fato ouvir e compreender.

É hora de, sem medo, com coragem e fé, iniciarmos a reconstrução de um país arrasado pela destruição de valores e pela destruição ambiental. Um país adoecido de afetos, armado, instigado a um agir violento e intolerante.

É hora de reconstruirmos a nação a partir da reconstrução de nosso pequeno universo na família, no trabalho, na igreja e na sociedade.

É hora de comemorarmos a vitória da esperança, da paz, do amor, da justiça e do futuro.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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