É engenheiro ambiental, sócio da Maker Sustentabilidade

As cidades-esponja e o futuro do urbanismo sustentável

Conceito criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu inspira soluções que usam a natureza para proteger áreas urbanas dos efeitos das chuvas e das mudanças climáticas

Vitória
Publicado em 30/10/2025 às 03h30

Em 23 de setembro, morreu num acidente aéreo no Pantanal de Mato Grosso do Sul o arquiteto chinês Kongjian Yu, que se tornou mundialmente conhecido pela criação do conceito de “cidade-esponja”, que propõe soluções baseadas na natureza para conter, desacelerar e absorver a água da chuva, funcionando como uma esponja.

Conhecemos bem a utilidade das esponjas no âmbito doméstico, mas afinal, o que é o conceito de cidade-esponja? O princípio é o mesmo. É uma cidade que “absorve” a água da chuva, criando ambientes mais resistentes aos riscos hídricos. Neste conceito, as cidades utilizam medidas para permitir que a água da chuva se infiltre no solo, reduzindo o escoamento superficial e a pressão sobre os sistemas de drenagem, prevenindo enchentes dos rios e deslizamentos nos morros.

O conceito de cidade-esponja refere-se à criação de espaços naturais para absorver a água da chuva
O conceito de cidade-esponja refere-se à criação de espaços naturais para absorver a água da chuva. Crédito: Divulgação/Turenscape

Entre suas estratégias estão o uso intenso de vegetação como parques e jardins para ajudar na infiltração no solo; a reabilitação das margens dos rios, povoando-as com matas ciliares; a restauração florestal dos morros; a substituição das telhas tradicionais por telhados verdes à base de vegetação; a substituição de pavimentos impermeáveis por pavimentos porosos; e a criação de espaços que podem ser intencionalmente alagados em caso de chuvas intensas, para reterem o excesso de água.

Além de prevenirem danos causados por enchentes e deslizamentos, as cidades-esponja trazem outros benefícios, como possibilitar que a água infiltrada no solo recarregue os lençóis freáticos; preservar a biodiversidade, criando habitats para diversas espécies de plantas e animais; resfriar o ambiente e reduzir a temperatura do ar através do sombreamento e respiração das plantas; e proporcionar espaços de lazer, esportes e convivência para a população nos parques e jardins.

Em resumo, cidade-esponja é uma cidade sustentável que “absorve” a água da chuva de forma eficiente e inteligente, imitando o ciclo natural da água para criar ambientes urbanos mais resistentes aos riscos climáticos.

Atualmente, mais de 250 cidades na China tem projetos baseados neste conceito, além de outras ao redor do mundo como Copenhague, Nova Iorque e Roterdã, e brasileiras, como Curitiba, Rio e Santos. No Espírito Santo, o conceito de cidades-esponja vem sendo discutido como solução no Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas, coordenado pelo governo do Estado e participação dos municípios, academia, sociedade civil e setor produtivo. É um caminho muito positivo, pois diversas cidades do Estado apresentam pequena cobertura vegetal e foram construídas na beira dos rios, o que eleva sobremaneira seus riscos.

O conceito de cidade-esponja aplica-se principalmente aos territórios urbanos, mas seus princípios também podem ser estendidos às áreas rurais e agrícolas. O Código Florestal brasileiro dispõe, por exemplo, que fora da Amazônia Legal, onde as exigências são maiores, as propriedades rurais devem manter o mínimo de 20% como Reserva Legal. O Espírito Santo nessa área é um exemplo, por ser um dos Estados que mais restaurou áreas verdes nas zonas rurais nos últimos anos.

Portanto, o conceito vai além das cidades e inclui o planejamento de territórios urbanos e rurais, buscando uma gestão integrada da água que considera não só as infraestruturas urbanas, mas as áreas agrícolas e naturais que contribuem para a absorção e controle do ciclo hídrico. Isso reflete uma visão sistêmica de como a água deve ser gerida em toda a paisagem, urbana ou rural, promovendo sustentabilidade e resiliência contra enchentes, deslizamentos e secas, e reduzindo outros riscos climáticos, como o calor.

Fica aqui nosso tributo a Kongjian Yu, que deixou um legado que beneficia toda a Humanidade.

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