A urbanização desenfreada e veloz de nossas cidades traz consequências ambientais que assolam nossos espaços de vivência em dias de chuvas torrenciais. Para enfrentar este desafio, o primeiro passo é o respeito ao planejamento técnico e, dentro deste sistema, o conceito de criar cidades-esponja, uma sabedoria que vem do oriente, é um caminho viável.
Mas o que é uma cidade-esponja? O nome é sugestivo e já aponta o caminho de ser uma técnica urbanística de absorver e guardar no tecido urbano espaços para armazenar grandes quantidades de chuva. Estes podem ser em parques, jardins ou lagos artificiais, transformando de forma positiva a paisagem urbana e chegando a segurar até 70% das águas pluviais para reutilização futura.
Este tema está em alta nas políticas de redesenho das cidades no mundo e tive a oportunidade de ouvir em um congresso internacional de arquitetura, o criador e precursor desta ideia, o arquiteto chinês Kongjian Yu, que, infelizmente, nos deixou na última semana, em um trágico acidente aéreo no Pantanal.
Nesta passagem pelo Brasil, uma frase dele me marcou muito: “Cidades dependem demais de infraestrutura de concreto, canos e bombas para sobreviver às chuvas, mas negligenciam as soluções naturais que permitem à água infiltrar no solo”.
Estamos em uma época do ano de poucas chuvas em nosso país, portanto, os problemas com água nas cidades estão reduzidos no momento. Sabemos, no entanto, que quando chegar o verão teremos os problemas de inundações e alagamentos, como de costume. A pergunta que fica então é: o que estamos fazendo para nos preparar para este e para os próximos anos?
Segundo Kongjian Yu, a criação de uma cidade-esponja passa por algumas etapas de implementação como: análise criteriosa do histórico do terreno e suas variáveis, planejamento integrado entre todos os órgãos públicos e população, implementação de infraestrutura com a construção de parques, jardins, pavimentação permeável e coberturas verdes, entre outras ações, e, finalmente, o monitoramento com avaliação do sistema e sua manutenção.
A função das ações implantadas em uma cidade-esponja se apresenta ainda mais importante dentro do conceito de reter a água de chuva no próprio espaço urbano, reduzindo enchentes e assegurando reservas de água para períodos mais secos de estiagem.
Literalmente, guardar a água em imensas “caixas d’águas” como lagos e em locais estratégicos, a exemplo da cidade de Boston nos Estados Unidos, com um grande cinturão de lagos construído há quase 100 anos, que armazenam a água do degelo do inverno para serem a reserva para o verão.
O arquiteto Kongjian Yu projetou centenas de parques e espaços públicos na China e em diversos outros países. Ele deixa um legado de sabedoria no trabalho com a água que, em sua arquitetura, sempre foi a solução e nunca um problema.
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