A morte de Juliana Marins no vulcão Rinjani, na Indonésia, as enchentes do Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia mobilizaram o país. Embora a maioria da população mundial esteja preocupada com a crise climática, isso não se traduziu ainda em mobilização coletiva. Tentando entender, que comparações podem ser feitas entre a tragédia de Juliana e o enfrentamento da crise climática?
O sonho de Juliana era conhecer o mundo com um mochilão nas costas, tendo feito sua sonhada viagem pelo sudeste asiático. Embora aventureira, era tida como cuidadosa. Por que então decidiu escalar o Rinjani?
O provável é que não conhecesse os vários riscos “escondidos” do Rinjani, como agências de turismo que promoviam a escalada como segura, embora tivessem apenas 50% dos guias certificados; áreas perigosas sem aviso; inexistência de sistema de rastreamento; e sistema de resgate deficiente. A atitude do guia de se separar dela foi crucial, pois, se começaram juntos, precisavam terminar juntos, como disse uma experiente montanhista.
Os principais paralelos da tragédia com a crise climática, cujos riscos a ciência aponta claramente, são os países não estarem juntos para lidarem com um desafio comum e a falta de ações eficazes para o resgate da crise climática.
A crise climática é o maior desafio coletivo já enfrentado pela humanidade, requerendo uma governança global efetiva, ainda inexistente. O modelo de decisão por consenso torna quase impossível qualquer acordo robusto. Na COP-21 (2015) em Paris, chegou-se a um acordo que parecia apontar uma saída, com a meta de aumento da temperatura média global de 2º C acima dos níveis pré-industriais e a meta aspiracional de 1,5º C. Cada país apresentou seus Compromissos Nacionais Voluntários (NDCs), mas esses mostraram a fragilidade do acordo, pois se cumpridos, a temperatura média global aumentaria 2,7 °C até 2100. Mas deixaram esperanças, pois aprovou-se que fossem revisados e fortalecidos a cada 5 anos.
Na COP26 (2021), em Glascow, as NDCs apresentadas mostraram progresso em relação à COP21, com meta mais ambiciosa (2.4 °C), mas ainda insuficiente. A próxima chance passou a ser a COP30, em novembro, em Belém, quando novos compromissos serão apresentados.
A falta de ações eficazes é indicada pela distância entre compromissos e resultados. As emissões de carbono continuam crescendo 2% ao ano. O Balanço Global, que avalia o progresso coletivo das metas climáticas, mostrou não ser mais possível limitar o aumento da temperatura a 1,5°C e estimou-o em desastrosos 2,6 °C em 2100. Evitar isso exigiria triplicar a capacidade das energias renováveis até 2030 e reduzir significativamente as emissões dos combustíveis fósseis.
O atual momento de instabilidade, com a saída dos EUA do Acordo de Paris, guerras, o abandono de metas por muitas empresas e o enfraquecimento dos organismos multilaterais tornaram isso muito difícil. Prevê-se que os subsídios aos combustíveis fósseis continuarão a aumentar pelo menos até 2030, podendo chegar a US$1,5 trilhão anuais, atrasando a transição energética. Ainda estamos longe de um consenso sobre um cronograma para a redução dos combustíveis fósseis, que é vital.
Até hoje, menos de 30 dos 196 países apresentaram suas metas. O prazo de 30 de setembro é o final para que as novas NDCs sejam apresentadas e incluídas no relatório para a Conferência. O relatório e as decisões que vierem a ser tomadas na COP30 indicarão se conseguimos nos juntar e ter um plano de resgate de uma crise climática, que poderá reduzir o PIB Global em 15% até o final do século. A tragédia de Juliana deveria servir de alerta, para que evitemos um risco climático que pode ser dramático para toda a Humanidade.
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