É engenheiro ambiental, sócio da Maker Sustentabilidade

O que a tragédia de Juliana Marins e a crise climática têm em comum?

O relatório e as decisões que vierem a ser tomadas na COP30 indicarão se conseguimos nos juntar e ter um plano de resgate de uma crise climática, que poderá reduzir o PIB Global em 15% até o final do século

Vitória
Publicado em 31/07/2025 às 05h00

A morte de Juliana Marins no vulcão Rinjani, na Indonésia, as enchentes do Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia mobilizaram o país. Embora a maioria da população mundial esteja preocupada com a crise climática, isso não se traduziu ainda em mobilização coletiva. Tentando entender, que comparações podem ser feitas entre a tragédia de Juliana e o enfrentamento da crise climática?

O sonho de Juliana era conhecer o mundo com um mochilão nas costas, tendo feito sua sonhada viagem pelo sudeste asiático. Embora aventureira, era tida como cuidadosa. Por que então decidiu escalar o Rinjani?

O provável é que não conhecesse os vários riscos “escondidos” do Rinjani, como agências de turismo que promoviam a escalada como segura, embora tivessem apenas 50% dos guias certificados; áreas perigosas sem aviso; inexistência de sistema de rastreamento; e sistema de resgate deficiente. A atitude do guia de se separar dela foi crucial, pois, se começaram juntos, precisavam terminar juntos, como disse uma experiente montanhista.

Os principais paralelos da tragédia com a crise climática, cujos riscos a ciência aponta claramente, são os países não estarem juntos para lidarem com um desafio comum e a falta de ações eficazes para o resgate da crise climática.

A crise climática é o maior desafio coletivo já enfrentado pela humanidade, requerendo uma governança global efetiva, ainda inexistente. O modelo de decisão por consenso torna quase impossível qualquer acordo robusto. Na COP-21 (2015) em Paris, chegou-se a um acordo que parecia apontar uma saída, com a meta de aumento da temperatura média global de 2º C acima dos níveis pré-industriais e a meta aspiracional de 1,5º C. Cada país apresentou seus Compromissos Nacionais Voluntários (NDCs), mas esses mostraram a fragilidade do acordo, pois se cumpridos, a temperatura média global aumentaria 2,7 °C até 2100. Mas deixaram esperanças, pois aprovou-se que fossem revisados e fortalecidos a cada 5 anos.

Na COP26 (2021), em Glascow, as NDCs apresentadas mostraram progresso em relação à COP21, com meta mais ambiciosa (2.4 °C), mas ainda insuficiente. A próxima chance passou a ser a COP30, em novembro, em Belém, quando novos compromissos serão apresentados.

A falta de ações eficazes é indicada pela distância entre compromissos e resultados. As emissões de carbono continuam crescendo 2% ao ano. O Balanço Global, que avalia o progresso coletivo das metas climáticas, mostrou não ser mais possível limitar o aumento da temperatura a 1,5°C e estimou-o em desastrosos 2,6 °C em 2100. Evitar isso exigiria triplicar a capacidade das energias renováveis até 2030 e reduzir significativamente as emissões dos combustíveis fósseis.

Grupo de turistas fez imagens da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que sofreu queda em vulcão na Indonésia
Grupo de turistas fez imagens da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que caiu e morreu em vulcão na Indonésia. Crédito: Reprodução

O atual momento de instabilidade, com a saída dos EUA do Acordo de Paris, guerras, o abandono de metas por muitas empresas e o enfraquecimento dos organismos multilaterais tornaram isso muito difícil. Prevê-se que os subsídios aos combustíveis fósseis continuarão a aumentar pelo menos até 2030, podendo chegar a US$1,5 trilhão anuais, atrasando a transição energética. Ainda estamos longe de um consenso sobre um cronograma para a redução dos combustíveis fósseis, que é vital.

Até hoje, menos de 30 dos 196 países apresentaram suas metas. O prazo de 30 de setembro é o final para que as novas NDCs sejam apresentadas e incluídas no relatório para a Conferência. O relatório e as decisões que vierem a ser tomadas na COP30 indicarão se conseguimos nos juntar e ter um plano de resgate de uma crise climática, que poderá reduzir o PIB Global em 15% até o final do século. A tragédia de Juliana deveria servir de alerta, para que evitemos um risco climático que pode ser dramático para toda a Humanidade.

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