Publicado em 27 de junho de 2025 às 05:31
Um trauma contundente, resultando em danos a órgãos internos e hemorragia, foi a causa da morte de Juliana Marins, a alpinista brasileira que escorregou e caiu enquanto escalava o Monte Rinjani, o segundo vulcão mais alto da Indonésia, segundo autópsia divulgada nesta sexta-feira (27/06) por autoridades na Indonésia.>
"Encontramos arranhões e escoriações, bem como fraturas no tórax, ombro, coluna e coxa. Essas fraturas ósseas causaram danos a órgãos internos e sangramento", disse o especialista forense Ida Bagus Alit à imprensa na sexta-feira.>
"A vítima sofreu ferimentos devido à violência e fraturas em diversas partes do corpo. A principal causa de morte foram ferimentos na caixa torácica e nas costas", disse o médico.>
O corpo da jovem chegou ao Hospital Bali Mandara, em Bali, por volta das 11h35 (horário de Brasília) da quinta-feira (26/06) para autópsia. Foi levado do Hospital Bhayangkara, na província onde o vulcão está localizado, de ambulância, já que não há peritos na província.>
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A autópsia foi realizada na noite de quinta-feira. Alit também afirmou que não havia evidências que sugerissem que a morte tivesse ocorrido muito tempo após os ferimentos.>
"Por exemplo, havia um ferimento na cabeça, mas nenhum sinal de hérnia cerebral. A hérnia cerebral geralmente ocorre de várias horas a vários dias após o trauma. Da mesma forma, no tórax e no abdômen, houve sangramento significativo, mas nenhum órgão apresentou sinais de retração que indicassem sangramento lento. Isso sugere que a morte ocorreu logo após os ferimentos", explicou.>
A partir dos resultados da autópsia, ele estima que a morte de Juliana ocorreu em torno de 20 minutos após ela sofrer os ferimentos.>
Mas observou que é difícil determinar a hora exata da morte devido a vários fatores, incluindo a transferência do corpo da Ilha de Lombok, onde se localiza o Monte Rinjani, para Bali dentro de um freezer — uma viagem que levou várias horas.>
"No entanto, com base em sinais observáveis, estima-se que a morte tenha ocorrido logo após os ferimentos", disse ele.>
Ele acrescentou que não havia sinais de hipotermia, pois não havia ferimentos tipicamente associados à condição, como lesões nas pontas dos dedos.>
Juliana Marins caiu no sábado (21/06) e seu corpo foi recuperado na quarta-feira (25/06), após os esforços de busca e resgate terem sido prejudicados pelo mau tempo e pelo terreno acidentado.>
Embora vários excursionistas tenham morrido no Monte Rinjani nos últimos anos, a morte de Juliana recebeu a maior atenção, tanto no Brasil quanto na Indonésia. >
Usuários de redes sociais brasileiros criticaram a operação de busca e resgate por serem muito lentas, enquanto a família de Juliana declarou nas redes que sua morte foi resultado de negligência e que planejam entrar com uma ação judicial.>
Internautas brasileiros encheram as contas do Instagram da Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas) e do presidente do país, Prabowo Subianto, de comentários criticando o resgate fracassado de Juliana Marins — a brasileira que morreu após cair enquanto percorria uma trilha em um vulcão no fim de semana.>
Autoridades no Brasil se comprometeram a arcar com os custos do traslado do corpo de Juliana. "Hoje mais cedo conversei com Mariana, irmã de Juliana Marins, e assumimos o compromisso da Prefeitura com o traslado de Juliana da Indonésia para a nossa cidade, onde será velada e sepultada", escreveu o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), em suas redes sociais, na noite de quarta-feira.>
Já o presidente Lula publicou na quinta-feira que determinou ao Ministério das Relações Exteriores "que preste todo o apoio à família, o que inclui o translado do corpo até o Brasil.">
A reposta das autoridades da Indonésia continuam sendo criticadas por internautas brasileiros: "por que o processo de resgate de Juliana foi lento?", "por que o helicóptero demorou tanto para ser acionado?", "Juliana morreu não porque caiu, mas porque ficou lá por muito tempo".>
Após o corpo de Juliana ser encontrado e evacuado, a família da brasileira disse que deve ir à Justiça.>
"Juliana sofreu negligência grave por parte da equipe de resgate. Se a equipe de resgate tivesse conseguido salvá-la dentro das sete horas estimadas, Juliana ainda estaria viva", escreveu a conta do Instagram @resgatejulianamarins, que afirma representar a família.>
"Juliana merecia mais! Agora buscaremos justiça para ela, porque é isso que ela merece!", acrescentou o relato.>
Juliana caiu em um barranco com centenas de metros de profundidade, em direção ao lago Segara Anak, na região do monte Rinjani, por volta das 6h30 do sábado (21/06).>
O local exato é no ponto Cemara Nunggal, uma trilha cercada por desfiladeiros que leva ao cume do Rinjani.>
Apesar da queda, as autoridades competentes disseram que Juliana ainda estava viva no sábado. Isso está de acordo com imagens de drones e outros vídeos gravados por vários escaladores — que circularam online e foram transmitidos pela mídia brasileira.>
Três dias depois, na terça-feira (24/06), a equipe de resgate conseguiu se aproximar de Juliana e declarou a vítima morta. Seu corpo foi resgatado no dia seguinte.>
O chefe do Parque Nacional do Monte Rinjani (TNGR), Yarman Wasur, afirmou que o processo de evacuação foi realizado de acordo com os procedimentos padrões e negou as críticas de que o processo tenha sido lento.>
"Formamos uma equipe imediatamente. O processo de formar uma equipe, preparar equipamentos e outros itens leva tempo. Esta equipe precisa ser profissional, pois envolve a segurança também da equipe de evacuação.">
Yarman afirmou que dezenas de socorristas foram mobilizados para a evacuação. O número chegou a cerca de 50 pessoas na terça-feira (25/06).>
Ele explicou que o clima extremo e a topografia do local foram os maiores obstáculos para a evacuação.>
"Rinjani é um local extremo, com topografia extrema, e o clima aqui muda muito o tempo todo. Isso é o que impede que a equipe de evacuação seja otimizada", disse Yarman.>
Da mesma forma, a Basarnas também afirmou em diversas ocasiões que o processo de evacuação foi dificultado por fatores climáticos, de temperatura e de localização extremos.>
Yarman explicou que, pelas informações iniciais obtidas, a vítima caiu em um barranco a cerca de 200 metros de profundidade.>
No entanto, quando a equipe foi até o local e pilotou o drone, a vítima não estava mais visível no ponto estimado inicialmente.>
"Depois que nossa equipe verificou o terreno, descobriu-se que ela não estava mais lá, havia se movido, caído daquele jeito", disse ele.>
Isso, disse Yarman, fez com que a equipe de resgate perdesse o rastro da vítima. "Nossa equipe passou a noite procurando. Ela estava perdida lá.">
Além disso, disse ele, as condições climáticas incertas e a topografia extrema fizeram com que o processo de evacuação demorasse dias.>
Não é a primeira vez que acontece um acidente como o de Juliana. No ano passado, houve pelo menos dois incidentes parecidos. Em um deles, um cidadão da Malásia morreu.>
A falta de acesso de segurança para alpinistas em Rinjani se tornou um ponto de destaque para os internautas.>
O experiente alpinista Galih Donikara vê a necessidade de melhorar o acesso seguro para escaladores em Rinjani, especialmente em pontos vulneráveis.>
"Se, por exemplo, for um barranco perigoso, deve haver uma cerca, corda ou outra barreira entre os barrancos que seja resistente para os escaladores", disse Galih.>
Além disso, disse Galih, é necessário que os policiais em serviço alertem sobre rotas perigosas. Para isso é preciso que os policiais estejam não apenas no ponto de registro, mas também em cada posto de parada.>
"E é preciso elaborar um guia conjunto sobre os procedimentos operacionais padrão (POP) para resgate de emergência, de acordo com o potencial de acidentes em cada local. Todos nós nos reunimos, fazemos simulações conjuntas, treinamos guias e socorristas locais para que esses problemas sejam minimizados", disse ele.>
Da mesma forma, o alpinista sênior Ang Asep Sherpa considera a segurança e a orientação importantes, pois frequentemente os alpinistas, especialmente os iniciantes, ignoram a segurança e a necessidade de preparação física e de equipamento.>
"Porque o que eles veem nas redes sociais é apenas a beleza, sem descobrir a preparação. E, agora, os alpinistas, desde que tenham dinheiro, só trazem água potável e sentem que podem escalar. É isso que causa muitos acidentes", disse ele.>
O chefe do parque nacional do monte Rinjani, Yarman Wasur, afirmou que implementou uma série de medidas de segurança, como a instalação de cordas e escadas de segurança em diversos locais vulneráveis.>
Além disso, sua equipe também instalou cerca de oito câmeras de vigilância e elaborou procedimentos operacionais padrão.>
Os regulamentos mais recentes do parque foram revisados em 24 de março de 2025. As regras tratam de escaladores, organizadores de trilhas, guias, carregadores e reservas de ingressos.>
"Um dos procedimentos padrões no monte Rinjani é que seis escaladores externos usem um guia e dois carregadores. E isso foi feito", disse ele.>
Yarman também afirmou que seu grupo providenciou dois postos de emergência no Posto Plawangan 1 e próximo ao lago.>
No entanto, afirmou que seu grupo realizará uma avaliação completa após o incidente, desde a instalação de infraestrutura de segurança até o aumento do efetivo em pontos vulneráveis.>
O organizador de escaladas no Rinjani, Mustaal, afirmou que o monte tem um nível de escalada difícil, especialmente a trilha até o pico conhecido como Letra E.>
Essa trilha tem alguns metros de largura, com um contorno arenoso e rochoso em subida, frequentemente acompanhado de fortes rajadas de vento e tempestades.>
"Esta trilha exige alta concentração dos escaladores", disse Mustaal, que gerencia o serviço de escalada.>
Mustaal admitiu que o local onde Juliana caiu era em um terreno muito difícil. "À esquerda, a inclinação é de 45 graus e o barranco desce em linha reta, especialmente à tarde, quando a neblina fica muito escura.">
Além das influências naturais difíceis, ele disse que os acidentes nessa rota geralmente ocorrem porque os alpinistas estão cansados ou tiram fotos que os fazem perder o foco.>
Mustaal, que escala o Rinjani desde 2000, disse que a próxima rota é do pico do Rinjani até o lago Segara Anak, que é uma descida.>
"Certa vez, trouxe um hóspede da Austrália. Quando ele desceu para o lago, não estava concentrado. Então, ele tropeçou nos próprios pés e caiu. Mas ele sobreviveu porque a queda não foi tão profunda. Esse é um pequeno exemplo", disse ele.>
Apesar de ter uma rota extrema, Mustaal admitiu que não há proibição para escaladores iniciantes chegarem ao pico do Rinjani.>
Ele disse que todos podem escalar o monte Rinjani, mas devem seguir as regras estabelecidas, como estar acompanhados por um guia e carregador local, e ser monitorados para garantir uma boa condição física.>
O escalador sênior Ang Asep Sherpa também considerou o monte Rinjani como uma rota de escalada bastante difícil, especialmente em direção ao pico.>
"Aproximar-se do pico é um terreno arenoso. Subimos dois degraus e descemos um, então exige muita força física e resistência. Além disso, há ventos fortes e penhascos à esquerda e à direita. Um pequeno erro certamente será um problema", disse ele.>
No entanto, segundo ele, se o alpinista tiver muita resistência física e seguir a rota de escalada, "ela será realmente segura".>
"Para alpinistas iniciantes, acho que eles precisam se preparar bem. Eles precisam ter boas habilidades físicas e equipamento adequado.">
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