Publicado em 26 de junho de 2025 às 11:38
O irlandês Paul Farrell, de 32 anos, passou por uma experiência que começou muito parecida com a da publicitária brasileira Juliana Marins, que morreu após cair durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia.>
Em outubro do ano passado, ele fazia o mesmo passeio quando sofreu um acidente e caiu cerca de 200 metros num terreno inclinado e cheio de perigos.>
Farrell se lembra de ter acordado nas primeiras horas da madrugada no acampamento-base para fazer a trilha. Segundo ele, a primeira parte do trajeto foi tranquila, apesar da dificuldade para atingir o cume.>
"O chão ali é diferente, do tipo que você parece dar um passo pra frente e dois para trás. Pelo fato de estarmos num vulcão, o terreno é arenoso e você pode afundar os pés", descreve ele, em entrevista à BBC News Brasil.>
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Após chegar ao topo do monte, Farrell fazia o caminho de volta quando ficou incomodado com a quantidade de pequenos pedregulhos que se acumulavam dentro dos tênis que calçava.>
"A situação estava desconfortável, então decidi remover os tênis para limpá-los. Para fazer isso, tirei as luvas que usava nas mãos, apenas para facilitar esse trabalho", conta ele, que nasceu na cidade de Sligo, na costa sudoeste da Irlanda.>
Tudo corria bem quando uma rajada de vento fez as luvas voarem em direção ao vulcão.>
"Nessa hora, eu ajoelhei. E o chão onde eu pisava simplesmente desabou.">
Farrell caiu ribanceira abaixo e diz ter entrado num "modo sobrevivência".>
"A velocidade com que eu caía só aumentava, a adrenalina estava a mil. Eu concluí rapidamente que poderia morrer a qualquer momento.">
O irlandês conta que a única alternativa naquela situação era encontrar alguma pedra maior onde ele pudesse se agarrar, para interromper a queda acelerada pelo terreno inclinado.>
"Eu tentava enfiar minhas unhas, minhas mãos, em qualquer coisa, apenas para desacelerar. Até que vislumbrei uma grande rocha, quase um rochedo, e tentei desviar meu caminho naquela direção.">
"Eu me choquei contra a pedra, mas felizmente consegui frear a descida.">
Farrell parou a cerca de 200 metros de profundidade. Ali, conseguiu retomar o fôlego e conferir que, apesar de tudo que passou, tinha sofrido apenas alguns cortes e arranhões.>
"Mesmo assim, eu não estava em segurança. Naquele lugar, você pode escorregar a qualquer momento.">
Farrell disse que fez a trilha toda com um grupo. Mas, naquele momento específico, havia apenas uma mulher francesa perto dele — que felizmente testemunhou toda a cena.>
"Eu gritei com toda a força dos meus pulmões para que ela encontrasse o restante da equipe e buscasse ajuda. Então ela correu de volta ao acampamento-base e avisou as pessoas", detalha ele.>
O irlandês estima que permaneceu naquela rocha por cerca de cinco a seis horas, até a chegada do resgate.>
"Foi obviamente muito assustador. Eu rezava a Deus para sair dali vivo, ou com apenas alguns ossos quebrados.">
"Pra ser sincero, eu aceitaria quebrar um braço, uma perna, ou todos os meus ossos para deixar aquela situação. Se eu precisasse fazer um pacto com Deus ou com o Diabo para sair dali com vida, eu faria.">
Farrell disse que uma equipe de alpinistas profissionais tentou fazer uma corda improvisada, com roupas amarradas umas nas outras, para tentar içá-lo.>
Mas o terreno não permitiu que ele saísse da rocha com segurança, sob risco de afundar ainda mais.>
Passadas as cinco horas, a equipe de resgate que atua na região finalmente conseguiu removê-lo do local.>
Aliás, segundo o relato dos próprios socorristas a Farrell, eles estavam nas proximidades para remover o corpo de uma vítima de um outro acidente.>
Quando finalmente se viu livre daquela situação, o irlandês disse que sentiu "um alívio absoluto".>
"Estava muito grato e cheio de energia", descreve ele.>
"Eu adoro adrenalina e esportes radicais, mas essa foi uma situação que ficou muito perto do limite", admite Farrell.>
Questionado pela BBC News Brasil se considera importante aumentar a segurança nas trilhas que rodeiam esse vulcão indonésio, ele fez uma série de ponderações e sugestões.>
"Em primeiro lugar, gostaria de lamentar a morte da Juliana e prestar minha solidariedade à família dela neste momento.">
"Sobre melhorias, precisamos considerar que a Indonésia é um país pobre, com menos recursos. Mas naturalmente mais dinheiro deveria ser investido para aumentar a segurança ali", opina ele.>
"De repente eles poderiam subir a taxa cobrada para visitar o local.">
"Ou garantir que cada grupo tenha pelo menos dois guias, para que um deles permaneça na retaguarda e possa oferecer algum tipo de suporte para as pessoas que sentem algum mal-estar e ficam para trás, como parece ter sido o caso de Juliana", sugere Farrell.>
Perguntado pela reportagem se faria a trilha pelo Monte Rinjani novamente, o irlandês não demorou a responder.>
"Sem dúvidas. Eu seria mais cauteloso numa segunda vez, mas subir montanhas é algo que quero fazer pelo resto de minha vida, até quando for capaz.">
O irlandês garante que a experiência de ficar tão próximo da morte mudou completamente a forma como ele enxerga a vida.>
"É muito raro que pessoas sobrevivam a acidentes como este, infelizmente. Mas quando você se vê vivo depois de passar por isso, começa a pensar no que é realmente importante", reflete Farrell, que concedeu a entrevista à BBC News Brasil direto de um retiro de yoga e meditação localizado na Índia.>
"Desde que sofri o acidente, minha conexão com Deus está muito melhor. Agora tento viver a vida de um jeito mais alinhado aos valores que realmente são centrais para mim", conclui ele.>
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