São as trapaças da vida e da sorte. Donald Trump tornou-se neste momento um grande eleitor de Lula.
Disparou um tarifaço de 50% contra as exportações do Brasil. Em seguida mandou investigar o Pix. As duas bombas deram ao presidente Lula bandeiras nacionais que o ajudaram a conter a queda de popularidade, melhorando a sua avaliação e a avaliação do governo Lula.
Um efeito bumerangue que também dividiu a direita, abalou a liderança política do governador Tarcísio de Freitas e atingiu a força de Jair Bolsonaro e do bolsonarismo.
Mas ainda é cedo para saber quem ganha e quem perde na política brasileira. É preciso esperar até 1º de agosto para saber se o tarifaço vai ser mantido, ainda que seja com tarifa menor.
Segundo cálculos já divulgados pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), o tarifaço pode reduzir em R$ 19,2 bilhões o PIB brasileiro e extinguir 110 mil empregos, afetando as exportações em R$ 52 bilhões. Um petardo que pode atingir mais uma vez a popularidade do presidente Lula e do governo.
Além de afetar principalmente os estados mais prejudicados, como São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Espírito Santo. Consequentemente, também atingindo a popularidade dos seus respectivos governadores.
Por enquanto, o relatório da pesquisa da Quaest que foi divulgado faz uma análise relevante. Mostra que o tarifaço unificou lulistas, eleitores da esquerda e setores moderados - e, ao mesmo tempo, dividiu a direita.
Vem daí a conclusão que “o centro se aproximou do governo” e que “Trump ajuda o governo a recuperar popularidade”.
Ao mesmo tempo, o relatório mostra que a melhora na percepção da economia é pequena, com variação sem efeito significativo.
O dado que chama a atenção é o de que 43% acreditam que a situação deve piorar em 2026 – “pessimismo que pode estar associado ao tarifaço”. 80% pensam que o poder de compra piorou em um ano, tendendo a culpar o governo federal pela piora na condição de vida.
Isso significa que a sensação de bem-estar ainda está longe dos brasileiros, assim como uma eventual retomada da esperança num futuro melhor. As questões estruturais que afetam a popularidade do presidente Lula e o descrédito da política e dos políticos ainda permanecem.
Outro dado relevante e de efeito estrutural que o relatório mostra é o de que 53% dos eleitores julgam que o discurso que coloca “ricos contra pobres” não está certo porque “cria mais briga e polarização no país”.
Trata-se do já consolidado cansaço dos brasileiros com a polarização. Que resulta no expressivo “nem-nem” (nem Lula, nem Bolsonaro), em busca de uma nova liderança moderada.
A pesquisa da Quaest mostra que o espectro político está assim : 17% lulista / petista ; 13% não é lulista / petista mas é “mais à esquerda” ; 33% “não tem posicionamento “; 22% não é bolsonarista , mas é de direita “; e 12% “é bolsonarista".
Prevalecem as posições centrais, com predominância da centro direita: 55%. A busca da moderação.
Por enquanto, olhando para o cenário político, o “presente” de Trump ao governo Lula (um símbolo das trapaças da vida e da sorte), resultou na oportunidade para Lula encontrar uma bandeira e uma narrativa que o tornou capaz de recuperar poder de agenda.
Em curto espaço de tempo, além de furar a bolha das redes sociais e tornar-se capaz de duelar e dialogar no ciberespaço, Lula precisa usar o poder de agenda para deslanchar com agilidade um acordo nacional em torno de uma agenda mínima para a caminhada até dezembro de 2026.
Um acordo envolvendo os Três Poderes, lideranças da sociedade civil, lideranças do setor produtivo e do mercado financeira, e lideranças dos veículos de comunicação.
Para além das campanhas políticas na direção de 2026, que já estão em curso, é preciso governar e encarar os problemas da insegurança, da carestia e do desequilíbrio fiscal e monetário.
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