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Revés de Crivella é ápice de derrota bolsonarista em base eleitoral

Revés de Crivella é ápice de derrota bolsonarista em base eleitoral

Ao mesmo tempo em que viu Crivella naufragar, a família Bolsonaro viu derrotados seus aliados em toda a região metropolitana do RJ e principais colégios eleitorais

Publicado em 30 de novembro de 2020 às 08:40

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O estafe de Crivella avalia que a presença de Bolsonaro foi importante para garantir a presença do prefeito no segundo turno contra Paes. (Fernando Frazão/Agência Brasil | Arquivo)

A tentativa de reeleição frustrada de Marcelo Crivella (Republicanos) com uma larga vantagem do prefeito eleito Eduardo Paes (DEM) é o selo da derrota do bolsonarismo em toda a sua base eleitoral, o Rio de Janeiro.

A diferença significativa de votos na capital expõe não apenas o teto baixo do apoio do presidente Jair Bolsonaro na capital, mas também simboliza o fracasso de quase todas as apostas da família no estado.

Ao mesmo tempo em que viu Crivella naufragar, a família Bolsonaro viu derrotados seus aliados em toda a região metropolitana e principais colégios eleitorais.

Em Niterói, Allan Lyra (PTC) teve apenas 9,4% dos votos válidos no primeiro turno. Em Cabo Frio, o deputado Dr. Serginho (Republicanos), forte aliado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) e que também contou com manifestação de apoio do presidente, perdeu com 33,8% dos votos válidos.

Em São João de Meriti, o policial rodoviário federal Charlles Batista (Republicanos), também forte aliado do senador, ficou em quarto, com 12,6% dos votos.

Em São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do estado, o candidato preferido da família, Roberto Sales (PSD), não foi ao segundo turno, ao obter apenas 2,5% dos votos válidos. No segundo turno, para tentar evitar a vitória do petista Dimas Gadelha, o presidente se engajou pessoalmente na candidatura de Capitão Nelson (Avante), gravando um vídeo para o vereador. Tiveram uma vitória apertada.

A vitória em São Gonçalo representa o único suspiro do bolsonarismo, ao evitar o crescimento da esquerda que faz uma oposição mais frontal ao governo federal. Gadelha contou com o apoio dos prefeitos das cidades vizinhas Rodrigo Neves (PDT), de Niterói, e Fabiano Horta (PT), de Maricá, e formaria um "cinturão vermelho" na região, com pretensões de articulação para a disputa estadual.

A atuação dos representantes da família Bolsonaro foi discreta no estado. Principal articulador político do grupo, Flávio se recolheu em razão da denúncia de que foi alvo pelo caso da "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) assumiu o papel de representante do clã e gravou vídeos para os candidatos de Niterói, São Gonçalo e Cabo Frio.

As apostas que deram certo fazem parte da articulação pragmática de Flávio com nomes do MDB sem vinculação ideológica forte com o bolsonarismo.

Na pré-campanha, o senador caminhou com o prefeito Washington Reis (MDB), reeleito e que tomará posse com base num efeito suspensivo de inelegibilidade dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Flávio também se aproximou de o prefeito reeleito de Belford Roxo, Waguinho (MDB), e de Angra dos Reis, Fernando Jordão (MDB).

Os três, porém, são prefeitos que podem se alinhar em 2022 ao sabor do vento, sem representar uma aliança fiel.

O estafe de Crivella avalia que a presença de Bolsonaro foi importante para garantir a presença do prefeito no segundo turno contra Paes. Era uma base suficiente para superar os demais adversários.

No segundo turno, o prefeito radicalizou o discurso bolsonarista, com doses de proselitismo religioso. Vinculou falsamente o adversário ao PSOL e ao suposto acordo de defesa de pedofilia em escolas.

O discurso não atraiu nem sequer a base evangélica de Crivella. As três pesquisas realizadas pelo Datafolha não mostraram qualquer variação neste grupo do eleitorado após a adoção da estratégia.

A derrota acachapante do bispo licenciado da Igreja Universal não pode ser atribuída apenas ao fracasso de Bolsonaro. O prefeito tem a gestão mal avaliada há ao menos dois anos.

Não é também uma reflexo exato das eleições presidenciais, em 2022. Representa, contudo, um teto baixo na transferência de votos do presidente para seus aliados daqui a dois anos.

O naufrágio dos neófitos que contaram com o apoio da família também mostra que o toque mágico de 2018, que elegeu Wilson Witzel (PSC) apenas um aceno de Flavio e sem qualquer declaração do presidente, é uma miragem do passado.

Mas o sinal mais eloquente da queda de prestígio do presidente em sua base eleitoral é a queda de 30% na votação de Carlos Bolsonaro (Republicanos) para o sexto mandato como vereador.

O filho 02 do presidente também perdeu o título de mais votado para a Câmara Municipal. Além de simbólico, Carlos perdeu o direito de discursar em nomes do vereadores na sessão de posse no dia 1º de janeiro de 2021, papel que agora caberá a um político do PSOL, o vereador reeleito Tarcísio Motta.

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