Publicado em 25 de agosto de 2025 às 11:11
Olhando o oropouche de perto, cientistas brasileiros querem entender melhor o vírus para, eventualmente, conseguirem fármacos com ação sobre ele. O primeiro passo dos pesquisadores foi conseguir registrar imagens de parte da ação do oropouche sobre células. A febre oropouche tem sintomas muito semelhantes aos da dengue, como dor de cabeça intensa, dores musculares, náusea e diarreia. Esse olhar mais detido sobre as estruturas do vírus e como ele se comporta ao infectar células é importante para achar o que se costuma chamar de alvos terapêuticos. Como o próprio nome aponta, a ideia é entender os mecanismos e identificar estruturas que poderiam ser usadas para combater a infecção.>
Um dos estados de maior atenção é o Espírito Santo, com grande concentração de casos. Só em 2025, o Espírito Santo é responsável por 6.322 casos e o Rio de Janeiro, por 2.500.De acordo com o painel do Ministério da Saúde, em 2025 o Brasil já registrou quase 12 mil casos de febre oropouche, com cinco mortes confirmadas e duas em investigação até o momento da apuração desta reportagem. As mortes já superam as de 2024 (quatro) e os casos se aproximam do que foi registrado em todo ano passado (13.856). >
Débora Vieira, pesquisadora do laboratório, que, durante a pandemia de Covid-19, registrou a imagem da infecção de células pelo Sars-CoV-2, aponta que não seria surpreendente uma subnotificação de casos da doença. A doença é transmitida pelo maruim (Culicoides paraensis). Após picar uma pessoa infectada, o mosquito carrega por alguns dias o vírus Orthobunyavirus oropoucheense. Ao picar novamente, dessa vez uma pessoa não infectada, a doença pode ser transmitida. Segundo o Ministério da Saúde, o diagnóstico da febre oropouche é clínico, epidemiológico e laboratorial. >
O ministério aponta que oropouche é uma doença de notificação compulsória e imediata, por causa do potencial epidêmico, capacidade de mutação e, portanto, pelo seu potencial de ameaça à saúde pública. Em 2024, soou o alerta de que a febre oropouche estava se expandindo para fora da bacia amazônica. Os números de infecções passaram a ser recordes. O diretor da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), Jarbas Barbosa, manifestou, no ano passado, preocupação com o aumento dos casos da febre oropouche e também de dengue e gripe aviária. Um estudo apontou que, possivelmente, o maruim tenha se adaptado às condições ambientais de outras áreas do país. >
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Os pesquisadores usaram o vírus isolado de um paciente humano e, a partir disso, observaram o processo de replicação viral na infecção de células vero que são comumente usadas em estudos e derivadas do rim de um macaco Chlorocebus sabaeus. A atenção ao oropouche neste momento ocorreu porque os pesquisadores observaram, em 2024, uma distribuição geográfica um pouco diferente no vírus, que antes ficava mais detido na região Norte do Brasil.>
Ao buscarem mais informações sobre o vírus, perceberam que a literatura científica era escassa. "Então, daí que nós iniciamos os estudos para sanar algumas lacunas no que diz respeito ao ciclo replicativo do vírus e como ele se comporta em células. É um dos primeiros passos quando você quer estudar uma molécula de ação antiviral", diz Vieira. "Você precisa conhecer como o vírus se comporta no modelo in vitro, que é em célula em laboratório, para a posterior aplicação de diferentes moléculas já conhecidas de ação antiviral para ver se elas se aplicam ao oropouche.">
Segundo a pesquisadora, a literatura sobre o vírus não traz o passo a passo da replicação do vírus. E, mesmo com o estudo que assina, Vieira diz que ainda não existe esse descritivo. "Nós estamos caminhando. Conseguimos demonstrar parte do processo replicativo do oropouche", afirma. No momento, o que os pesquisadores conseguiram como você pode ver nas imagens é somente uma visão em um único plano. Vieira diz que é como se alguém fatiasse a célula e a análise fosse feita em relação a essa fatia.>
A ideia agora é caminhar para uma visualização tridimensional e, com isso, construir um modelo colorido, o mais didático o possível, do processo de replicação do vírus. Tal caracterização já pode acontecer nos próximos meses, segundo Vieira. A pesquisa olhou especificamente a linhagem do vírus oropouche, a OROV BR-2015-2024, responsável por casos mais recentes no país e que foi descrita em artigo publicado, no ano passado, na Nature Medicine.>
Inclusive, o vírus usado para o estudo da Fiocruz foi isolado de um paciente da cidade de Piraí, no Rio de Janeiro, que teve amostras coletadas em abril de 2024.>
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