Publicado em 3 de agosto de 2020 às 18:47
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), firmou um acordo de não-persecução penal com a Procuradoria-Geral da República (PGR) no qual admitiu ter recebido R$ 300 mil em caixa dois da JBS em 2012 e 2014. Ele se comprometeu a pagar multa de R$ 189 mil em troca do arquivamento de investigação a respeito do tema. O valor pactuado é nove vezes o salário líquido do ministro, de R$ 21 mil.>
O acordo é o primeiro dessa natureza fechado pela PGR perante o Supremo Tribunal Federal (STF). Está previsto na Lei Anticrime, aprovada no ano passado, como forma de solucionar, com economia processual, casos referentes a delitos não violentos e de pena baixa (menor que quatro anos).>
O crime de caixa dois atribuído a Onyx, previsto no artigo 350 do Código Eleitoral, está entre os que podem ensejar esse tipo de pactuação.>
O documento agora será enviado ao ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que vai analisar se foram cumpridos os requisitos da lei e decidir se homologa o acordo.>
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Onyx foi delatado por executivos da J&F, holding que controla a JBS, em 2017.>
O ex-diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, entregou à PGR anexo de sua colaboração informando que a empresa de carnes doou via caixa dois R$ 200 mil a Onyx em 2014. Naquele ano, ele concorreu ao cargo de deputado.>
Após o caso ser divulgado, o agora ministro admitiu publicamente ter recebido doação não contabilizada naquele ano eleitoral.>
Justificou que só soube da origem dos recursos quando os dirigentes da JBS falaram a respeito, pois havia acertado a contribuição com a Abiec (Associação das Indústrias Exportadoras de Carne). Onyx, contudo, continuou omitindo o repasse de 2012.>
Como noticiou o jornal Folha de S.Paulo em novembro de 2018, planilha entregue pelos colaboradores da empresa juntamente com anexos complementares das delações mostrou que houve outra doação por fora a Onyx, de R$ 100 mil, naquele ano.>
Na época, o ministro não concorreu a cargos eletivos, mas era presidente do DEM no Rio Grande do Sul e apoiou vários candidatos. Nos registros do Tribunal Superior Eleitoral, não consta doação oficial da JBS ou da J&F para a sigla naquelas eleições.>
A planilha "Doações-2012", com os registros de caixa dois, foi entregue para corroborar as acusações dos colaboradores contra políticos.>
Joesley Batista, dono da JBS, disse que todas as contribuições não declaradas foram feitas a pedido dos políticos. Os objetivos, explicou, eram evitar retaliações e contar com a boa vontade deles.>
Já Saud relatou que os pagamentos a partidos e políticos foram feitos sem contrapartida, no intuito de que se tornassem benevolentes ou simpáticos com a empresa. Segundo ele, isso faria a empresa economizar com subornos.>
O caixa dois pago a Onyx ensejou a abertura de uma investigação no Supremo em 2018. Se homologado e cumprido o acordo, o caso será encerrado.>
Trecho do documento, que é sigiloso, diz que o ministro "concorda em se declarar culpado por haver omitido em documentos públicos declarações que deles deveriam constar".>
O valor a ser pago pelo ministro tem o caráter de prestação pecuniária, ou seja, uma penalidade pelo delito cometido.>
Para casos como esse, não cabe ressarcimento do valor recebido como caixa dois. não se trata de prejuízo financeiro ao Estado.>
A defesa de Onyx confirmou o acordo e informou que ele buscará empréstimo bancário para pagar a multa.>
Em nota, os advogados Daniel Bialski e Adão Paiani afirmaram que seu cliente decidiu procurar as autoridades "com a intenção de colaborar e dar um desfecho final ao processo".>
Bialski reiterou que, quando a delação da JBS veio a público, Onyx "desconhecia a origem do recurso".>
"Diante da nova legislação processual e com a intenção de solucionar isso de uma vez por todas, foi postulado junto à PGR o acordo de não-persecução penal. Agora, esperamos que o Supremo homologue o acordo e a causa seja extinta", acrescentou.>
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