Publicado em 1 de agosto de 2025 às 14:43
BRASÍLIA - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes chamou de "covarde e traiçoeira" a "organização miliciana" que tem atuado para impor sanções dos Estados Unidos ao País e a autoridades brasileiras com o objetivo de frear o julgamento da ação penal sobre tentativa de golpe de Estado, que pode condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a até 43 anos de prisão. Foi a primeira manifestação pública do magistrado depois da punição anunciada pela Casa Branca.>
Moraes falou haver "traição à pátria" e direcionou sua reação principalmente ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que articulou com integrantes do governo americano o enquadramento do ministro na Lei Magnitsky, que prevê bloqueios financeiros. O magistrado não citou o parlamentar nominalmente.>
"Estamos vendo diversas condutas dolosas e recorrentes de uma verdadeira organização criminosa que, nunca vista antes na história do País, age de maneira covarde e traiçoeira para submeter este Supremo Tribunal Federal ao crivo de uma Estado estrangeiro", afirmou.>
"Encontram-se foragidos e escondidos fora do território nacional. Não tiveram coragem de continuar no território nacional", afirmou Moraes na abertura do semestre do Judiciário, nesta sexta-feira (1º).>
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Durante um discurso de pouco mais de 30 minutos, o relator da trama golpista de 2022 afirmou que as ações penais de quatro núcleos da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) serão julgadas ainda neste ano.
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Já havia uma expectativa de que a ação referente ao núcleo central, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fosse pautada para setembro. Nesta sexta, o relator confirmou a perspectiva, acrescentando que os demais núcleos também devem ser julgados em 2025.>
O ministro citou "atos hostis, mentirosos" e afirmou ainda que há provas de condutas ilícitas praticadas por Eduardo Bolsonaro e seus aliados. O STF tem um inquérito aberto para investigar a atuação do deputado.>
A esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes também acompanhou a sessão, e esteve sentada na primeira fila do plenário. Ao final da sessão, Moraes foi abraçado e cumprimentado pelos colegas. >
Moraes comparou o método de atuação de bolsonaristas ao de milícias. O ministro disse que esses agentes estão induzindo, instigando e auxiliando a prática de condutas nefastas contra a sociedade brasileira, as autoridades públicas, ministros do STF e de esposas de magistrados, citando as de Gilmar Mendes e Cristiano Zanin, demonstrando, segundo ele, não existir limites para a ousadia e a covardia dessa organização criminosa que será será integralmente responsabilizada".
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"Em uma atitude costumeiramente afeta a milicianos do submundo do crime que atacam as autoridades e atacam os familiares das autoridades, essas condutas dessa organização criminosa, essas condutas caracterizam claros e expressos atos executórios de traição ao Brasil e flagrantes confissões da prática do atos criminosos.">
O ministro também afirmou que essa "organização criminosa miliciana" se engana ao esperar fraqueza institucional ou debilidade democrática, e que as instituições brasileiras são fortes e sólidas, assim como os integrantes do Supremo, "forjados no mais puro espírito democrático".>
"Acham que estão lidando com pessoas da laia deles, que estão lidando também com milicianos, mas não estão. Estão lidando com ministros da Suprema Corte brasileira. Engana-se essa organização criminosa ao esperar que a permanência e continuidade dessa torpe coação possa, de alguma forma, possa gerar uma covarde rendição dos Poderes constituídos brasileiros", disse.>
Em relação às punições anunciadas pelo governo Donald Trump, Moraes afirmou que tanto ele quanto a corte vão ignorá-las.>
"O STF irá ignorar as sanções aplicadas. Esse relator vai ignorar as sanções que foram aplicadas e continuar trabalhando como vem fazendo, tanto no plenário quanto na Primeira Turma, sempre de forma colegiada, diferentemente das mentiras, das inverdades, e da desinformação", disse.>
O ministro afirmou que a atuação nos EUA tem o mesmo "modus operandi golpista" de acampamentos na frente dos quartéis, invasão na praça dos três Poderes para a convocação de GLO (Lei de Garantia da Lei e da Ordem) e as Forças Armadas, e gerando, com isso, uma a comoção nacional para uma possibilidade de golpe.>
No caso das ações com representantes do governo Trump, o incentivo a taxações ao Brasil seriam o incentivo à crise econômica, que gera a crise social e então a crise política para novamente haver uma instabilidade social e a possibilidade de um novo ataque.>
"Essa geração de pressão política e social contra os Poderes Judiciário e Legislativo tem claramente a finalidade ilícita de favorecer interesses pessoais. E digo coação contra o Poder Legislativo também, pasmem. Um dos brasileiros, investigado e foragido, recentemente, nessa semana, dirigiu ameaças diretas aos presidentes da Câmara dos Deputados, deputado Hugo Motta, e do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre", disse.>
No caso do Senado, Moraes também citou a pressão pela abertura de procedimentos de impeachment a ministros da corte.>
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), retomou as atividades da corte nesta sexta-feira (1º) com um desagravo ao ministro Alexandre de Moraes, alvo de sanções do governo Donald Trump.>
Ele afirmou que a atuação da corte preservou a democracia e que o processo da trama golpista de 2022 apura crimes diversos contra o Estado Democrático de Direito e é conduzido com o devido processo legal e transparência.>
"A marca do Judiciário brasileiro, do primeiro grau ao Supremo Tribunal Federal, é a independência e a imparcialidade. Todos os réus serão julgados com base nas provas produzidas, sem qualquer tipo de interferência, venha de onde vier", declarou>
O presidente da corte fez um discurso na reabertura dos trabalhos para o semestre. Esta é a primeira manifestação do magistrado no plenário depois que o governo Donald Trump anunciar sanções financeiras contra Moraes, na última quarta (30). O STF havia, antes, publicado uma nota em nome da corte em defesa da autonomia da Justiça brasileira.>
"O nosso papel é de impedir a volta ao passado", disse Barroso, citando ataques às instituições desde 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL).>
"As ações penais têm sido conduzidas com o devido processo legal, transparência, sessões públicas acompanhadas por advogados, pela imprensa. Há nos autos confissões, audição, vídeos, textos e outras provas. A marca do Judiciário, do primeiro grau ao STF é a independência e imparcial atuação", afirmou.>
Os ministros Kassio Nunes Marques e Dias Toffoli não estavam no plenário.>
O ministro Gilmar Mendes relacionou as medidas de Trump à pressão de empresas de tecnologia contra o tribunal, que em julgamento recente definiu a responsabilidade de plataformas pela publicação de conteúdo considerado ilegal ou nocivo.>
Segundo Gilmar, as chamadas big techs fazem "lobbies poderosos" e tentam "dobrar o tribunal e o governo brasileiro a seus caprichos e seus interesses econômicos". "Este STF não se dobra a intimidações", afirmou.>
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