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Frases antidemocráticas e referências à ditadura marcam governo Bolsonaro

Frases antidemocráticas e referências à ditadura marcam governo Bolsonaro

Citações ao AI-5 e elogios a ditadores já foram proferidos pelo presidente e seus filhos e ministros

Publicado em 26 de novembro de 2019 às 13:57

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Jair Bolsonaro em um Café da Manhã com Ministros e Parlamentares. (Marcos Corrêa/PR)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, trouxe o AI-5 novamente à pauta nesta segunda-feira (25). Em coletiva de imprensa em Washington, nos EUA, ele afirmou que "que não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil". 

A declaração fazia referência à convulsão social e institucional em países da América Latina e a uma possível radicalização também no Brasil, motivada principalmente por declaração de Lula, que, após ser solto, pediu "a presença do povo nas ruas".

Frases antidemocráticas têm sido pauta quase constante no governo Bolsonaro. O próprio presidente afirmou, em entrevista ao jornalista José Luiz Dantena, em março deste ano, que "não houve ditadura no Brasil". E que, como qualquer casamento, o regime teve alguns "probleminhas".

Na época, Bolsonaro determinou ao Ministério da Defesa que fossem feitas "as devidas comemorações" relacionadas ao 31 de março de 1964, data do golpe de Estado no Brasil.

Depois, ao reclamar sobre a atuação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo, Bolsonaro disse que poderia explicar ao presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar. "Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele."

FILHOS

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) escreveu em setembro, em uma rede social, que por vias democráticas as mudanças rápidas desejadas no país não aconteceriam.  A postagem do filho do presidente foi alvo de críticas de políticos e da OAB, que viram nela uma ofensa ao sistema democrático brasileiro. 

Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou, em entrevista à jornalista Leda Nagle, que "se  a esquerda brasileira radicalizar, uma resposta pode ser via um novo AI-5". 

"Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada", disse o filho 03 do presidente.

MINISTROS

Após a fala polêmica de Eduardo Bolsonaro, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, disse em entrevista ao Estado de S.Paulo que editar um "novo AI-5", como sugeriu o deputado, exigiria estudos. 

"Não ouvi ele falar isso", afirmou. "Se falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Se houver uma coisa no padrão Chile [no Brasil], é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter."   

O ministro da economia, Paulo Guedes, também minimizou a declaração de Eduardo. "Até onde pode ir o presidente da República, até onde pode ir um deputado, até onde pode ir um sindicato? Até onde não ameace a liberdade dos outros, o direito dos outros", completou. "O Brasil está funcionando extraordinariamente bem em termos institucionais."

Já o ministro da educação,  Abraham Weintraub, usou as redes sociais para exaltar a monarquia no feriado da Proclamação da República, dia 15 de novembro. "Não estou defendendo que voltemos à Monarquia mas... O que diabos estamos comemorando hoje? Há 130 anos foi cometida uma infâmia contra um patriota", afirmou, se referindo ao monarca dom Pedro 2º. 

Após uma internauta dizer que ele, na monarquia, seria o bobo da corte, o ministro rebateu: "Prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe". O post foi apagado.

DECRETOS

A declaração também gerou reações de diversos setores, incluindo políticos e magistrados. 

Em agosto, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma MP (medida provisória) que permite a empresas de capital aberto a publicação de balanços no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou do DO (Diário Oficial), em vez de veículos impressos.

Na ocasião, ele questionou se a "imprensa de papel" iria publicar o anúncio e ironizou: "Eu espero que o Valor Econômico sobreviva à medida provisória de ontem".

Um mês antes, o presidente excluiu o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e reduziu a participação da sociedade no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad).

AFAGOS E ATAQUES

No início do ano, em visita à hidrelétrica de Itaipu, o presidente chamou o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1912-2006) -cujo governo foi marcado por crimes de assassinato, tortura e corrupção-, de "estadista". "Isso tudo não seria suficiente se não tivesse, do lado de cá [paraguaio], um homem de visão, um estadista, que sabia perfeitamente que seu país, o Paraguai, só poderia prosseguir, progredir, se tivesse energia."

Já a referência que fez a Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para direitos humanos e ex-presidente do Chile, foi outra. Após ela dizer em uma entrevista coletiva que o Brasil sofre uma "redução do espaço democrático", Bolsonaro atacou o pai de Bachelet, morto sob Pinochet, e defendeu o golpe no Chile.

"Diz ainda [Michelle] que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece de que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai, brigadeiro à época", disse o presidente. 

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Mais recentemente, Bolsonaro afirmou em entrevista ao site O Antagonista que pode se apoiar na Lei de Segurança Nacional contra declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), solto após decisão do STF sobre prisão em segunda instância. "Temos uma Lei de Segurança Nacional que está aí para ser usada", afirmou. "Nós acionaremos a Justiça quando tivermos mais do que certeza de que ele está nesse discurso para atingir os seus objetivos."

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