Publicado em 23 de março de 2021 às 12:52
- Atualizado há 5 anos
Sob pressão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de quem recebe mensagens via WhatsApp inclusive durante a madrugada, o governador interino do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), resistiu nos últimos dias a adotar restrições mais duras contra o recrudescimento da pandemia do novo coronavírus. >
A resistência à suspensão de atividades em setores não essenciais, como bares e restaurantes, colocou o governador em conflito com o prefeito da capital, Eduardo Paes (DEM), que tentava consenso no estado para a adoção das medidas, recomendadas por especialistas.>
A divergência tornou-se pública nas redes sociais nesta segunda-feira (22). Além da objeção do presidente, reafirmada por Bolsonaro em um telefonema na tarde desta segunda-feira, Castro também se rendeu aos apelos do setor produtivo fluminense, que divulgou nota contrária ao fechamento do comércio.>
Se Castro já havia começado seu governo em dívida com clã Bolsonaro para garantir sustentação à sua administração, a dependência aumentou com a mais recente pressão sobre o sistema de saúde.>
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Nesta segunda-feira, o Rio de Janeiro tinha 85% dos leitos de UTI da rede SUS ocupados. Castro quer que essa demonstração de lealdade seja recompensada com a abertura de leitos inativos em hospitais federais e obtenção de auxílio para contratação de pessoal.>
Na sexta-feira (19), o governador recebeu um telefonema do gabinete do presidente, que o convidou para uma reunião em Brasília na próxima quarta-feira (24). Castro, que embarca nesta terça-feira (23) para a capital, quer aproveitar a viagem para garantir o socorro à saúde estadual.>
Naquele dia, o governador interino anunciou nas redes sociais que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, havia se comprometido a abrir 150 leitos para pacientes com Covid-19 na rede federal. "Estamos na corrida para salvar vidas!", comemorou.>
A meta é abrir 500 leitos no Estado. Na visita a Brasília, onde será acompanhado pelo primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Castro vai solicitar a estadualização temporária de dois hospitais federais para atendimento de pacientes de Covid-19.>
Castro investia em seu relacionamento com a família presidencial, o prefeito Eduardo Paes buscava apoio do prefeito de Niterói, Axel Grael (PDT), para adoção de medidas restritivas, em resposta ao aumento da transmissão da doença.>
Em entrevista nesta segunda-feira, quando anunciou a suspensão na capital das atividades presenciais de setores não essenciais, Paes afirmou que adiou a decisão porque ainda tentava buscar um acordo com o governo estadual.>
"O ideal seria que a gente estivesse comunicando de maneira integrada medidas que dessem clareza para a população. Infelizmente isso não foi possível", disse.>
No dia anterior, Paes e Castro se reuniram para tratar de novos decretos, mas não alcançaram um consenso. Em entrevista ao jornal O Globo, o prefeito afirmou que o governador chegou com um "pacote pronto", fechado para o diálogo.>
No sábado (20), véspera do encontro agendado com o prefeito, o governador havia se encontrado com empresários e comerciantes, com os quais se comprometeu não suspender as atividades. Paes não foi convidado para a reunião.>
Na segunda-feira, o prefeito expôs sua contrariedade nas redes sociais. Após Castro afirmar ao portal G1 que o decreto estadual, menos rígido, se sobreporia ao municipal, Paes escreveu: "CastroFolia! A micareta do governador! Definitivamente ele não entendeu nada do objetivo de certas medidas".>
Há dez dias, em entrevista à imprensa, o próprio governador havia reconhecido que os municípios têm autonomia para adotar restrições mais duras que o estado, a depender do cenário na rede de saúde da localidade.>
Naquela ocasião, Castro havia marcado um encontro com empresários e prefeitos da Região Metropolitana para anunciar medidas restritivas em acordo com o setor produtivo, limitando apenas o horário de funcionamento das atividades.>
O governador tentou passar a mensagem de que todas as determinações seriam construídas junto aos prefeitos, em permanente diálogo.>
Naquele dia, afirmou que no Rio não haveria "governador brigando com governador" e "governador brigando com presidente", em aparente referência ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com quem havia se estranhado publicamente naquela semana.>
Nesta terça-feira (23), o governador conversará com cerca de 90 prefeitos, divididos em regiões, por teleconferência.>
Pouco experiente, Castro tem tentado se viabilzar para as eleições de 2022 como um político que transita entre diferentes partidos e linhas ideológicas. Por isso, ser tachado como um negacionista da pandemia, assim como Bolsonaro, iria de encontro à estratégia do governador. Seu desafio será retribuir o suporte da família presidencial sem ganhar o rótulo.>
Nos seis meses de administração, Castro fez indicações que agradaram nomes de diversos setores da política nacional: desde o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) até o ex-governador Anthony Garotinho e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM).>
Nos bastidores da política fluminense, a dúvida é se ele conseguirá aglutinar em torno de sua candidatura políticos que têm visões de mundo opostas e que, muitas vezes, são notórios desafetos.>
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