Publicado em 23 de março de 2021 às 09:55
- Atualizado há 5 anos
A adoção de uma retórica pró-vacina e a mudança do titular do Ministério da Saúde não foram suficientes para melhorar a imagem dos presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais diante da escalada de mortes pelo coronavírus. >
Segundo estudo feito pela empresa de análise de dados Arquimedes, a tentativa do presidente de melhorar a avaliação do governo nos canais digitais, usados como uma bússola que orienta as medidas da gestão federal, não surtiu até o momento o efeito desejado no Palácio do Planalto.>
A análise, feita a pedido do jornal Folha de S.Paulo, aponta que a defesa ao presidente no combate à doença tem se resumido apenas aos perfis de eleitores cativos e não tem conseguido ganhar capilaridade em públicos que, vez ou outra, se alinham ao governo, como os lava-jatistas e os liberais.>
Os dois tipos de perfis, pelo contrário, têm adotado um discurso mais próximo ao de opositores do presidente. Eles responsabilizam o governo federal tanto pela gravidade da pandemia como pela piora na atividade econômica.>
>
"A retórica de Bolsonaro que poderia ser recebida de maneira positiva por um grupo expandido de perfis nas redes sociais tem produzido um impacto efêmero, porque, na sequência, o presidente tem feito declarações polêmicas", explica Pedro Bruzzi, analista e sócio da Arquimedes.>
Como a Folha de S.Paulo antecipou no início do mês, com a queda nos índices de popularidade na redes sociais, o presidente adotou estratégia de recuperação de imagem apelidada de Plano Vacina. Sob pressão de empresários e deputados, Bolsonaro passou a defender o imunizante e anunciou a saída do general Eduardo Pazuello da Saúde.>
Como parte do plano de marketing, o governo federal pretende lançar até o início de abril uma campanha de vacinação em cadeia nacional de televisão e rádio. A peça publicitária irá estimular a população a se informar sobre a imunização de sua faixa etária e deve explorar a imagem do Zé Gotinha.>
Em paralelo, o presidente passou a usar máscara de proteção em público, o que vinha resistindo a fazer, e irá se vacinar no próximo mês, para quando está programada a imunização de sua faixa etária. A ideia é que ele seja vacinado pelo novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga – que ainda não tomou posse – , e receba uma dose da AstraZeneca, produzida pela Fiocruz.>
Apesar da mudança de postura, que já tem ocorrido há mais de duas semanas, as críticas ao presidente nas redes sociais não sofreram redução significativa. A análise da Arquimedes aponta que o discurso pró-vacina teve um impacto positivo inicial, mas que logo se dissipou quando passou a ser associado a uma motivação eleitoral relacionada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).>
Lula defendeu a vacinação contra o coronavírus e a utilização de máscara em discurso público após decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal) ter anulado condenações contra ele no âmbito da Operação Lava Jato. A medida o tornou elegível.>
O estudo mostra ainda que, em um primeiro momento, a saída de Pazuello da Saúde teve um impacto positivo para a imagem do governo nas redes sociais. Antes da confirmação da mudança na pasta, as menções negativas ao general eram de 71,5%, enquanto 28,5% se posicionavam a favor.>
Com o anúncio do nome do cardiologista Marcelo Queiroga como novo ministro, as menções favoráveis ao médico chegaram a 41,5%. Nos dias seguintes, no entanto, o efeito positivo se dissipou e o percentual favorável a Queiroga caiu para 18%. Segundo a análise, a redução se deu após o novo ministro ter afirmado que foi convocado para dar continuidade ao trabalho de Pazuello.>
"A base de apoio do governo no debate digital segue se isolando cada vez mais. Lava-jatistas e liberais não mais o apoiam e, mais do que isso, o responsabilizam pela situação gravíssima da pandemia e da economia", diz Bruzzi.>
A análise mostra ainda que a adesão do eleitorado cativo do presidente ao discurso pró-vacina foi gradual. Assim como o presidente, que criticava inicialmente a Coronavac, os perfis bolsonaristas encampavam retórica contrária à vacina até o final de janeiro.>
O estudo mostra que o termo "vachina", que se refere ao fato do imunizante ter sido desenvolvido por uma farmacêutica chinesa, foi utilizado mais de um milhão de vezes no Twitter entre outubro e janeiro. Com a evolução da vacinação em todo o país, que utilizou o imunizante produzido no Brasil pelo Instituto Butantan, houve uma queda no número de referências ao termo "vachina". As menções caíram a 135 mil de fevereiro até a semana passada.>
A análise mostra ainda que, além de reduzirem os ataques à Coronavac, os perfis de eleitores cativos passaram a defender recentemente a AstraZeneca. Ainda assim, contas bolsonaristas seguem pregando o consumo de medicamentos cuja eficácia contra a doença não é comprovada.>
"Eu devo mudar meu discurso? Eu devo me tornar mais maleável? Eu devo ceder? Fazer igual a grande maioria está fazendo? Se me convencerem do contrário, faço, mas não me convenceram ainda. Devemos lutar é contra o vírus, e não contra o presidente", disse Bolsonaro nesta segunda-feira (22).>
O estudo da Arquimedes também observou que uma das críticas encampadas pelo presidente conseguiu ultrapassar o núcleo duro de apoio ao governo e ganhou adesão de perfis considerados moderados: a oposição a medidas restritivas por governos municipais e estaduais, que estão sendo genericamente chamadas de lockdown.>
Bruzzi explica que, pela análise da empresa, o apoio fora do eleitorado bolsonarista não se deve à descrença em relação ao perigo da doença, mas a uma falta de alternativa financeira que assegure a manutenção da renda familiar.>
"O discurso contra o lockdown já ultrapassa a base bolsonarista por uma falta de alternativa, já que a maioria das pessoas não tem poupança suficiente para um período de paralisação da atividade econômica, como a ocorrida no ano passado", observa.>
Para o analista, a dificuldade de Bolsonaro em reduzir o desgaste de imagem nas redes sociais se deve pela contradição da retórica presidencial em relação à vacinação.>
"Há uma dificuldade de compreensão sobre por que o presidente era contra a vacina e, da noite para o dia, virou a chave e agora a apoia. E há também um descrédito, porque não conseguiram fechar contratos suficientes para importar um volume de vacinas suficiente para imunizar a população", afirmou.>
O estudo aponta também que, apesar da imagem negativa nas rede sociais, o presidente tem conseguido manter um crescimento estável de seu número de seguidores nos últimos meses. A análise observa, contudo, que enquanto Bolsonaro teve a adesão de 690 mil pessoas no Twitter nos últimos seis meses, Lula teve um crescimento de 930 mil.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta