Repórter de Economia / [email protected]
Publicado em 26 de setembro de 2021 às 13:42
Um caso que parou o país e até hoje permanece no imaginário dos brasileiros como um dos mais chocantes da história. Após 19 anos, o assassinato de de Manfred e Marísia von Richthofen, em 2002, voltou ao debate depois de ter ganhado no último fim de semana dois filmes que trazem duas versões sobre o crime.>
Em "O Menino que Matou Meus Pais", é apresentada a versão de Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos de prisão pelo assassinato dos pais. Já "A Menina que Matou os Pais" traz a versão de Daniel Cravinhos, também condenado a 39 anos pelo assassinato dos pais da namorada. >
Os filmes criam uma situação de "ele disse, ela disse". O ponto de partida de ambos é o começo da relação do casal, assim como o desfecho, com a cena do crime, também é igual. Mas o que interessa aos realizadores é justamente como o casal acuado diante da Justiça oferece visões radicalmente diferentes do seu relacionamento.>
Se os dois longas concluem inevitavelmente com o crime violento, seu desenvolvimento se dá muito mais na descrição de dois romances destrutivos marcados pela manipulação. Logo, "A Menina que Matou os Pais" é um filme sobre como Suzane, vivida por Carla Diaz, aos poucos envolve Daniel, interpretado por Leonardo Bittencourt, numa narrativa de monstruosidade dos pais, que faça com que ele resolva "salvá-la".>
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Já "O Menino que Matou Meus Pais", se concentra em mostrar Daniel como um alpinista social que seduz Suzane e que, diante das dificuldades criadas pelos pais dela, resolve eliminá-los. A ambição e jeito malicioso do rapaz são colados em primeiro plano com múltiplas sequências de chantagem emocional.>
Ambos os filmes remontam o homicídio, de 2002, e o julgamento do caso, ocorrido em 2006, quatro anos depois do crime, episódio que novamente parou o país. >
O Júri Popular durou mais de 65 horas e terminou com a condenação, além do casal de namorados, do irmão de Daniel, Cristian Cravinhos, que foi condenado a 38 anos de prisão.>
Segundo a versão da polícia e da acusação, Manfred e Marísia von Richthofen foram assassinados no dia 31 de outubro de 2002, quando dormiam em sua casa, no bairro do Brooklin, Zona Sul da capital paulista. >
Suzane, seu namorado na época, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian Cravinhos, entraram na casa em silêncio. Os irmãos subiram as escadas com Suzane, que os avisou que os pais dormiam. >
Então, os irmãos desferiram golpes de barra de ferro contra Manfred e Marísia. Após matarem o casal, os dois cobriram os corpos com uma toalha molhada e sacos plásticos. >
Suzane ficou na biblioteca durante a execução. Ela ajudou a recolher as barras ensanguentadas e mostrou sangue frio ao espalhar documentos pelo quarto para simular um assalto >
A biblioteca também foi desarrumada. Uma mala do pai foi arrombada e foram levados cerca de US$ 5 mil, R$ 8 mil e joias do casal. O dinheiro ficou com Cristian, que acabou usando uma parte do montante para comprar uma moto. >
Ao deixarem o local do crime, Daniel e Suzane seguiram para um motel em São Paulo, enquanto Cristian foi a um hospital para visitar um amigo na tentativa de forjar um álibi para a noite do crime. >
Depois de algum tempo, Daniel e Suzane foram ao encontro de Andreas von Richthofen, irmão da jovem, que havia sido deixado por Daniel em um cibercafé. Ao chegarem em casa, Suzane se mostrou surpresa com o acontecido e ligou para a polícia informando do crime. >
No decorrer das investigações, a delegada responsável pelo inquérito, Cíntia Tucunduva, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), suspeitou do comportamento de Suzane e Daniel, que protagonizavam cenas de amor mesmo diante da tragédia, de acordo com a delegada.>
Outro motivo de suspeita foi a arma deixada na cama do casal, o que afastou a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte). Além disso, os pais de Suzane foram mortos a marretadas, e não a tiros.>
Mas a principal pista veio após a polícia descobrir que o cunhado de Suzane comprou uma moto pouco após o crime e pagou com dinheiro vivo usando dólares. Foi a partir dessa descoberta que os irmãos Cravinhos e Suzane entraram no radar da polícia.>
A família aristocrata, de classe média alta, não aprovava o relacionamento de Suzane com Daniel, que era de família pobre. Segundo a polícia, essa desaprovação foi o motivo do crime, considerado torpe pelo júri.>
No dia 8 de novembro de 2002, Suzane e os irmãos Cravinhos confessaram, em interrogatório à delegada, o assassinato do casal Richthofen.>
Em 2006, após 65 horas de julgamento, Suzane von Richthofen e os irmãos Cravinhos foram condenados por homicídio triplamente qualificado e fraude processual, por terem simulado um assalto para enganar a polícia. >
Daniel e Suzane foram condenados a 39 anos e seis meses de prisão e Christian a 38 anos e seis meses.>
Em 2015, em entrevista concedida de dentro da penitenciária ao apresentador Gugu Liberato, Suzane chegou a confessar que participou do planejamento da morte dos pais, mas disse que não foi a única mentora.>
"Muita gente me pergunta se a ideia foi minha. Todos dizem que eu sou a mentora, a cabeça de tudo. Não é verdade. Uma cabeça só não pensa em tudo. É uma junção de tudo, concorrência de ideias. Eu fiz parte, mas os três bolaram aquilo. Eu acho que o Cristian sabia menos da situação, mas, infelizmente, tanto o Daniel quanto eu temos culpa nessa parte", declarou ela na entrevista.>
Suzane von Richthofen
Assassina confessa dos paisNa ocasião, Suzane também falou sobre a saudade do irmão, Andreas von Richthofen, que diz não ver desde 2006, quando foi condenada. Ele era adolescente na época do crime.>
"Eu sei que meu irmão sofreu muito, mas como ele passou estes anos, eu não sei. Se eu sofri aqui dentro, imagino ele lá fora. Quando ele diz o sobrenome, qualquer um reconhece, e ele terá que carregar isto pra sempre", afirmou Suzane, que completou: "Queria que ele pudesse me perdoar".>
Hoje com 37 anos, Suzane Von Richthofen cumpre regime semiaberto na Penitenciária Feminina de Tremembé, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.>
Recentemente ela foi autorizada pela Justiça a cursar faculdade usando da nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para conseguir acesso ao ensino superior. >
Conforme o pedido feito pela defesa, Suzane vai cursar Farmácia em uma universidade particular de Taubaté, na mesma região. >
Único herdeiro da família após decisão da Justiça em 2015, Andreas von Richthofen ficou sob a tutela de um tio. Aluno brilhante, tornou-se doutor em Química. Ele porém nunca superou a tragédia familiar.>
Na única vez em que falou publicamente desde a morte dos pais, entregou uma carta a um repórter da Rádio Estadão. Sobre o crime, disse apenas que compartilhava a raiva e a indignação contra os “três assassinos”.>
No dia 30 de maio de 2017, Andreas, aos 29 anos, foi detido sob efeito de drogas em Chácara Flora, em Santo Amaro, em São Paulo, ao tentar pular o muro de uma casa. >
Pouco depois Andreas foi internado na Casa de Saúde São João de Deus, para se desintoxicar e fazer tratamento psiquiátrico. >
* Com informações de O Globo e das agências Estado e Folhapress>
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