Publicado em 25 de setembro de 2020 às 20:14
Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí, ex-assessora de Jair Bolsonaro, registrou sua candidatura a vereadora de Angra dos Reis (RJ) com o sobrenome da família presidencial.>
Alvo de uma investigação aberta há dois anos no Ministério Público Federal de Brasília sob suspeita de ser funcionária-fantasma, Wal tem forte apoio da família Bolsonaro e de seus aliados mais fiéis no Rio de Janeiro.>
Em sua página no Facebook -criada com o nome Wal do Açaí, mas alterado para Wal Bolsonaro-, tem fotos com o senador Flávio Bolsonaro, os deputados Eduardo Bolsonaro, Hélio Lopes, Alana Passos e Anderson Moraes.>
Ela também registrou uma reunião com o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, para tratar, segundo o texto publicado, da ampliação e reurbanização do aeroporto de Angra dos Reis.>
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Os planos para a candidatura foram oficializados em julho, num evento da Polícia Rodoviária Federal na cidade. Na ocasião, ela gravou um vídeo com Flávio Bolsonaro.>
"Meus amigos de Angra dos Reis, estou aqui com a Wal do Bolsonaro. Uma referência para gente aqui na região de Angra, uma pessoa dedicada, trabalhadora, que a exemplo de várias pessoas que estão no entorno do presidente Bolsonaro, levam pedrada porque são pessoas honestas e corretas e que só querem fazer o bem ao próximo", disse o senador.>
Em vídeo de setembro, quando sua candidatura foi oficializada em convenção, Wal também comentou o novo momento.>
"Acabaram de falar aqui que a gente vai apanhar muito. Mas é apanhando que a gente aprende a bater também", afirmou ela, candidata pelo Republicanos-RJ.>
Ela declarou como ocupação atual ser recepcionista, ter ensino fundamental incompleto e não possuir nenhum bem.>
As suspeitas sobre Wal surgiram em 2018 em reportagem do jornal Folha de S.Paulo. Na ocasião, o jornal revelou que a ex-assessora trabalhava em um comércio de açaí na mesma rua onde fica a casa de veraneio do então deputado, na pequena Vila Histórica de Mambucaba.>
Segundo moradores da região, Wal, como é conhecida, também prestava serviços particulares na casa de Bolsonaro. De acordo com moradores da região ouvidos à época, o marido dela, Edenilson, era caseiro do presidente.>
Na ocasião, Bolsonaro não soube detalhar serviços prestados pela assessora na cidade. Perguntado sobre qual seria o trabalho desempenhado por ela, ele respondeu: "Ela reporta a mim ou ao meu chefe de gabinete qualquer problema na região".>
"Não tem uma vida constante nisso. É o tempo todo na rua? Não. Ela lê jornais, acompanha o que acontece".>
A reportagem pediu algum exemplo de serviços parlamentares prestados pela funcionária.>
"Peraí, ela fala com o chefe de gabinete", se limitou a dizer.>
"Como é que eu vou saber? Se eu mantiver um contato diário com meus 15 funcionários, eu não trabalho".>
Um dia depois, Bolsonaro afirmou que ela trabalhava na loja porque estava de férias na data em que os repórteres estiveram na vila.>
Em agosto, em horário de expediente, a Folha de S.Paulo voltou ao estabelecimento e encontrou Wal, com quem comprou um açaí e um suco de cupuaçu. Nesse mesmo dia, ela pediu demissão do cargo.>
Os registros oficiais da Câmara dos Deputados mostram que ela passou nesses 15 anos por 26 mudanças de cargos no gabinete. Em 2011 e 2012 ela alcançou melhores cargos -são 25 gradações.>
O mesmo ocorreu com outros assessores de Bolsonaro.>
Até abril de 2003, essa montanha-russa funcional se dava por meio de exonerações de fachada, em que o auxiliar tinha a demissão publicada e, no mesmo dia, era renomeado para o gabinete, geralmente para outro cargo.>
De acordo com o ato da mesa da Câmara 12/2003, a prática tinha como único objetivo forçar o pagamento da rescisão contratual dos assessores, com 13º salário proporcional e indenização por férias, não raro acumuladas acima do período permitido em lei.>
Nos 12 meses anteriores à edição do ato, o gabinete de Bolsonaro registrou 18 exonerações de assessores que foram recontratados no mesmo dia --9 no mês anterior, sendo um deles na véspera da publicação da medida.>
A partir de 2 de abril de 2003, a Câmara passou a só permitir a readmissão após 90 dias da saída e acabou com o pagamento de rescisão para trocas de cargos, que passaram a ser feitas pelos parlamentares sem necessidade de exoneração.>
Com isso, o carrossel salarial no gabinete do hoje presidente da República caiu para menos da metade nos 12 meses seguintes à edição do ato, de 18 para 7.>
A Folha de S.Paulo também mostrou em janeiro de 2018 que Bolsonaro não tinha uma atuação parlamentar relevante em Angra. A cidade não era destino de emendas do então deputado há mais de uma década. A votação dele também não era significativa na região.>
A investigação sobre Wal foi aberta em setembro de 2018. Ela chegou a ser travada por mais de 120 dias pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge no período em que tentava articular a sua recondução.>
A candidata a vereadora de Angra foi a primeira funcionária de Bolsonaro indicada com indícios de irregularidades.>
Após as eleições, novos casos surgiram no bojo das investigações sobre a suposta "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa. Um deles foi Nathalia Queiroz, filha de Fabrício Queiroz, suspeito de ser o operador financeiro do esquema.>
Uma das estratégias usadas para alimentar o esquema, segundo o MP-RJ, é justamente o emprego de funcionários fantasmas. No gabinete de Flávio, diz a investigação, esses servidores devolviam seus salários para Queiroz.>
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