Publicado em 16 de julho de 2020 às 15:56
Diante da interiorização da epidemia e da prevalência de infecções pela Covid-19 nas áreas mais pobres, o Instituto Estáter e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançam nesta segunda (13) o Projeto Alert(ar), uma campanha nacional para estimular o uso de oxímetros no combate precoce ao coronavírus. >
A iniciativa tem a parceria de entidades médicas, empresas e lideranças comunitárias, além de prefeituras.>
A campanha surge da constatação de que as chances de recuperação são muito maiores quando os doentes são tratados antes de terem os pulmões severamente comprometidos pela Covid-19 -daí a necessidade de medir frequentemente, com oxímetros, a taxa de oxigênio no sangue.>
Apesar de não sentirem dificuldade para respirar, muitos infectados apresentam queda perigosa do nível de oxigenação. No jargão médico, a chamada hipóxia silenciosa pode tornar irreversível, e em pouco tempo, o quadro pulmonar.>
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O presidente do Instituto Estáter, Percio de Souza, considera fundamental ampliar a conscientização e o uso de oxímetros para tentar diminuir a taxa de óbitos no país.>
"A interiorização da epidemia torna mais crítica a necessidade do acompanhamento da oxigenação e o tratamento inicial, especialmente para os mais vulneráveis e idosos, que não têm meios de correr sozinhos aos locais onde há leitos de UTI", diz Souza.>
No Brasil, só 6% das cidades têm leitos de UTI; e embora as 27 capitais agrupem menos de um quarto da população, elas detêm quase a metade das vagas.>
Já os leitos no interior estão concentrados em cerca de 300 municípios, deixando quase 100 milhões de brasileiros longe das UTIs. Com as distâncias e sem atendimento inicial, há cada vez mais mortes nas pequenas cidades.>
O Projeto Alert(ar) prevê conscientizar a população sobre o uso frequente do oxímetro em casos suspeitos e pretende disponibilizar milhares de aparelhos no país a pessoas treinadas que possam monitor conjuntos populacionais.>
Basicamente, a infecção pelo coronavírus se dá na sua ligação às enzimas conversoras da angiotensina 2 (ECA2). Abundantes no bulbo carotídeo, esse órgão responsável por alertar o cérebro para que o doente respire com força quando o ar falta entra em pane -e o indivíduo não percebe a queda de oxigênio em seu organismo.>
A mucosa nasal também tem muitos receptores das enzimas ECA2 -e a mesma pane explicaria a perda de olfato relatada por muitos infectados.>
Embora haja queda de oxigênio, na infecção pelo coronavírus os doentes também não retêm gás carbônico, e não sentem muita falta de ar.>
Os dados de algumas cidades monitoradas pelo projeto revelam que cerca de 40% dos doentes que morrem o fazem em casa ou nas primeiras 24 horas de internação -e que outros 40% chegam direto às UTIs, sem que tenham passado por nenhum outro tipo de atendimento.>
Já entre os pacientes atendidos em enfermarias (com oxigênio, corticoides e anticoagulantes), apenas 20% acabam precisando de UTI. Na maioria das vezes, não necessitam sequer de ventilação mecânica; só de oxigênio de alto fluxo -e ficam internados por um tempo bem menor.>
Segundo Clóvis Arns da Cunha, presidente da SBI, a falta de oxigenação no sangue começa por volta do sétimo dia. Daí a necessidade de monitorar casos suspeitos com os oxímetros e encaminhá-los a unidades de saúde sempre que a taxa de oxigenação cair abaixo de 95%.>
"A iniciativa vai nessa direção, de alerta e de conscientização", afirma.>
O Instituto Estáter e a SBI terão o apoio técnico da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), que representa médicos atuando em 47,7 mil equipes de atenção básica, e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).>
A Central Única das Favelas (Cufa), com representação em vários estados, dará capilaridade à divulgação, e empresas como Boticário, Embraer, Klabin, Gol, Grupo Ultra e o banco Voiter entrarão com apoio institucional.>
Segundo Denize Ornelas, diretora da SBMFC, uma das maiores falhas dos gestores da saúde pública no Brasil nessa epidemia foi não ter disponibilizado oxímetros para as esquipes de atenção básica.>
Com a exceção das cidades maiores, poucas equipes têm o aparelho -que pode ser comprado pela internet ao preço médio de R$ 200.>
Baseando-se nas curvas de infecções no Brasil e em outros países, Percio de Souza, do Estáter, também não enxerga até agora indícios de uma segunda onda que possa interromper novamente a atividade econômica.>
"Mas isso não justifica abandonarmos as políticas públicas para conscientizar a população e buscar meios técnicos para combater essa fase da epidemia. É preciso evitar que medidas tomadas sem embasamento acabem prejudicando ainda mais a sociedade pela via econômica.">
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