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Bolsonaro quer 'batalhão governista' para tentar bloquear retaliações do PSL

Bolsonaro quer 'batalhão governista' para tentar bloquear retaliações do PSL

Ao retornar da Ásia, presidente pretende pedir ajuda a bancadas temáticas para blindar pauta governista

Publicado em 23 de outubro de 2019 às 11:40

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O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante Solenidade do Bolsa Família. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Em um embate interno no PSL, o presidente Jair Bolsonaro tem avaliado formar uma espécie de "batalhão governista" que consiga blindar a pauta legislativa de eventuais retaliações de integrantes de seu próprio partido ligados ao presidente nacional da sigla, deputado federal Luciano Bivar (PE).

Com 53 deputados, a legenda tem a segunda maior bancada na Câmara, ficando atrás apenas do PT.

Segundo auxiliares presidenciais, ao retornar de viagem pelo continente asiático, o presidente pretende se reunir, no Palácio do Planalto, com representantes das bancadas temáticas da bala, evangélica e ruralista para pedir apoio contra possíveis movimentos de boicote.

A ideia é tentar se antecipar a iniciativas de adversários internos que, em conversas reservadas, têm feito ameaças ao presidente após ele ter atuado pessoalmente para a derrubada do deputado Delegado Waldir (GO) do posto de líder do PSL na Câmara e retirado a deputada Joice Hasselmann (SP) da liderança do governo.

Em outra frente, o Palácio do Planalto irá intensificar uma aproximação com o que tem chamado de "direita moderada". O esforço é buscar parlamentares de DEM, PSDB e PP, que têm diálogo com o governo, para tentar compensar a perda de apoio dentro do seu próprio partido.

Nesta terça-feira (22), antes de iniciar uma agenda de compromissos no Japão, Bolsonaro disse ainda que, em novembro, quer se reunir com a maior parte dos integrantes do PSL ligados a Bivar. A estratégia é de tentar atraí-los para o seu grupo, enfraquecendo o adversário.

"Vou expor minha experiência de 28 anos de carreira parlamentar. Eles embarcaram em uma canoa fantasma, aceitando promessas, como dou a lua. Isso serve para um casal de jovens, não para político com mandato de deputado federal", disse.

O esquema de candidaturas laranjas do PSL, caso revelado pela Folha de S.Paulo em uma série de publicações desde o início do ano, deu início a atual crise na legenda e tem sido um dos elementos de desgaste entre o grupo de Bivar e o de Bolsonaro, que ameaça deixar o partido. 

O escândalo dos laranjas já derrubou o ministro Gustavo Bebianno, provocou o indiciamento e a denúncia do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e levou a uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal a endereços ligados a Bivar em Pernambuco.

Nesta terça-feira, a disputa interna no PSL ultrapassou a esfera partidária, e as duas alas da sigla decidiram partir para uma ofensiva na Justiça. O pano de fundo é a tentativa de controle da legenda e de seu fundo partidário -que no final de 2019 pode chegar a R$ 110 milhões. 

Após uma sequência de embates públicos, que culminaram na troca de Delegado Waldir (GO) por Eduardo Bolsonaro (SP) como líder da sigla na Câmara, 19 deputados alinhados ao presidente Jair Bolsonaro foram alvo da abertura de um processo de suspensão no partido. 

Durante a viagem a Tóquio, onde pousou na segunda-feira (21), Bolsonaro chegou a admitir para alguns aliados que o que mais lhe decepcionou na crise do partido foi o comportamento de Joice. Segundo relatos feitos à Folha, ele disse que confiava na deputada e que, por isso, deu a ela cargo de destaque na articulação política.

Em relação a Waldir, que chegou a chamá-lo de "vagabundo", ele disse que é necessário ter paciência e controle, mas que uma reconciliação com ele se tornou impossível depois do tom usado pelo parlamentar.

Além do Japão, o presidente visitará China, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Catar. Ele só retornará ao Brasil em novembro. Apesar de estar distante da crise no partido, ele tem mantido contato sempre que possível como o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos.

Para tentar pacificar a legenda, ele defendeu que seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), abrisse mão de uma indicação como embaixador nos Estados Unidos e permanecesse no Brasil como líder da sigla, o que foi confirmado na noite desta terça-feira.

Ele disse que defendeu, em reunião no Palácio do Planalto, o nome do deputado federal Felipe Barros (PR) para a liderança do partido, mas que foi opinião vencida. E que é necessário agora "ver o que pode catar de caco" na disputa interna da sigla.

"Eu me pergunto: o pessoal tirava foto comigo, agora tira com o Bivar. O que ele tem de mais bonito ou de melhor do que eu?", questionou.

O que faz o líder do partido na Câmara?

- Representa o partido na Casa Legislativa. Cabe a ele, por exemplo, discursar na tribuna para falar em nome da sigla e fazer a orientação sobre como a bancada deve votar em cada projeto em discussão

- O titular do posto é quem negocia diretamente com o presidente da Câmara e de suas comissões as pautas, orientações e acordos

- Cabe ao líder levar o pleito da bancada em reuniões com representantes de outros poderes, em especial com o Executivo O líder tem ainda uma estrutura maior de apoio. Além do que tem direito como parlamentar, tem à sua disposição outro gabinete, com assessores e cargos

A CRISE DO PSL NESTA TERÇA (22)

1 - Pela manhã, o diretório nacional do PSL, comandado por Luciano Bivar, abriu processo de suspensão de 19 deputados alinhados a Bolsonaro e formou um Conselho de Ética para analisar o caso

2 - Pouco depois, o grupo alvo do processo conseguiu na Justiça uma liminar (decisão provisória) para suspender a ação

3 - No fim do dia, advogados de Bivar preparavam recurso para tentar reverter a decisão judicial

4 - Diretório nacional também procura brechas no regimento do partido que possam justificar a expulsão do grupo alinhado a Bolsonaro

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5 - Nesta quarta (23), deve ser oficializada a destituição de Eduardo e Flávio Bolsonaro do comando dos diretórios do PSL em SP e no RJ

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