Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 09:44
Deputados e senadores articulam a derrubada, em sessão do Congresso na terça-feira (3), de outros vetos do presidente Jair Bolsonaro a trechos da minirreforma eleitoral aprovada pelo Legislativo neste ano, que permite uso de dinheiro público para pagamento de despesas dos partidos políticos.>
Se os vetos foram rejeitados, entre os pontos que podem voltar a valer estão a recriação da propaganda partidária em rádio e TV, a possibilidade de pagamento de multas eleitorais com recursos públicos do fundo partidário e maior flexibilidade de prazo para candidato ficha-suja.>
Na semana passada, os parlamentares retomaram outros dispositivos da minirreforma que haviam sido vetados por Bolsonaro. A queda de um desses vetos, por exemplo, passa a permitir a utilização do fundo partidário para partidos comprarem passagens aéreas para não filiados para eventos relacionados à legenda, como congressos, convenções ou palestras.>
Além de ter contrariado interesses das agremiações partidárias, o governo federal tem visto seus vetos serem derrubados devido à irritação de diversas legendas que ainda não receberam as emendas parlamentares prometidas pelo Palácio do Planalto em troca da aprovação da reforma da Previdência no Congresso.>
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Auxiliares de Bolsonaro dizem que o governo tem desembolsado o que é possível, mas congressistas não estão satisfeitos com a demora no acerto do compromisso.>
Os recursos das emendas parlamentares são utilizados por deputados e senadores para atender a suas bases eleitorais, o que ganha ainda mais importância com as disputas municipais de 2020.>
Responsável pela articulação política, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) esteve com o presidente no fim do semana. Ele foi um dos integrantes da comitiva que acompanhou Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, em um show de humor gospel em Brasília, na noite de sábado (30).>
Após derrubar os vetos a 7 dispositivos da minirreforma eleitoral na última quarta-feira (27), os parlamentares destacaram outros 37 pontos para serem analisados nesta terça.>
Extinta em 2017 para a criação do fundo eleitoral, que injeta recursos públicos nas campanhas, a propaganda partidária em rádio e TV é um dos temas em discussão.>
Ela havia sido recriada pelos parlamentares, mas Bolsonaro vetou todos os pontos que tratam deste assunto sob a justificativa de que, ao assegurar acesso gratuito a tempo de rádio e televisão, a proposta aumenta a renúncia fiscal e, consequentemente, majora a despesa pública sem haver cancelamento equivalente de outra despesa obrigatória.>
O governo afirma que, além disso, a proposta do Legislativo não traz estimativa de impacto orçamentário e financeiro, contrariando a Lei de Responsabilidade Fiscal.>
Outro ponto vetado que será analisado pelo Congresso permite a utilização do fundo partidário para pagamento de juros, multas, débitos eleitorais e demais sanções aplicadas por infração à legislação eleitoral ou partidária.>
Para o Planalto, a proposta ofende o interesse público por utilizar o fundo para a defesa de interesses privados dos partidos, "desvirtuando a utilização dos recursos destinados ao atendimento das finalidades essenciais da agremiação política, como instrumento de efetivação do sistema democrático".>
Também será apreciado o veto ao trecho que estende até a data da posse o prazo para aferição das condições de elegibilidade dos candidatos, o que atualmente tem ocorrido até o dia da eleição.>
O governo federal afirma que esse dispositivo gera insegurança jurídica para a atuação da Justiça Eleitoral.>
"Precisamos derrubar os vetos da Lei Eleitoral porque houve acordo da maioria do Congresso com Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia e com Eduardo Gomes junto", diz o deputado Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP), referindo-se, respectivamente, aos presidentes do Senado e da Câmara e ao senador que é líder do governo no Congresso.>
"A lição deste ano é a questão do relacionamento [entre governo e Congresso], que vai precisar ser mais produtiva e objetiva no ano que vem por causa do calendário apertado devido às eleições municipais", afirma o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).>
Na semana passada, além de retomar a permissão do uso do fundo partidário para gastos com passagens aéreas, também foi derrubado o veto ao dispositivo que trata da composição do valor do fundo eleitoral usado para financiar as campanhas. O valor final será definido na votação do projeto de Orçamento da União para 2022.>
Na semana passada, o único veto mantido foi o do trecho que permitia aos partidos políticos prestar contas por qualquer sistema de contabilidade disponível no mercado.>
Como falta menos de um ano para as eleições municipais, a derrubada dos vetos terá efeito para 2022, e não na disputa do ano que vem -quando fica mantido o texto sancionado por Bolsonaro.>
O presidente deixou no mês passado o PSL, pelo qual se elegeu, e apresentou seu plano de criar um novo partido, a Aliança pelo Brasil, em meio ainda a incertezas sobre a viabilidade da legenda.>
Se não conseguir brechas na Justiça Eleitoral, a nova sigla pode chegar à corrida presidencial de 2022 sem recursos dos fundos partidário e eleitoral e sem tempo de rádio e TV.>
Bolsonaro tenta atrair ao menos 30 deputados do PSL e 20 de outras legendas, mas ainda não há clima nos tribunais superiores para mudar o entendimento atual de que fundo e tempo pertencem ao partido, e não ao deputado.>
Hoje, a distribuição do fundo partidário leva em conta os votos obtidos na última eleição para a Câmara, o que não garantiria esses recursos para a nova sigla de Bolsonaro. As divisões do fundo eleitoral e do tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV também são feitas com base nos dados das últimas eleições gerais -determinação tida como uma espécie de trava contra a criação desenfreada de novos partidos.>
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