Publicado em 15 de junho de 2020 às 16:55
Os ônibus municipais da cidade de São Paulo continuaram trafegando lotados nesta segunda-feira (15), uma semana após a recomendação da prefeitura para que coletivos viajassem apenas com passageiros sentados. >
A orientação pretende evitar aglomerações no transporte público e, consequentemente, minimizar o risco de contaminação pela Covid-19.>
O agora ex-secretário Municipal de Transportes Edson Caram apresentou nesta sexta-feira (12) pedido de exoneração do cargo, após o prefeito Bruno Covas (PSDB) ameaçar demiti-lo caso os ônibus continuassem rodando cheios.>
A reportagem voltou a região do Grajaú (zona sul) nesta segunda e constatou que a quantidade de veículos com pessoas viajando em pé muitos superlotados aumentou em relação à semana passada. Passageiros também relataram que os coletivos estavam mais cheios, quatro dias após a liberação para que shoppings e comércios de rua voltassem a funcionar na cidade.>
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> CORONAVÍRUS | A cobertura completa >
A cuidadora de idosos Lúcia Silva, 45 anos, voltou a usar ônibus há cerca de duas semanas, quando retomou o trabalho com a família que a emprega. Como notou os ônibus mais cheios na avenida Dona Belmira Marin, ela resolveu embarcar em uma linha mais vazia. "O ideal seria pegar a 675G-10 [Pq. Residencial Cocaia-Metrô Jabaquara], mas esta é muito lotada e me sinto insegura de viajar nela", disse.>
No mesmo ponto de ônibus, o promotor de vendas Carlos Machado, 42, não conseguiu embarcar no primeiro ônibus da linha 6115-10 (Terminal Grajaú-Cantinho do Céu), pois o veículo estava muito cheio e o motorista não parou.>
"Sempre uso esta linha, que enche de gente. Já vi o motorista negando viagens mais adiante, quando [o veículo] fica mais cheio. Mas neste ponto aqui, é a primeira vez que acontece." Machado ainda disse que chegaria atrasado ao trabalho.>
Em dez minutos, 23 ônibus passaram pelo ponto onde estavam a cuidadora e o promotor de vendas. Destes, 13 estavam bem cheios e com pessoas viajando em pé.>
Um motorista de ônibus afirmou, em condição de anonimato, que os coletivos circulam cheios de passageiros pois não há fiscalização nas ruas e corredores. Segundo ele, somente nos terminais há fiscais.>
A falha na fiscalização também é apontada pelos passageiros. A psicóloga Camila Santos, 34 anos, conta que o ônibus que utiliza sai do Terminal Grajaú (zona sul de SP) com quase todos os assentos ocupados e sem passageiros em pé.>
"Mas é só ir para a rua que as pessoas começam a embarcar e [o veículo] começa a encher de gente, inclusive em pé." Quando retorna do trabalho, por volta das 16h, Camila diz que os coletivos chegam ao terminal abarrotados de pessoas.>
Tanto passageiros quanto motoristas de ônibus entrevistados pela reportagem foram unânimes em dizer que a lotação dos ônibus está bem próxima do que era antes da pandemia.>
Por volta das 7h30, a atendente de call center Liliane Marques Duarte, 24 anos, aguardava ônibus na parada Rio Bonito, em Cidade Dutra (zona sul de SP), para seguir a Santo Amaro, onde trabalha.>
Ela conta que desde o fim da semana passada, já se sente como "antes da quarentena", decretada pelo governo estadual em 24 de março. "O número de passageiros voltou à rotina do que era antes [da pandemia]. A única diferença é que o povo agora está usando máscaras.">
Liliane usa a linha 695H-10 (Jd. Herplin-Terminal Santo Amaro) que, segundo ela, está sempre lotada. "Nunca consigo viajar sentada", diz.>
Enquanto a atendente falava com a reportagem, um ônibus da linha 5370-10 (Terminal Varginha-Largo São Francisco) parou no ponto e muitos passageiros desembarcaram. Mesmo assim, o coletivo ainda ficou lotado.>
Uma mulher se aproximou do veículo e bateu com a mão na porta de embarque, que estava fechada. O motorista abriu e ela teve de pedir licença aos demais passageiros para conseguir entrar, em razão da grande quantidade de pessoas>
A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou ter orientado as empresas de ônibus a realizar viagens, sem exceder a capacidade máxima de passageiros sentados, em decorrência do uso das linhas por trabalhadores de serviços que voltaram a funcionar na cidade. >
"O objetivo é reduzir a disseminação do vírus", diz trecho de nota.>
A SPTrans (empresa que gerencia o transporte público da capital paulista) afirmou que acionou sua equipe de fiscalização para apurar o desempenho operacional das linhas citadas pela reportagem e fará os ajustes, quando necessários.>
A fiscalização é realizada por 673 profissionais, afirma a empresa.>
Ainda segundo o governo municipal, a frota em funcionamento nesta segunda é de 11.828 carros, representando 92,31% da frota operacional. Os veículos atendem 1.266 linhas para uma demanda de 1,3 milhão de pessoas, segundo registrado na última sexta (12).>
Segundo a pasta, em reunião realizada na última quarta (10), entre a Secretaria Municipal dos Transportes e representantes das empresas de ônibus, foi reconhecida a "impossibilidade de retorno de toda a frota às ruas", por causa do percentual de funcionários afastados por integrar o grupo de risco de contágio da Covid-19.>
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