Publicado em 28 de janeiro de 2021 às 10:09
- Atualizado Data inválida
Um artigo da agente literária Lucia Riff com a indicação de "seis autoras para não perder de vista" foi retirado do site da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) na última segunda-feira (25). >
A reportagem apurou que o órgão decidiu apagar a publicação ao perceber que os conteúdos dos livros tratavam de críticas ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) e de autores que já tiveram desafetos com a gestão ou com o próprio presidente da República.>
O ato teria sido uma das formas de o presidente da Apex, o contra-almirante Sergio Ricardo Segovia Barbosa, agradar a Bolsonaro e evitar atritos, tendo em vista que o cargo está em jogo a pedido do centrão.>
O caso foi divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Nomeado em maio de 2019, Barbosa é o terceiro presidente da agência. Antes dele, passaram pelo comando da Apex e perderam o cargo Alecxandro Carreiro e o embaixador Mario Vilalva.>
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A Apex afirmou, em nota, que a publicação do artigo se deu pelo sistema de publicação automático do site. Isso ocorre após entidades parceiras enviarem seus conteúdos para o órgão.>
"Por conta da discrepância entre o descritivo dos livros na matéria e da informação passada, retiramos a matéria do ar para averiguar o conteúdo em questão", afirmou o órgão.>
Entre as indicações de livros de não ficção estavam "A Máquina do Ódio", da jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello; "Brasil, Construtor de Ruínas", da jornalista Eliane Brum; e "A Defesa do Espaço Cívico", de Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé e colunista da Folha de S.Paulo.>
Em fevereiro do ano passado, Bolsonaro insultou Patrícia com insinuação sexual. Isso ocorreu após reportagem da Folha de S.Paulo revelar que uma rede de empresas recorreu ao uso fraudulento de nomes e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.>
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também ofendeu a jornalista. Na semana passada, ele foi condenado a indenizar Patrícia em R$ 30 mil por danos morais.>
Já Ilona tem posições contrárias a propostas do governo, como a flexibilização do porte de armas.>
Após pressão de Bolsonaro, a nomeação da especialista em segurança pública foi revogada como membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Ela havia sido nomeada ainda na gestão de Sergio Moro à frente do Ministério da Justiça.>
"O governo tenta calar pessoas que divergem, e os chama de inimigos. E é sobre as expressões e consequências dessa intolerância que falo no meu livro censurado: 'A Defesa do Espaço Cívico'. Para mim mais esse fato só prova que eu precisava escrevê-lo", escreveu Ilona em uma rede social.>
Em suas colunas, Eliane Brum também faz críticas ao governo Bolsonaro. Entre os artigos está "Cem dias sob o domínio dos perversos", publicado em abril de 2019 no site da versão brasileira do jornal El País.>
Livros de outras três autoras apontados na lista são de ficção: "Suíte Tóquio", de Giovana Madalosso; "O Peso do Pássaro Morto", de Aline Bei; e "O que Ela Sussurra", de Noemi Jaffe.>
A lista havia sido encomendada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), parceira da Apex no Brazilian Publishers, projeto de fomento à exportação de conteúdos editoriais do Brasil.>
A agente literária Lucia Riff disse que não teve contato com ninguém da Apex e não havia sido avisada sobre a retirada do artigo no site. Segundo ela, a escolha dos livros não envolveu questões políticas.>
"O convite veio da CBL, que nos pediu sugestões de livros de autores brasileiros que pudessem interessar às editoras de outros países para a coluna Brazilian Curators", disse.>
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