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Andifes, sobre escolhas de Bolsonaro: 'ataque à autonomia constitucional'

Andifes, sobre escolhas de Bolsonaro: "ataque à autonomia constitucional"

A Associação dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior contabiliza 14 nomeações em que os primeiros colocados em votações da comunidade acadêmica têm sido desprezado

Publicado em 19 de setembro de 2020 às 12:31

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Jair Bolsonaro durante encontro com Paulo Skaf, presidente da Fiesp
Jair Bolsonaro durante encontro com Paulo Skaf, presidente da Fiesp. (Marcos Corrêa )

O Conselho da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) criticou nesta sexta-feira (18), as nomeações do presidente Jair Bolsonaro para a direção de unidades de ensino, que têm desprezado os primeiros colocados em votações da comunidade acadêmica. A associação contabiliza 14 nomeações nessas condições desde o início da gestão presidencial, o que é visto como "um ataque à autonomia constitucional das universidades federais".

Na quarta-feira (16), o professor Carlos André Bulhões Mendes foi nomeado como reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por Bolsonaro. Bulhões, apesar de integrar a lista de candidatos a reitor enviada pela UFRGS ao Ministério da Educação (MEC), não foi o primeiro colocado na consulta pública acadêmica feita em julho.

O presidente da Andifes, Edward Madureira Brasil, que é reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), defende que o primeiro da lista seja o nomeado, como vinha sendo feito há pelo menos 20 anos, mesmo que no decreto nº1.916 de 23 de maio de 1996, esteja previsto que o presidente possa escolher qualquer nome da lista.

"Cada universidade regulamenta e define o processo de escolha de seus dirigentes e na grande maioria das vezes nós tivemos o respeito a essa lista e a nomeação do primeiro colocado. Do ano passado pra cá, isso deixou de ser uma prática corriqueira, e temos pessoas sendo escolhidas com porcentual de representatividade muito baixo sendo nomeadas como reitores. Mesmo que legal, há um claro problema de legitimidade", comenta o presidente da Andifes.

De acordo com a instituição, o posicionamento não tem a ver com a capacidade de gestão do segundo e terceiro colocado da lista, mas sim o respeito à comunidade que se pronunciou. Casos como a nomeação de Bulhões geram estagnação, falta de estabilidade e dificuldades na administração das universidades, uma vez que o reitor não consegue colocar suas ideias em prática. "O projeto escolhido por aquela comunidade acadêmica foi outro. A autonomia acadêmica não deve sofrer pressão de governo e qualquer grupo de interesse. A pesquisa e a ciência devem ter liberdade", completou o vice-presidente Marcus David (UFJF).

Para assegurar que a nomeação do primeiro colocado aconteça, a Andifes está articulando com o Ministro da Educação e sensibilizando a população dos prejuízos da conduta do presidente Jair Bolsonaro. "Nós estamos condenando a instituição a um retrocesso de gestão. Se quisermos um sistema robusto de pesquisa, ensino, extensão, cultura e inovação, quem deve conduzir é quem possui legitimidade. Precisamos sensibilizar o governo de que nossa defesa é a defesa do desenvolvimento científico", reforça Marcus David. Outra alternativa seria a alteração da legislação para a dos institutos federais cujos conselhos indicam apenas um nome.

A reportagem não obteve resposta ao pedido de posicionamento feito à Presidência da República. Na ocasião da nomeação na UFRGS, o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) ressaltou a legalidade da escolha. "O reitor foi escolhido dentro da lei, numa lista tríplice. Quem quiser nomear o reitor que faça 58 milhões de votos", afirmou.

CORTES ORÇAMENTÁRIOS PREOCUPAM INSTITUIÇÕES

A Andifes diz que, diante dos cortes previstos no orçamento do Ministério da Educação, o custeio e os investimentos das universidades federais poderá ser inviabilizado, "levando à paralisação da ciência, da pesquisa e da educação superior pública e gratuita".

"O orçamento é insuficiente para fazer face às despesas de manutenção. Tivemos 17,5% reduzidos. Estamos diante de dois problemas, que prejudicam enormemente o funcionamento das universidades, que são instituições que podem apontar uma saída segura à crise econômica e de saúde pública", destaca Edward. A Andifes está trabalhando para reverter o corte junto ao Congresso Nacional.

Edward Madureira comenta que o corte anunciado para 2021 somados aos três anos sem reajustes implica em algumas universidades terminando o ano com despesas em aberto e iniciando o próximo com dívidas - isso num período em que a população estaria vivendo os impactos da pandemia.

"Algumas universidades não conseguiram chegar nem ao meio do ano, tendo interrupção de serviços essenciais como segurança, limpeza e energia", conta o presidente. Paralelamente, o corte atinge os recursos das políticas de assistência estudantil, o que causa suspensão de bolsas.

A segunda vice-presidente Joana Angélica Guimarães (UFSB), aponta que o corte já comprometeu a capacidade das universidades se reinventarem. "Não há mais onde cortar e se continuar assim, haverá uma mudança na forma como atuamos e atendemos, tornando as universidades elitistas. A universidade de ensino superior terá de buscar alternativas que não condizem com sua natureza que é a qualidade, democracia, acesso público, perdendo o patrimônio construído até aqui", diz.

Em nota, o Ministério da Educação disse que a crise econômica causada pela pandemia fará com que a administração pública tenha de lidar com redução no orçamento, "o que exigirá um esforço adicional na otimização dos recursos públicos e na priorização das despesas".

"Objetivando minimizar o impacto da redução do orçamento para 2021, além da liberação de 100% dos recursos alocados diretamente nas universidades federais na LOA de 2020, o MEC liberou recursos adicionais para as universidades voltados à projetos de redução de despesas como, por exemplo, painéis fotovoltaicos, vigilância eletrônica, conclusão de obras para redução de aluguéis, ações de inovação, combate à pandemia da Covid-19, conectividade à internet, entre outras, que totalizaram aproximadamente R$ 450 milhões", disse o MEC.

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