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Assessores dizem ter se reunido com Carlos Bolsonaro antes de depoimentos à PF

Assessores dizem ter se reunido com Carlos Bolsonaro antes de depoimentos à PF

Na véspera, o filho do presidente Jair Bolsonaro foi ouvido em inquérito do STF sobre atos antidemocráticos

Publicado em 19 de setembro de 2020 às 10:25

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Carlos Bolsonaro, vereador do Rio e filho do presidente Jair Bolsonaro
Carlos Bolsonaro, vereador do Rio e filho do presidente Jair Bolsonaro. ( Renan Olaz/CMRJ)

Assessores especiais da Presidência apontados como integrantes do "gabinete do ódio" disseram à Polícia Federal que se reuniram com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) horas antes de serem interrogados no inquérito do Supremo dos atos antidemocráticos.

Os encontros, segundo Tércio Tomaz Arnaud e José Matheus Sales Gomes, ocorreram na manhã da sexta-feira (11). À tarde, os dois foram ouvidos pelos investigadores.

Filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o vereador prestou depoimento à PF no Rio de Janeiro na véspera, quando respondeu a perguntas sobre o envolvimento de aliados do chefe do Executivo nos atos antidemocráticos.

A delegada da PF Denisse Dias Rosas Ribeiro, encarregada do inquérito, quis saber dos dois auxiliares de Bolsonaro na Presidência quando estiveram pela última vez com Carlos. A reportagem teve acesso aos dois interrogatórios.

Tércio respondeu que almoçou com o vereador naquela sexta-feira. José Matheus, por sua vez, afirmou que esteve com o filho 02 do presidente na parte da manhã, mas "que não conversaram sobre os detalhes da oitiva de Carlos Bolsonaro".

Conforme o jornal Folha de S.Paulo antecipou nesta quinta-feira (17), Carlos disse à PF que não é "covarde ou canalha a ponto de utilizar robôs e omitir essa informação".

O vereador admitiu relação com contas pessoais de Bolsonaro nas redes sociais. Disse que não participa da política de comunicação do governo federal e que "tem relação apenas com divulgação dos trabalhos desenvolvidos pelo governo federal nas contas pessoais do declarante e do seu pai".

Aberta por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a apuração busca identificar os responsáveis pela organização e financiamento de manifestações contra integrantes do STF e do Congresso Nacional.

Nesta sexta-feira (18), a defesa do ex-ministro da Sergio Moro recebeu intimação da PF para que ele seja interrogado neste inquérito na condição de testemunha.

A oitiva é motivada, segundo os advogados de Moro, por ele ter comandado a pasta da Justiça e Segurança Pública à época dos fatos. O depoimento está agendado para ocorrer no dia 2 de outubro em Curitiba.

No depoimento à PF, ao ser questionado pela delegada sobre "qual tipo de atuação realiza nas redes sociais privadas do Presidente", Tércio reforçou a versão de Carlos.

Ele afirmou que "não detém as senhas das redes sociais do presidente da República, sendo que o próprio presidente cuida da rede social do Facebook e Carlos Bolsonaro cuida das demais redes sociais do seu pai".

Os interrogatórios de Tércio e José Matheus, segundo um ofício enviado pela PF ao chefe da assessoria especial da Presidência da República, foram agendados inicialmente para o dia 9. Portanto antes da data prevista para que Carlos fosse interrogado.

O assessor-chefe, Célio Faria Júnior, pediu à PF que as oitivas fossem transferidas para a sexta-feira (11). Não houve oposição por parte da PF para que fosse feito esse reagendamento.

A polícia perguntou aos dois assessores também sobre o último encontro que tiveram com o coronel Mauro César Barbosa Cid, ajudante de ordens do presidente Bolsonaro. O militar foi ouvido pela PF na parte da manhã daquela sexta-feira.

José Matheus disse que esteve com o oficial do Exército e que falaram "de forma superficial" sobre a oitiva de Cid à PF. Tércio afirmou que também o encontrou no Planalto naquela manhã.

Ao comentar qual a função desempenha no Planalto, Tércio disse à PF acompanha a agenda de Bolsonaro, "participando de reuniões com o objetivo de assessorar presidente sobre os temas que serão abordados, trazendo informações coletadas de fontes abertas".

"Quando demandado auxilia, juntamente com José Matheus, Mateus Diniz e o ajudante de ordem, Ten. Coronel Cid, no levantamento de informações que possam ser abordadas e trabalhadas durante a transmissão ao vivo (live)", afirmou o assessor.

Também assessor da Presidência, Mateus é apontado como outro integrante do "gabinete do ódio" e será ouvido na próxima semana pela polícia.

O grupo, tutelado por Carlos, é responsável por parte da estratégia digital bolsonarista. A existência do gabinete foi revelada pela Folha de S.Paulo em 19 de setembro de 2019.

Questionado se atua nas redes sociais privadas do presidente, José Matheus disse que não.

Ele afirmou que, de acordo com a sua disponibilidade, acompanha o Bolsonaro na transmissão das lives, "para prestar auxílio sobre informações ou até mesmo no manuseio de equipamentos necessários para realização da transmissão".

E comentou que eventualmente também auxiliam nesta tarefa os colegas "Tércio Arnaud, Mateus Diniz e às vezes algum ajudante de ordem do presidente".

Indagados se conhecem e se fazem parte do "gabinete do ódio", os dois assessores da Presidência disseram ter ciência do assunto, mas que se trata de uma criação midiática.

Tércio respondeu que "tal nome surgiu porque Carlos Bolsonaro, por ser ativo nas redes sociais, causando em alguns momentos conflitos, bem como pela ligação do declarante [Tércio] e de José Matheus com Carlos Bolsonaro, a mídia rotulou o grupo como 'gabinete do ódio' ".

José Matheus disse acreditar que seu nome foi vinculado a esse termo por ter administrado no passado página "de conteúdo de viés de ideologia política de direita" e posterior ingresso na equipe do governo Bolsonaro. "Opositores do governo criaram a narrativa da existência do denominado 'gabinete do ódio' ", afirmou.

A dupla negou que já tenha produzido ou repassado de forma consciente mensagem ou material (documentos, memes, fotografias, vídeos etc) com conteúdo falso que incitasse a animosidade das Forças Armadas contra o STF ou Congresso Nacional.

Em relação ao relatório divulgado pelo Facebook, elaborado pela organização Atlantic Council, Tércio disse que tem ciência do conteúdo e da consequência - a derrubada de páginas administradas por ele na rede social.

O assessor afirmou à PF que foram retiradas do ar duas páginas, uma intitulada Bolsonaro News e uma outra criada apenas para reduzir vídeos.

Os investigadores perguntaram e Tércio respondeu que nunca criou contas com dissimulação da identidade ou em nome de terceiros para publicação de conteúdo.

Disse ainda que sempre usou dados verdadeiros para abertura das páginas e que "nunca mascarou os seus dados ou IPs (identidade de cada dispositivo conectado à rede mundial de computadores)".

Ao ser indagado sobre suas atribuições, José Matheus disse que "atualmente a sua função está mais ligada a área de comunicação do governo como um todo, envolvendo a parte de estratégia de comunicação das atividades desenvolvidas".

Ele afirmou que a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência, recentemente incorporada pelo Ministério das Comunicações) realiza o trabalho de comunicação das atividades do governo, mas que ele auxilia estrategicamente nessas abordagens, além de abastecer o presidente com informações.

Foi perguntado ao assessor se ele teria conhecimento do uso de empresas que atuam no impulsionamento de conteúdo, criação ou divulgação de conteúdo político envolvendo Jair Bolsonaro ou algum dos seus familiares. Ele respondeu que não.

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