A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros não é apenas uma questão diplomática, é uma ameaça direta à espinha dorsal da economia capixaba. A cidade da Serra, maior município do Espírito Santo e um dos dez mais afetados do país, está no epicentro dessa crise que já se desenha com impactos devastadores.
Temos empresas, especialmente no setor de rochas ornamentais, que dependem em até 80% do mercado americano para manter suas operações. Não estamos falando apenas das grandes indústrias. Estamos falando de toda uma cadeia que gira em torno delas: prestadoras de serviço, operadoras logísticas, pequenas fornecedoras, profissionais autônomos. Sem exportação, não há faturamento. Sem faturamento, não há emprego. E sem emprego, o prejuízo extrapola o CNPJ e bate na porta de milhares de famílias capixabas.
O tarifaço, anunciado pelo governo de Donald Trump sob justificativas políticas relacionadas à atuação do Brasil na cena internacional, escancara uma realidade preocupante: estamos pagando caro por escolhas ideológicas feitas de cima para baixo, sem escuta, sem debate, sem consideração pelos efeitos práticos na vida real.
A aproximação do governo federal com regimes controversos, como o do Irã, tem colocado em risco a imagem construída por décadas de um Brasil aberto, confiável e pacífico. O Espírito Santo, que sempre foi um estado produtor, exportador e trabalhador, não pode ser sacrificado por decisões unilaterais que em nada contribuem para o desenvolvimento nacional.
É importante dizer: essa não é uma crítica a figuras políticas específicas, mas à condução atual da política externa brasileira, que tem desconsiderado os efeitos econômicos diretos sobre quem gera renda, receita e empregos. O setor produtivo precisa ser ouvido. O empresariado precisa participar das decisões que afetam sua sobrevivência.
A Ases, como entidade que representa o ecossistema empresarial da Serra, defende uma ação coordenada entre o poder público, a iniciativa privada e as instituições. É hora de buscar alternativas comerciais, fortalecer laços com novos mercados e, sobretudo, pressionar por uma solução diplomática que reverta essa medida injusta e desproporcional.
Não podemos assistir calados à desconstrução de tudo o que levamos décadas para construir. A Serra não pode pagar a conta de uma crise fabricada. E o Espírito Santo não pode ser refém de um jogo geopolítico que nada tem a ver com quem está aqui, todos os dias, trabalhando, investindo e fazendo o Brasil acontecer.
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