Há décadas, o Brasil vive um processo de desindustrialização, ou seja, de diminuição ou eliminação da atividade industrial. O setor industrial brasileiro, que em 1985 foi responsável por 48% do Produto Interno Bruno (PIB), viu sua participação cair para 21,1%, em 2017. Em 2022, o setor respondia por 26,3% e, em 2023, 25,5%. No acumulado de 2024, até o terceiro trimestre, o PIB gerado pela indústria teve crescimento de 3,5% em comparação ao ano anterior.
A indústria, há tempos, tem como desafio os componentes do Custo Brasil (carga tributária elevada, os juros altos sobre o capital de giro, os custos com matérias-primas e energia, além do spread bancário), mas quando se fala da indústria da inovação e tecnologia, há mais desafios a serem superados.
Atuando no desenvolvimento de soluções tecnológicas em uma empresa 100% nacional há mais de 20 anos, sei por experiência própria que, antes de colocar uma solução no mercado, as empresas precisam passar pela fase de pesquisa e estudo para desenvolver o produto; validar esse desenvolvimento por meio de protótipos e estudar os componentes adequados às exigências locais de aplicação e normatização. Há ainda quem precisa trazer os componentes de fora e esbarra nas burocracias da importação, nas greves da Receita Federal por exemplo e longos períodos de desembaraço.
Esse cenário aponta que seria preciso um zelo maior com as inovações para que esse setor — que apoia a economia de muitas formas —, pudesse se desenvolver de forma consistente e competitiva. É necessário criar um programa de incentivo ao fomento tecnológico sólido que garanta que os recursos atendam as empresas que estão sediadas no Espírito Santo.
Em 2024, trabalhamos com a APEX Brasil e estivemos no Chile em um programa de exportação de soluções brasileiras, uma experiência muito interessante, pois exportar tecnologia é muito difícil, sem um apoio mais estruturado na preparação de quem pretende exportar, nos contatos externos e divulgação.
Os estados poderiam se inspirar nesse trabalho de fomento à tecnologia brasileira, promovendo a conectividade em apoio àqueles que promovem o desenvolvimento local e estão prontos para expandir para o mundo o que o Brasil tem de mais inovador.
É preciso lembrar que a inovação muitas vezes vem do pequeno e médio empreendedor, mas que a taxa de mortalidade de startups no país é expressiva. Conforme dados do observatório do Sebrae, cerca de 25% das startups morrem com um ano ou menos. 50% morrem com um tempo menor ou igual a quatro anos e 75% com aproximadamente 13 anos.
Não basta dar dinheiro para as pequenas empresas, mas sim estruturar seu desenvolvimento sustentável. A política de compra dos estados precisaria olhar com mais atenção a elas. Criar um programa que possa diminuir a mortalidade das startups demandaria do estado promover a conexão com as pequenas e médias empresas de tecnologia gerando simbioses que venham a favorecer a todos.

Há necessidade de se criar um programa de incentivo ao fomento tecnológico e garantir que os recursos atendam as empresas que estão sediadas no Estado, com incentivo fiscal ou programas de aproximação do mercado já que até hoje não existe um parque tecnológico.
Nós que buscamos inovar, fomentar pesquisa, desenvolver produtos e soluções localmente, empregar, pagar impostos, ou seja, nós que investimos no país e atuamos fortemente para reverter o processo de desindustrialização, somos muitas vezes penalizados. Acredito que, por meio de um diálogo mais próximo entre os órgãos de fomento com as industrias os estados poderiam solucionar esses entraves de forma favorável a ambos os lados.
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