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É coordenadora do curso de Psicologia da Estácio de Sá

O que Bruno Gagliasso, Anitta e o jogador Paulinho têm em comum?

Todos eles ao se declararem em suas redes sociais como adeptos de religiões de matriz africana, sendo as mais conhecidas o candomblé ou a umbanda, foram rechaçados por seguidores de outras religiões

  • Sátina Pimenta É coordenadora do curso de Psicologia da Estácio de Sá
Publicado em 20/01/2023 às 19h49
O ator Bruno Gagliasso
O ator Bruno Gagliasso. Crédito: Reprodução/Instagram @brunogagliasso

Dinheiro dirão uns, fama dirão outros, influência dirão mais alguns! É, isso também, mas todos eles são vítimas de um crime: intolerância religiosa.

Todos eles ao se declararem em suas (vamos repetir - SUAS) redes sociais como adeptos de religiões de matriz africana, sendo as mais conhecidas o candomblé ou a umbanda, foram rechaçados por seguidores de outras religiões.

Não é novidade que tudo que vem da cultura negra sofre uma precarização de valor devido ao genocídio da escravidão secular brasileira e a uma construção de representação social mergulhada em preconceitos. Roupas, cabelos, músicas, arte, lutas, trabalho e a religião negra por séculos foram considerados (e ainda são por alguns) como algo sujo ou de pouco valor.

Devido a tais consequências históricas foi necessário que o Brasil formulasse leis que criminalizassem tais condutas de discriminação, preconceito e estigma (Lei 9459/97) assim como construísse políticas afirmativas para a mudança desse quadro e conscientização da população (ao exemplo das cotas).

O ator Bruno Gagliasso no dia 14 de janeiro utilizou suas redes sociais para publicar uma foto com a seguinte legenda “Aqui é corpo fechado”. Em seguida, indicou as hashtags “Exú” e “Oxóssi” e a palavra “Asé”. Minutos após iniciaram-se os debates! Sim, literalmente debates entre seguidores do ator! Aqueles que não concordam com sua religião deixaram mensagens como “tá repreendido”, “Deus é maior” e “gostaria de saber se quando ficam doentes vocês pedem cura para Deus ou para entidades que na verdade são o demônio”! A esses comentários, uma enxurrada de defesas, feitas por outros seguidores, trazendo o alerta  de que tais declarações são intolerância religiosa.

Tudo isso ocorreu dois dias depois de ser publicada no Diário Oficial da União a sanção presidencial da Lei 14.532, de 2023, que modifica a Lei 9459/97. Nesta modificação é incluída a tipificação de injúria racial e o aumento de pena para diferentes condutas que digam respeito a discriminação e preconceitos referente a raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, inclusive no âmbito das redes sociais (art.20).

Mas, pelo visto, só a lei não é suficiente para reprimir. E se eles, que são figuras públicas, sofrem, imagine nós pobres mortais candomblecistas e umbandistas?!

O fato é que quando essas figuras públicas bradam a sua crença ou a sua fé eles abrem o caminho para tornar pública a intolerância velada do “país de todas as raças e todos os credos”. Eles atiçam os intolerantes que postam injúrias utilizando inclusive de seus perfis pessoais, não sei se assim o fazem por desconhecimento da lei ou pela crença na impunidade da justiça brasileira.

Só sabemos que os posts de intolerância são a representação da nossa realidade. São esses os insultos que, quando trajados de branco, devido a um preconceito ou porque assim desejam, os praticantes do candomblé e da umbanda recebem ao utilizarem o seu direito de ir e vir.

Com medo dessa realidade discriminatória, muitos não assumem publicamente sua fé em suas casas, seus condomínios, seus trabalhos e até mesmo em seus relacionamentos afetivos. Escondem-se por trás de uma máscara agnóstica ou até ateia, pois para alguns intolerantes é melhor não crer em nada do que adorar um “demônio como Exu”.

Trata-se da realidade vivida nos terreiros e nas casas de umbanda que adormecem floridas, com oferendas e acordam com aos cacos depredadas.

Dia 21 de janeiro é o Dia Mundial das Religiões e é também celebrado no Brasil o dia Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa! Que neste dia e em todos os outros lembremos do meu, do seu e do nosso direito constitucional de liberdade de crença!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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