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O papel da universidade no monitoramento ambiental após tragédia no Rio Doce

Rede Rio Doce Mar é uma grande rede colaborativa acadêmica que  investiga, analisa, produz conhecimento e informa sobre os impactos ambientais, principalmente no território espírito-santense

  • Alex Bastos
Publicado em 05/11/2020 às 15h41
Lama do Rio Doce se encontra com o mar em Regência, Linhares
Lama do Rio Doce se encontra com o mar em Regência, Linhares. Crédito: Divulgação

Há cinco anos assistíamos ao maior desastre ambiental do Brasil e considerado o sexto maior do mundo. Em meio a tanto sofrimento e incerteza, um grupo de pesquisadores se voluntariou à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para tentar entender como o rompimento da barragem e a chegada da lama afetariam os ecossistemas aqui do Espírito Santo e, desde então, não mede esforços para tentar dar respostas a muitas questões ainda desconhecidas.

A Rede Rio Doce Mar foi sendo formada à medida que foram percebidas necessidades de atuação de diferentes áreas de pesquisa para diagnosticar a dimensão do desastre. Então, após apresentados comparativos de dados pretéritos com dados coletados depois do rompimento da barragem por esse grupo de pesquisadores, os órgãos ambientes passaram a perceber como fundamental a atuação da academia no processo. Embora ainda não se chamasse Rede Rio Doce Mar, nascia ali o embrião do que viria a ser essa grande rede colaborativa acadêmica.

Com dois anos de atuação frente ao Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA), através de um acordo de cooperação entre a Fundação Espírito-santense de Tecnologia (Fest) e a Fundação Renova, a Rede Rio Doce Mar entregou dados brutos do monitoramento, relatórios técnico-científicos, relatórios gerenciais, dentre outros produtos.

Nosso trabalho não parou neste período de pandemia, atividades de campo foram suspensas, mas análises e processamento de dados foram feitos e um relatório de evolução técnica foi entregue em junho deste ano. O nosso trabalho vem sendo a base da produção de conhecimento sobre o impacto ambiental no território do Estado do Espírito Santo, subsidiando além das tomadas de decisão da Câmara Técnica de Conservação da Biodiversidade (CTBio) também ações de outros órgãos dos poderes executivos e judiciários como, por exemplo, decisões quanto à questão da contaminação do pescado.

É importante que a sociedade entenda que discussões científicas são comuns e o debate entre pares dá ainda mais credibilidade aos estudos. Quando temos nossos resultados revisados por pesquisadores de outras universidades do Brasil, inclusive contratados pela Fundação Renova, isso nos dá maior credibilidade e aumenta a transparência e o valor do nosso trabalho.

Em nota técnica publicada no dia 31 de agosto de 2020, a CTBio, órgão responsável pelas análises dos relatórios produzidos pelos estudos financiados pela Fundação Renova, reconhece a qualidade do trabalho da Rede Rio Doce Mar e a importância desses dados para subsidiar suas ações. A aplicação de uma categorização para definir a evidência do impacto e relacioná-lo ao rejeito da barragem de Fundão foi realizada, usando, por exemplo, a comparação entre dados antes e depois do rompimento da barragem.

Entender e inovar a partir de uma abordagem sistêmica vem sendo a proposta da Rede Rio Doce Mar para investigar, analisar, produzir conhecimento e informar sobre os impactos ambientais, principalmente, no território espírito-santense.

O conceito de uma abordagem sistêmica engloba não só estudos físicos, químicos, geológicos, biológicos e ecotoxicológicos integrados, mas também o desenvolvimento de modelos de gestão de projetos, formas de melhor comunicar com a sociedade, construção de um modelo de gestão de dados, produção científica, parcerias internacionais e relacionamento entre os diferentes atores envolvidos no processo.

Esperamos que a seriedade e isenção dos estudos e o comprometimento com a transparência dos resultados, associados a essa abordagem integrativa e sistêmica, sejam o caminho a ser continuamente trilhado. Caso contrário, seguiremos para um retrocesso no monitoramento ambiental.

O autor é geólogo, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e coordenador da Rede Rio Doce Mar (RRDM)

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