Estamos cada dia mais cercados por tecnologia e, paradoxalmente, tão carentes de sentido. Vivemos em um tempo onde tudo pode ser programado, otimizado, automatizado. Mas será que no meio de toda essa eficiência não estamos perdendo algo essencial: o que realmente nos faz sentir vivos?
O mundo tem pedido por experiências mais humanas. E isso está longe de ser uma fala romântica ou filosofia de mesa de bar. É uma necessidade quase fisiológica que vem se revelando. O excesso de conexões digitais nos afastou do mais básico: a conexão com o outro. A vida filtrada por telas e algoritmos nos deu acesso a tudo, menos à profundidade. E é nesse vazio que nasce a busca por experiências que toquem de verdade, que marquem, que curem a alma.
Você, provavelmente, já sentiu essa necessidade. Afinal, o impacto disso nas nossas vidas é direto. Nosso bem-estar não está mais em ter, mas em viver. Com sentido e com propósito, como tanto temos ouvido. A felicidade não vem de uma nova notificação, mas de momentos que exijam presença real e que criem memórias. Quer um exemplo prático?
Estudos mostram que 20 minutos em um show ao vivo aumentam o bem-estar em cerca de 21%. Eventos como o Burning Man impactam profundamente os participantes: 63% relatam transformações tão intensas que ecoam por meses, segundo pesquisa da Universidade de Yale. A presença virou um ato de autocuidado. Isso se reflete em comportamentos reais: em 2022 e 2023, a venda de vinis ultrapassou a de CDs; aumentaram também as filas para shows. Ou seja, voltamos a buscar experiências quase ritualísticas, que envolvam o corpo, que mobilizem os sentidos, que nos devolvam o agora.
E, neste movimento, começamos a nomear o desconforto: burnout, brain rot, ansiedade de conexão constante, fadiga de tela. São sintomas de uma era que empilhou informação, mas negligenciou o significado. Virou, de fato, questão de saúde emocional.
Na outra ponta, temos o mercado impactado pelas mudanças na forma de consumo, e enfrentando os desafios de lidar com pelo menos três gerações. Não é mais só sobre vender e comprar. O público quer se sentir parte e ver transformação real. Há uma vigilância para que o discurso esteja alinhado com a prática.
Neste cenário, as marcas que colocam o humano no centro criam a lealdade que algoritmo nenhum explica. Elas criam espaços de encontro e não apenas canais de venda. E é nesse espaço, entre intenção e escuta, que se constrói relevância.
Foi o que vimos na abertura das Olimpíadas de Paris, um evento que abandonou o estádio e transformou a cidade em palco vivo. Com o Rio Sena como passarela, e Paris como protagonista, criaram um ritual coletivo de impacto global. Foi um gesto ousado, sensível, profundamente humano. O Cirque du Soleil também nos ensina isso. Sua capacidade de encantar não vem apenas da técnica, mas da precisão em que dá forma às emoções. "Luzia", um de seus espetáculos mais emblemáticos, não é apenas entretenimento. É uma poesia encenada.
Nada disso seria possível sem criatividade. E é aqui que mora uma crise silenciosa. A repetição de fórmulas, a dependência de algoritmos, o medo de arriscar têm corroído a originalidade. A criatividade, a coragem em fazer diferente, foi sequestrada pelo genérico, pela estética da repetição. Em vez de criar memórias, muitos projetos apenas replicam o que já viralizou. E isso não conecta, não é mesmo?
Então, como desenhar um futuro que realmente soe humano?
Começa com escuta e com pausa. Com coragem de abandonar o ruído para ouvir o que ainda é essencial. Exige curadoria, não de conteúdo, mas de intenção. Se os algoritmos sabem o que prende, a curadoria humana sabe o que merece atenção. A diferença está no critério, no contexto e no significado. Exige empatia, propósito e tecnologia usada com direção. Principalmente, exige experiências que valorizam o tempo, o corpo, a presença e o encontro.
Não há mais dúvidas de que vivemos a transição da economia da atenção para a economia da conexão. As marcas que compreendem isso estão deixando de disputar visualizações para conquistar memórias. E a memória se constrói com sentimento, não com métrica. Não em 15 segundos ou em um scroll infinito.
Foi a partir dessa escuta que entendemos, em vivências como o C2 Montréal 2025, que o futuro mais ousado é aquele que reumaniza. É onde a tecnologia não rouba a cena, mas ajuda a montá-la. Onde a experiência é o próprio conteúdo.
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Porque no fim das contas, a grande inovação é a que emociona. Por isso, quando dizemos que o futuro soa humano, não estamos fazendo uma aposta e, sim, um chamado.
Um convite às marcas, aos criadores, aos líderes e a cada um de nós, para que deixemos o viral de lado e passemos a trabalhar com o que é vital. Para que a próxima experiência valorize a presença e não o alcance das redes. Para que o futuro que estamos desenhando agora seja tão real quanto inesquecível. Tão sensível quanto humano.
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