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É médica psiquiatra e psicogeriatra. Mestre em Ciências Farmacêuticas

Nunca julgue ou desmereça uma pessoa pelo simples fato de ser mais velha

Michele Yeoh, ao vencer o Oscar, ressaltou que muitas vezes as mulheres mais velhas são relegadas a papeis secundários ou estereotipados na indústria cinematográfica, o que pode perpetuar estereótipos e preconceitos baseados na idade

  • Maria Benedita Barbosa Reis É médica psiquiatra e psicogeriatra. Mestre em Ciências Farmacêuticas
Publicado em 17/03/2023 às 17h34
Oscar
Michele Yeoh com o Oscar. Crédito: Instagram/Divulgação

O etarismo, idadismo ou ageísmo é a discriminação ou preconceito baseado na idade de uma pessoa. É uma forma de discriminação que muitas vezes é ignorada ou não percebida, mas pode ter consequências graves e negativas para as pessoas afetadas. Pode ocorrer em várias situações, como no local de trabalho, na mídia, na publicidade, no sistema de saúde e na interação social.

Por exemplo, uma pessoa pode ser considerada “velha demais” para ser contratada ou promovida em um trabalho, ou pode ser vista como “ultrapassada” ou “irrelevante” pela mídia, pela publicidade, pelos fabricantes de roupas.

Esse problema não atinge somente as pessoas que são alvo de discriminação, mas também a sociedade como um todo. Contribui para a marginalização e exclusão social, podendo afetar negativamente a autoestima e o bem-estar emocional das pessoas. Além disso, o etarismo pode limitar as oportunidades das pessoas mais velhas de participar plenamente da sociedade e contribuir para ela.

E, quando se trata de saúde mental feminina, é uma forma de discriminação especialmente preocupante, pois as mulheres mais velhas frequentemente enfrentam estereótipos negativos que as fazem se sentir invisíveis e desprezadas, o que pode ter impacto muito negativo em sua saúde mental e até agravar quadros ansiosos e depressivos.

Felizmente, tópicos como etarismo e saúde mental estão se tornando cada vez mais importantes na sociedade e isso foi evidenciado na cerimônia do Oscar 2023, ocasião em que muitos filmes indicados ao prêmio máximo do cinema abordaram temas relacionados à saúde mental e mulheres mais velhas foram representadas de maneira positiva e empática.

Um exemplo é o filme “The lost daughter”, estrelado por Olivia Colman, que apresentou uma personagem feminina mais velha que enfrenta uma crise emocional e tem que lidar com questões como a maternidade, a solidão e a identidade. O filme foi elogiado por sua representação realista e não estereotipada de uma mulher mais velha que lida com problemas de saúde mental.

Outro filme que chamou a atenção para a saúde mental feminina foi “The Humans”, o qual retrata uma família que enfrenta uma série de desafios emocionais enquanto tenta lidar com a idade e a morte. O filme aborda questões como depressão, ansiedade e o estresse, que são muito comuns entre as mulheres mais velhas.

O ponto alto da noite ficou por conta do discurso de aceitação do Oscar de Melhor Atriz em 2023. Michele Yeoh, a primeira mulher de origem asiática a vencer a premiação, não só agradeceu aos colegas e à equipe de produção, mas também trouxe à luz questões como a importância do protagonismo feminino na tela, especialmente para as mulheres mais velhas.

Ela ressaltou que muitas vezes as mulheres mais velhas são relegadas a papeis secundários ou estereotipados na indústria cinematográfica, o que pode perpetuar estereótipos e preconceitos baseados na idade.

Yeoh também falou sobre a discriminação etária que as mulheres enfrentam na indústria cinematográfica, destacando que muitas vezes elas são vistas como “velhas demais” para determinados papeis, mesmo quando têm habilidades e talentos excepcionais. Essa discriminação não apenas prejudica a carreira das mulheres, mas também contribui para a marginalização e exclusão social.

A fala de Michele Yeoh, juntando-se ao fato dos temas e abordagens de vários filmes, abordando o etarismo pela indústria do cinema, pode ser um sinal de que a sociedade está começando a reconhecer a importância da saúde mental feminina em todas as idades. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para combater esse tipo de preconceito e os estereótipos negativos associados às mulheres mais velhas.

O estereótipo de que a idade é um empecilho afeta muito a vida das pessoas, levando ao sofrimento e ao isolamento social. E exatamente no período em que mulheres mais velhas são agraciadas com o prêmio máximo do cinema e incentivam outras mulheres a sonhar e realizar seus sonhos (“Senhoras, não permitam que alguém lhes diga que seu auge já passou”, disse Michelle Yeoh, 60 anos), jovens universitárias brasileiras, de um curso de biomedicina, lançam em vídeo na internet, que chamam de “o quiz do dia”, onde perguntam entre si “como desmatricular uma caloura com 40 anos de idade, por considerá-la velha demais para “fazer faculdade”, sugerindo que ela deveria estar aposentada.

Essa atitude agressiva, cruel, preconceituosa e mesquinha mostra falta de conhecimento da vida, do ponto de vista subjetivo (empatia, aceitação das diferenças, gratidão pelos mais velhos) e objetivo (40 anos não é a idade para uma mulher estar aposentada, em todo o mundo), bem como total imaturidade e falta de preparo psicológico, principalmente por parte de pessoas da área da saúde. Com quem vivem essas meninas? E suas mães, tias e avós? Estão sentadas vendo a vida passar, já que possivelmente já tem 40 anos?

Nunca julgue ou desmereça alguém pelo simples fato de ser mais velho. Ser mais velho não significa estar com a “data de validade vencida”.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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