Autor(a) Convidado(a)
É presidente do Conselho Deliberativo do Espírito Santo em Ação

Lições do passado podem orientar o futuro da transição energética

Estimo que, se o mundo desenvolvido aplicasse cerca de 100 bilhões de dólares por ano em inovação, obteríamos talvez melhores resultados do que esse plano de emissões zero

  • Carlos Aguiar É presidente do Conselho Deliberativo do Espírito Santo em Ação
Publicado em 12/12/2025 às 14h49

COP terminou com diversos problemas que não preciso comentar, pois estão por todas as mídias. No entanto, notei ausências importantes, como Estados Unidos, China e Índia, entre os maiores emissores de CO2 do mundo.

Notei também que o empresário americano Bill Gates e o rei da Suécia Carlos XVI Gustavo tiraram o pé do acelerador do programa de emissões zero. Eles passaram a defender que existem formas mais eficientes de ajudar os mais necessitados do mundo. Eles viram que, com a chegada da Inteligência Artificial, o mundo vai precisar de muito mais energia, e não dá para deixar o petróleo no fundo do mar ou da terra.

Esse programa vem sendo liderado ultimamente pela Europa, Canadá e Austrália, países que, juntos, emitem cerca de 13% das emissões globais. Portanto, o esforço deles parece não ser suficiente para virar o jogo.

Tais países, junto com os Estados Unidos, investiram mais de 700 bilhões de dólares em 2024, quadruplicaram a descarbonização e mesmo assim viram as emissões baterem recorde de alta naquele ano. E, com elas, subiu o custo de vida, impactado pelos preços elevados da energia limpa e por subsídios dos governos que acabam por inflacionar o mercado e a vida das pessoas, principalmente as mais pobres. Nesse ponto, surge um questionamento importante: seguir no plano de emissões zero ou investir em inovação, ou em ambos? Qual o custo-benefício de cada opção? Qual o impacto sobre a natureza e sobre as pessoas do mundo?

Lembro que a inovação com os catalisadores de motores a combustão praticamente acabou com a fumaça que cobria os céus de Los Angeles ou São Paulo nas décadas de 1950 a 1970.

Em 1960, dizia-se que haveria fome no mundo com o crescimento da população. Investimos em novas tecnologias para a agricultura, aumentando rendimentos nela e nas florestas e evitando a catástrofe anunciada da fome. Quando iniciamos a operação em Aracruz, o eucalipto crescia a uma taxa de 25m³ por hectare por ano. Hoje pode chegar a 45m³ por hectare por ano. As taxas de crescimento da soja, da cana e do café também evoluíram significativamente no Brasil ao longo das últimas décadas.

Uma fábrica de celulose de 100 mil toneladas por ano, na década de 1950, jogava no corpo receptor mais químicos que, hoje, uma fábrica moderna de 2,5 milhões de toneladas por ano.

Vejo que há tecnologias que precisam ser mais bem desenvolvidas, como hidrogênio verde, purificação da água para produzir o H2, melhorar as baterias para ajudar as energias solar e eólica, captura de CO2, fusão nuclear, biocombustíveis não originários de culturas alimentícias, aumentar o plantio de florestas plantadas, entre outras.

Transição energética, energia renovável, energia eólica, descarbonização, energia solar
Transição energética. Crédito: Mint Images

Estimo que, se o mundo desenvolvido aplicasse cerca de 100 bilhões de dólares por ano em inovação, obteríamos talvez melhores resultados do que esse plano de emissões zero, pois os países em desenvolvimento não têm capital para acompanhar o plano, mas há o argumento moral de não acabar com os fósseis se seus povos tiverem de passar ainda mais dificuldades. Quem iria impor essa condição a Índia, China, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Nigéria e tantos outros países populosos do mundo?

Creio ser esse um dos caminhos que os países ricos deveriam apoiar. Já os trilhamos no passado em outras crises existenciais e ambientais e podemos tentar novamente.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
energia elétrica Inovação Energia Solar Transição COP30

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.