Biólogo, mestre em Gestão Ambiental, comentarista de Meio Ambiente e Sustentabilidade da rádio CBN Vitória

A COP30 deu resultados? Um relato diretamente de Belém

A COP30 mostrou que o mundo está tentando avançar, mesmo que em passos desiguais. Mas também deixou claro que nenhuma decisão global se sustenta sem ações locais consistentes

Vitória
Publicado em 24/11/2025 às 11h30

COP30 entrou para a história como a conferência que finalmente colocou a Amazônia no centro das decisões globais. De Belém, onde estive acompanhando de perto as negociações, ficou claro que o planeta vive um ponto de inflexão: ou avançamos com coragem rumo a um modelo climático seguro ou abriremos espaço para décadas de impactos irreversíveis.

Entre avanços concretos e disputas tensas, a conferência entregou resultados importantes. O maior destaque foi o fortalecimento do Fundo Amazônia Global, um mecanismo ampliado de financiamento destinado não apenas à proteção das florestas tropicais, mas à recuperação de áreas degradadas, ao desenvolvimento de bioeconomias e ao fortalecimento de povos indígenas e comunidades tradicionais. Vi de perto como as delegações reconheceram que não existe solução climática sem florestas em pé e que a Amazônia é, sem dúvida, o coração desse processo.

Outro avanço relevante foi a ampliação dos compromissos para acelerar a transição energética, com metas mais claras de expansão das renováveis, especialmente solar e eólica, e investimentos trilaterais entre países do Sul Global. O Brasil se posicionou como ator estratégico, apresentando projetos de hidrogênio verde, combustíveis avançados e soluções inovadoras de bioenergia que chamaram atenção no Pavilhão Azul.

No entanto, a COP30 também expôs seus limites. O ponto mais sensível do relatório final, o mapa do caminho para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis terminou pendente e incompleto. A proposta inicial previa uma linguagem mais firme sobre a necessidade de redução progressiva até a eliminação total, mas vários países pressionaram pela retirada desse trecho.

Até o último dia, as negociações ficaram empacadas, e a versão final acabou deixando essa decisão para a COP31, mantendo apenas uma menção genérica ao “esforço global de redução de emissões”.

Essa lacuna frustrou especialistas e representantes da sociedade civil. De dentro da Conferência, pude sentir a tensão entre a urgência científica e a hesitação de alguns governos. O mundo reconhece a necessidade de abandonar o petróleo, o gás e o carvão, mas ainda não encontrou consenso político para assumir isso como compromisso coletivo.

Apesar desse impasse, a presença marcante dos povos originais, com forte protagonismo no Pavilhão Verde, trouxe a lembrança de que não há solução climática duradoura sem justiça social e territorial. Suas vozes ecoaram não apenas como reivindicação, mas como conhecimento científico ancestral, fundamental para a proteção das florestas.

COP30
Movimentação de participantes na COP30 em Belém (PA) no dia 21 de novembro. Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

Ao retornar para Vitória, carrego a certeza de que os debates mundiais dialogam diretamente com a nossa realidade local. As ondas de calor, a baixa umidade e a pressão crescente sobre nossos rios reforçam a urgência de adotar soluções imediatas, especialmente as Soluções Baseadas na Natureza (SbN): restauração das áreas no entorno das cidades, recuperação das matas ciliares, criação de corredores ecológicos, ampliação das áreas verdes urbanas e a implementação dos Planos Municipais de Arborização e Paisagismo, elaborados neste ano e que agora precisam, de fato, sair do papel.

A COP30 mostrou que o mundo está tentando avançar, mesmo que em passos desiguais. Mas também deixou claro que nenhuma decisão global se sustenta sem ações locais consistentes. Coube a nós, que estivemos lá em Belém acompanhando cada etapa, traduzir esse conhecimento para o cotidiano para os municípios, para as escolas, para as rádios, para as comunidades e para as políticas públicas que moldam o futuro do Espírito Santo.

No fim, a transição para um planeta viável não começa nos grandes palcos internacionais: começa onde vivemos.

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