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É jornalista e mestre em Psicologia Social pela Ufes

Lições de Caco Barcellos para o jornalismo são atemporais

Em tempos em que a IA traz informações rápidas, mas rasas e permeadas de preconceitos, o jornalista que esteve em Vitória defende o compromisso do repórter com o registro precioso

  • Cínthia Ferreira É jornalista e mestre em Psicologia Social pela Ufes
Publicado em 05/07/2025 às 10h00

Há 11 anos, no dia 15 de setembro de 2014, Caco Barcellos, o jornalista, escritor, diretor e repórter do programa "Profissão Repórter", esteve no auditório da Rede Gazeta como palestrante da aula inaugural do 17º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta.

E lá estava eu, também jornalista, ansiosa para ver e ouvir um dos maiores profissionais do jornalismo do país. Desse encontro, que me provocou muitas reflexões e inquietações, produzi um artigo para o Caderno Pensar, no jornal A Gazeta, ainda impresso.

Neste ano de 2025, o jornalista retornou ao Espírito Santo para compartilhar a sua experiência na aula inaugural do 28º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, realizada nesta semana. E, novamente, estive lá, com novos sentimentos de inquietude nos meus 20 anos de profissão.

Caco Barcellos durante a palestra de lançamento do 28° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta
Caco Barcellos durante a palestra de lançamento do 28° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Crédito: Arthur Louzada

Esta edição abordou diversos temas, como os desafios do jornalismo e as novas tecnologias, sobre a velocidade da apuração e a difusão da notícia, e o papel do jornalismo para a sociedade. São assuntos recorrentes entre os profissionais nas redações, nas assessorias de imprensa e nas faculdades de comunicação.

Mas, quando analisados por um profissional com 50 anos de experiência e que produz um programa de reportagem semanal com fatos sensíveis e relevantes que impactam a sociedade brasileira, principalmente aqueles que são afetados pelos fatos reportados, a reflexão caminha para outro nível de profundidade.

Caco escancara a desigualdade do país. Ele busca a história de quem vive nos cantos mais distantes e talvez até desconhecidos do Brasil. Ele apresenta dados estatísticos da violência nas periferias das maiores cidades brasileiras cometida pela segurança pública, cuja vítima é na enorme maioria das vezes o menino preto, pobre, trabalhador. E o que essa conversa tem a ver com novas tecnologias e os desafios da profissão?

Esse é o grande ensinamento da palestra. Em tempos em que a IA traz informações rápidas, mas rasas e permeadas de preconceitos, Caco defende o compromisso do jornalista com o registro precioso. A apuração dos fatos não se faz com equipamentos high tech – termo usado por Caco –, mas com ferramentas simples e acessíveis: pernas (vá até o local do acontecimento, caminhe o quanto for necessário para chegar às pessoas); olhos (veja com atenção) e ouvidos (ouvir atentamente todos os lados).

Quando essas ferramentas são utilizadas de forma eficaz, a correta informação chegará ao telespectador e a profissionais de outras áreas do conhecimento, como sociólogos, antropólogos e historiadores, que vão reproduzir a história a partir da informação e dados que o jornalista transmitiu.

E, para além do high-tech, ele resgatou um conhecimento básico, que todo estudante de jornalismo aprende no primeiro período de faculdade. Caco fez uma referência divertida a esse conhecimento: o “jardim de infância do jornalismo” – o lead. O lead são as 5 perguntas essenciais no processo de apuração. Quem? Onde? Como? Quando? Por quê?

Caco Barcellos
Caco Barcellos em palestra na . Crédito: Arthur Louzada

Por que o fato aconteceu? Por que a injustiça, a morte de um jovem preto, pobre e trabalhador na periferia? Por que ônibus são incendiados pela comunidade quando esse menino é morto? Essas indagações fazem parte dos exemplos práticos e reais que Caco acompanha ao longo da sua carreira.

O jornalismo segue sendo a ferramenta mais segura para contar histórias, reportar os fatos, denunciar, provocar reflexões, indignação e lutas por direitos e igualdade. E para fazer o bom e ético jornalismo não é necessária a alta tecnologia, mas a capacidade de sair do lugar comum e ouvir com sensibilidade e empatia a história das pessoas. Afinal, o jornalista está em busca de boas histórias.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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