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É associada do Instituto Líderes do Amanhã e sócia do Grupo Private

Excesso de escolta e falta de bom senso: o paradoxo da burocracia

O que chamou atenção não foi apenas a negativa inicial, mas o excesso de recursos empregados: foram apontados 35 policiais fortemente armados, escolta pesada e algemas

  • Gabriela Moraes É associada do Instituto Líderes do Amanhã e sócia do Grupo Private
Publicado em 22/09/2025 às 16h39

A recente autorização judicial para que Lucas Brasileiro, preso em decorrência dos eventos de 8 de janeiro, acompanhasse o velório de sua avó, ganhou notoriedade não pelo respeito à dor humana, mas pelo aparato policial desproporcional. Assim, o episódio exemplifica o inchaço da estrutura estatal e a sua aplicação, por vezes, distante do critério racional.

O deslocamento de Lucas e sua presença no velório foi inicialmente negada pela penitenciária sob a justificativa de “falta de contingente”, ainda que se tratasse de um direito autorizado pelo Supremo Tribunal Federal. Apenas após pressão pública, provocada por um vídeo gravado pelo pai de Lucas no velório, o pedido foi atendido.

O que chamou atenção não foi apenas a negativa inicial, mas o excesso de recursos empregados: foram apontados 35 policiais fortemente armados, escolta pesada e algemas. Tudo isso para uma pessoa, sem qualquer histórico de violência ou risco concreto à sociedade, estar junto ao caixão da avó.

Esse cenário escancara um problema sério: a máquina pública inchada, pronta para mobilizar um contingente expressivo até em situações que exigem empatia e humanidade, mas que falha em direcionar esforço proporcional à real necessidade.

O uso de força excessiva e ostensiva, com legitimação institucional, choca ainda mais quando se considera que Lucas não apresentava risco de fuga ou ameaça aos agentes ou ao público. A utilização de uma quantidade grande de policiais armados e algemas em um velório, num entorno em que a situação era previsível e controlável, extrapola o razoável.

Isso porque o acesso à justiça e ao direito de visita ao familiar falecido deveriam ser guiados pela proporcionalidade e razoabilidade, princípios jurídicos consagrados que, mais uma vez, parecem ignorados em nome de uma burocracia engessada.

Algemas
Algemas. Crédito: Pixabay

Esse episódio não é isolado. Ele reflete um padrão no qual custo e desperdício de recursos se tornam rotina. O Estado dispõe de um vasto aparato, capaz de mobilizar escoltas mesmo quando não existe ameaça concreta, enquanto priorizações mais sensatas poderiam direcionar tais recursos para segurança pública efetiva, infraestrutura ou políticas sociais.

Dessa forma, a lição clara é que a responsabilização técnica e o bom senso precisam voltar ao centro das decisões. Escoltar um preso, mesmo em momentos sensíveis como um funeral, pode ser feito com discrição, respeito e economia de meios. Somente assim o Estado será verdadeiramente eficiente e legítimo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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