Durante a Semana Nacional do Trânsito, que acontece entre 18 e 25 de setembro, somos convidados a refletir sobre nossas atitudes ao volante. Para quem administra uma rodovia como a BR 101, essa reflexão é diária. Mas ela precisa ser compartilhada com quem mais influencia a segurança viária: o condutor.
Entre os meses de janeiro e agosto deste ano, o trecho administrado pela Ecovias Capixaba registrou 2.695 acidentes, com 1.569 pessoas feridas e 82 vidas perdidas. Cada número representa uma história interrompida, muitas vezes por atitudes que poderiam ter sido evitadas.
A cada acidente evitável, a cada infração cometida, vemos como a rodovia é, antes de tudo, um espaço de convivência. E é nesse espaço que se revela um traço marcante do comportamento brasileiro, como bem observa o antropólogo Roberto DaMatta: a tendência de distinguir entre o “eu” e o “outro”, entre o que é regra para os demais e o que pode ser exceção para mim.
No trânsito, isso se traduz em atitudes como desrespeitar o limite de velocidade, ignorar a sinalização, trafegar com excesso de carga ou criticar a instalação de radares e balanças como se fossem obstáculos, e não instrumentos de proteção — vale lembrar que 48% das vítimas em 2025 dispensaram o uso de cinto de segurança. Muitos motoristas veem a fiscalização como punição, quando na verdade ela é uma forma de cuidado coletivo.
A BR 101 é uma rodovia de importância vital para o Espírito Santo. Ela conecta pessoas, produtos, histórias. Para cumprir o seu papel de corredor logístico e espaço de convivência, tem que mitigar os casos de acidentes e vidas interrompidas. E boa parte desses acidentes — nove em cada dez, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) — tem origem no comportamento humano.
Os dados da rodovia vão ao encontro dessa constatação: do início do ano até agosto, os acidentes mais frequentes refletem comportamentos arriscados: colisões traseiras (665 casos), colisões laterais (445), colisões transversais (298), choque contra objetos fixos (271) e quedas de moto (240) ocupam as primeiras posições do ranking. São situações que, na maioria das vezes, poderiam ser prevenidas com atenção, respeito aos limites de velocidade e distanciamento seguro.
Por isso, nosso convite nesta Semana Nacional do Trânsito é simples, mas profundo: mude seu olhar para a rodovia. Veja nela não apenas um caminho, mas um pacto. Um pacto que exige respeito às regras, empatia com os outros usuários e consciência de que cada escolha ao volante pode salvar — ou colocar em risco — uma vida.
Voltemos mais uma vez aos dados para tornar a situação ainda mais real: mais da metade das vítimas fatais na BR 101, ao longo deste ano, eram motociclistas (52%). Esse percentual mostra como esses usuários estão mais expostos e dependem não apenas de sua própria prudência, mas também do cuidado e da empatia de todos que dividem a pista.
O limite de velocidade foi estabelecido a partir de estudos técnicos, a faixa contínua, que sinaliza o perigo de uma ultrapassagem naquele local, também. Assim como dados científicos delimitaram peso permitido para cargas, o uso de dispositivos de segurança, como cinto e capacete para motociclistas, levou à sugestão de comportamentos seguros, como pausas em trajetos longos. Ignorá-los ou desafiá-los é o caminho mais curto para colocar em risco a integridade e a vida das pessoas.
A segurança viária não é responsabilidade exclusiva de quem administra a rodovia. É, sobretudo, um pacto com quem a utiliza. E quando cada condutor assume esse compromisso, a BR 101 se torna mais segura, mais humana, mais justa.
Vamos juntos transformar o trânsito em um espaço de cidadania.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.