“O ano de 2024 marcou um ponto de inflexão na segurança pública do Espírito Santo. Pela primeira vez na série histórica, o número de mortes no trânsito superou o de homicídios dolosos.” Assim começa o texto sobre as mortes no trânsito do Anuário Estadual de Segurança Pública de 2025.
Os homicídios sempre chamaram mais a nossa atenção. Afinal, além da brutalidade, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é um dos principais indicadores de violência. Segundo o Atlas da Violência 2025, tem ocorrido uma redução no número de homicídios. Em 2024, foi registrada a menor taxa dos últimos 12 anos. O Espírito Santo é um dos seis estados que apresentam redução sistemática desde 2013. Em 2024, tivemos a menor taxa desde o início da série histórica, em 1996. E 2025 indica que haverá uma nova redução significativa. O trabalho é constante e os números indicam que estamos no rumo certo.
Lamentavelmente, nas mortes no trânsito estamos enfrentando um movimento contrário. Uma inflexão! Após um período de certa estabilidade, em 2024, houve um aumento de 20% nos óbitos em relação ao ano anterior. E, neste ano, podemos fechar com um patamar semelhante. Até 17 de setembro, o número de mortes era quase o mesmo do ano passado.
Dados atualizados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram uma evolução significativa dos registros de acidentes de trânsito. O que chama atenção é outro aspecto dessa tragédia, que vai além das mortes: a pressão sobre o sistema de saúde.
Há um alto número de atendimentos, resultando em internações prolongadas, com alta ocorrência de lesões graves e permanentes. Estamos falando de amputações, incapacidade temporária ou permanente para o trabalho, ocorrências com consequências devastadoras para as vítimas e suas famílias.
As causas para o aumento das mortes no trânsito são variadas. No estudo “Mortalidade no Trânsito, Desenvolvimento Econômico e Desigualdade Regionais no Brasil”, de Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), são pesquisadas várias possibilidades de correlação entre causas para o aumento da mortalidade, bem como para sua mitigação. O autor destaca, porém, que “o Brasil é um país com altas taxas de mortalidade no trânsito em comparação a outros países em desenvolvimento”.
Na conclusão do estudo, são apresentados os efeitos de quatro variáveis:
- O impacto do crescimento econômico e aumento da renda per capita. Um fator que tende a variar segundo a região do país, mas que, na média, se correlaciona positivamente com o aumento das mortes.
- O aumento do efetivo policial, por sua vez, tem uma correlação positiva. Para cada policial a mais por mil habitantes, estima-se uma redução de 3,4 mortes/100 habitantes por ano.
- A melhoria na qualidade das estradas também tem impacto diferenciado. As melhorias podem levar ao aumento da velocidade média, mas também ocasionar maior segurança nas vias.
- O aumento da frota de motocicletas. Quanto maior a frota e o uso, maior tende a ser a taxa de mortalidade.
Alguns dados e fatos sobre nosso estado ilustram algumas dessas questões:
- A renda média dos trabalhadores do Espírito Santo cresceu acima da média nacional e houve queda na concentração de renda.
- 70% das ocorrências fatais ocorreram no interior do estado.
- 60% das mortes ocorreram em rodovias estaduais e federais e 23% em vias municipais.
- Segundo os dados do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran/ES) deste ano, os acidentes fatais envolvendo motos representam 42,7% das ocorrências.
- A frota de motocicletas no interior do estado é 2,5 vezes maior do que na região metropolitana, uma relação significativamente maior do que a da frota em geral.
Esses são apenas alguns dados para ilustrar a importância de uma ação urgente, mas ao mesmo tempo adaptada, às diferentes regiões do Estado.
No último 31 de julho, o Governo do Espírito Santo, através do Detran/ES, instituiu o Comitê Integrado de Preservação da Vida no Trânsito. A proposta é integrar a ação de vários órgãos, reproduzindo um modelo de governança do Programa Estado Presente em Defesa da Vida, que atua de forma regionalizada, com foco nas áreas mais vulneráveis. Os resultados já são visíveis na redução contínua dos homicídios e feminicídios.
A redução das mortes no trânsito passa a ser um objetivo prioritário. Não temos motivos para seguir com esta epidemia de tragédias, que estão longe de ser simples fatalidades. Queremos e vamos alcançar um Estado cada vez mais seguro para o nosso cidadão, seja no combate ao crime, seja pela garantia de um deslocamento seguro.
Um deslocamento que reflete a necessidade de pessoas que buscam seus sonhos e a prosperidade para suas famílias. Um esforço que é responsabilidade de todos. Dos governos e da sociedade em geral, pois também depende de conscientização, educação e mudança de comportamento. Vamos juntos!
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.