No Brasil, o erro ainda é tratado como sinônimo de fracasso, quando deveria ser reconhecido como ponto de inflexão do aprendizado. Essa aversão institucionalizada ao fracasso não apenas sufoca a inovação, como inibe o protagonismo individual, principal motor do crescimento sustentável. Contudo, uma exceção tem se consolidado: empresas no Espírito Santo estão colhendo os frutos de uma lógica inversa, ao institucionalizar a vulnerabilidade como ferramenta de performance.
A maioria das organizações brasileiras ainda opera sob uma cultura de aversão ao erro, marcada por estruturas hierárquicas rígidas, excesso de controle e medo de exposição. Essa lógica conduz à paralisia decisória, à centralização ineficiente e à perda de talentos.
Em contraste, as empresas que mais crescem no Espírito Santo adotaram uma postura distinta: passaram a enxergar o erro como sinal de maturidade organizacional, e não como fraqueza individual. Em vez de evitá-lo, criaram mecanismos para aprender com ele. Essa abordagem trouxe velocidade e consistência ao aprendizado coletivo, ao permitir que a liberdade de errar fosse tratada como pré-requisito para decidir melhor.
Esse tipo de mentalidade prospera em ecossistemas que associam liberdade com responsabilidade institucional. O Espírito Santo abriga hoje o primeiro fundo soberano estadual do Brasil, o Funses, estruturado sob uma arquitetura híbrida e inovadora. Enquanto preserva, com visão de longo prazo, as receitas do petróleo para as próximas gerações, também impulsiona o crescimento econômico imediato por meio de investimentos estratégicos. Soma-se a isso a atuação de hubs como o Base27, a Rede Vitória Stone, o Findeslab e outras iniciativas que promovem a experimentação qualificada, conectando o setor privado à academia e ao poder público.
Em 2023, o Núcleo de Governança de uma holding com sede na Grande Vitória instituiu um comitê de aprendizado de erros após um incidente operacional. A partir disso, criou-se um ciclo trimestral de revisão estratégica com foco em decisões malsucedidas, não para puni-las, mas para transformá-las em ativos compartilhados.
A prática, inspirada em metodologias da PwC e no conceito de Responsabilidade Extrema, de Jocko Willink, ampliou a autonomia das lideranças intermediárias, reduziu o turnover e aumentou a margem Ebitda.
Não se trata de permissividade, mas de responsabilização distribuída. Conforme apontam estudos da Deloitte, organizações que promovem accountability com base em confiança crescem 37% mais rápido que seus pares. É o mesmo raciocínio defendido por Amy Edmondson, da Universidade Harvard, ao demonstrar que times com segurança psicológica são mais eficazes justamente por se permitirem errar, testar e adaptar.
Do ponto de vista neurológico, o comportamento é justificável. Ambientes que toleram o erro com racionalidade ativam o circuito pré-frontal do cérebro, região ligada à tomada de decisão e ao autocontrole, em detrimento das zonas associadas ao medo e à evitação.
Em outras palavras, a liberdade para falhar com responsabilidade estimula o tipo de liderança mais escasso no Brasil: aquela que corrige o rumo com inteligência, em vez de ocultar os desvios.
Ao transformar o erro em ativo, as empresas capixabas não apenas desafiam a lógica nacional, mas reafirmam que liberdade e vulnerabilidade, quando bem combinadas, produzem maturidade institucional. No Espírito Santo, errar com responsabilidade deixou de ser fraqueza. Tornou-se estratégia.
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