O padre cantor da Praia da Costa (Vila Velha) deveria fazer uma pausa em seus shows para ler o “Compêndio da Doutrina Social da Igreja”, disponível no site do Vaticano. Ou, caso a vida artística lhe tome muito tempo, poderia ao menos ler a “Carta Pastoral sobre a Melhor Política” assinada pelos bispos de sua Arquidiocese, que tem apenas oito páginas e está no site do Regional Leste 3.
Se assim o fizesse, não usaria o altar para dizer as bobagens que disse sobre as eleições. Para ser breve, seguem apenas alguns exemplos.
A Doutrina Social da Igreja “propõe a meta de um ‘desarmamento geral, equilibrado e controlado’. O enorme aumento das armas representa uma ameaça grave para a estabilidade e a paz. [...]. Todo e qualquer acúmulo excessivo de armas ou o seu comércio generalizado não podem ser justificados moralmente” (Compêndio da doutrina social da Igreja, 508).
Sobre economia, dizem o Compêndio e o papa Francisco: “O livre mercado pode produzir efeitos benéficos para a coletividade somente em presença de uma organização do Estado que defina e oriente a direção do desenvolvimento econômico” (Compêndio da doutrina social da Igreja, 353). “O mercado, por si só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer neste dogma de fé neoliberal” (Papa Francisco, Fratelli tutti, 168).
O candidato que ele defende é radicalmente o contrário a isso, fora as outras tantas contradições com as palavras de amor e compaixão dos evangelhos, que certamente todo padre deve conhecer. Portanto sua fala não reproduz os ensinamentos da Igreja Católica e tampouco reflete inspiração no Jesus que se preocupava com os famintos, presos e doentes. Nos evangelhos, Jesus cura e manda cuidar dos doentes. Jamais zombou de seu sofrimento ou disse “e daí?”.
Além disso, levantar falso testemunho é desrespeitar o 8º Mandamento. Todas as condenações de Lula foram anuladas pela Justiça, por não terem fundamento legal. Sendo assim, conforme a Constituição, ele é inocente como todo cidadão cujas acusações não sejam comprovadas.
O sacramento da ordem não deve ser usado como um atalho para conseguir plateia, pois é a formação de ministros que devem orientar os fiéis nos ensinamentos dos Evangelhos e da Doutrina da Igreja, e não no que vem à cabeça por opção ideológica ou de classe social.
Para quem conhece os evangelhos, temos que tomar “cuidado com o fermento dos fariseus e de Herodes” (Mc 8,15)
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.