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É advogado trabalhista

Dia do Trabalhador: o que temos para comemorar neste 1° de maio?

Data deve ser encarada como marco para reflexão e reivindicações, para que trabalhadores não sejam encarados como culpados pelas crises do país, dando espaço para retirada de direitos e precarização

  • Wiler Coelho É advogado trabalhista
Publicado em 01/05/2021 às 02h00
Carteira de Trabalho e previdência social
Reforma Trabalhista levou a desmonte da legislação, com retirada de direitos. Crédito: Fernando Madeira

E eis que chegamos a mais um 1º de maio, que neste ano é comemorado em um sábado, como o emblemático 1º de maio de 1886, quando trabalhadores norte-americanos foram às ruas das maiores cidades do país para pedir a redução da carga horária máxima de trabalho por dia. Por essa razão é que o dia foi escolhido como a data ser celebrada como o do trabalhador, em homenagem àqueles que lutaram por melhores condições de trabalho. Desde então, a data é marcada pelas reinvindicações e conquistas dos trabalhadores em diversas partes do mundo.

Ocorre que, ao direcionarmos o nosso olhar para a realidade brasileira, em especial a dos últimos anos, podemos facilmente nos fazer a seguinte pergunta: o que comemorar neste 1º de maio?

Como se não bastassem as perdas de direitos trabalhistas advindos do desmonte da legislação, denominada de Reforma Trabalhista, os trabalhadores brasileiros, assim como os do resto do mundo, se depararam com a pandemia de Covid-19, que por si só já seria sensivelmente danosa aos trabalhadores, haja vista o risco de desemprego.

Entretanto, parece que nada é tão ruim que não possa piorar. Diante das medidas do governo federal, que supostamente deveriam manter emprego e renda, os dados estatísticos nos mostram que os pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos, ou seja, tais medidas buscaram manter, garantir ou aumentar a renda e emprego de quem?

Não é novidade que faz tempo que o trabalhador, o servidor público e a Previdência são encarados como culpados pelas crises do país, dando espaço para retirada de direitos e precarização do trabalho. Esse fato contribuiu para afastar a representação sindical, diferentemente da prevista constitucionalmente, nas negociações do Programa de Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), que trata da redução de jornada e de salário do trabalhador.

E, com isso, voltamos ao nosso 1º de maio, data comemorativa para os trabalhadores? Não. Hoje, mais do que nunca, devemos entender o 1º de maio como uma data de reivindicações, cobranças e reflexões acerca do que desejamos, esperamos e queremos para o trabalhador brasileiro. Os números provaram que a retirada de direitos não geram empregos, mas criam precarização e informalidade. A retirada da representação dos sindicatos nos acordos coletivos também não aumenta a renda do trabalhador.

Assim, não podemos nunca nos esquecer daquele 1º de maio de 1886 nos Estados Unidos, onde a marca foi a reivindicação, a não aceitação mansa e pacífica da exploração do trabalho do homem pelo homem. O mais importante nesse 1º de maio é ponderarmos acerca de nossos conceitos ou preconceitos, além de refletirmos sobre a importância e necessidade de os trabalhadores brasileiros serem respeitados, valorizando a dignidade da pessoa humana.

Sendo assim, viva o nosso 1º de maio, viva o trabalhador brasileiro, sem comemorar, porém com muito a reivindicar.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta

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