O Anuário de Finanças dos Municípios Capixabas 2025 trouxe um alerta sobre o avanço preocupante das despesas nos municípios do Espírito Santo. Passou despercebido, porém, um dado relevante: enquanto prefeituras capixabas enfrentam apertos orçamentários, a Capital navega em águas fiscais extraordinariamente tranquilas. O que dizem os indicadores sobre Vitória?
Para responder com rigor, convém adotar o tripé de análise da Capag, metodologia do Tesouro Nacional que avalia sustentabilidade fiscal através de três pilares: liquidez, endividamento e poupança corrente. Esse modelo técnico permite comparações objetivas entre municípios brasileiros e confere credibilidade à análise fiscal.
No quesito liquidez, Vitória apresenta números excepcionais. A capital mantém 32% da receita corrente líquida disponível em caixa não vinculado — cerca de R$ 1 bilhão em recursos livres, quase metade do que os 78 municípios capixabas possuem somados. Mas será que ter dinheiro em caixa basta para atestar boa gestão?
O segundo pilar responde parcialmente. Com endividamento líquido negativo de 48%, Vitória possui mais ativos financeiros do que passivos — é a capital com menor endividamento do país segundo levantamento do CLP. Enquanto diversas metrópoles enfrentam restrições fiscais severas, a Capital capixaba governa sem a âncora de dívidas passadas.
A poupança corrente completa o diagnóstico positivo. Em 2024, o município comprometeu apenas 84,1% da receita com despesas correntes, contra 90% da média dos entes municipais. Sobra espaço fiscal que se materializa em R$ 550 milhões investidos em obras e projetos. Pelos critérios da Capag, Vitória alcança excelência nos três pilares da gestão fiscal responsável.
Surge, contudo, um paradoxo. Apesar da invejável situação financeira, a participação de Vitória no ICMS estadual caiu de 15,2 pontos em 2015 para 10,9 em 2025 — redução de 30% em uma década. Como explicar uma cidade fiscalmente exemplar, mas com protagonismo econômico declinante? A limitação territorial — apenas 94 km², menor capital do Sudeste — impede expansão industrial tradicional. A saída? Investir em gente, não em galpões.
A gestão municipal parece ter compreendido que cuidar das finanças, por si só, é insuficiente. Por isso, há evidências que sugerem estar direcionando o superávit para capital humano — estratégia que a literatura econômica confirma como mais eficaz para gerar prosperidade no longo prazo.
Vitória lidera o atendimento de creches entre capitais e saltou do 12º para o 2º lugar no ranking nacional de alfabetização. A rede de escolas em tempo integral avançou 33% em 2025. Os resultados aparecem no segundo maior IDH entre capitais (0,845).
O Ranking de Competitividade do CLP sintetiza essa transformação: Vitória subiu da 8ª posição em 2023 para o 3º lugar em 2024, conquistando o primeiro lugar nacional em Capital Humano e Funcionamento da Máquina Pública. Analisando os indicadores, projeto que a edição 2025, a ser divulgada em breve, confirmará avanço ainda mais expressivo.
Enquanto o Anuário de Finanças dos Municípios alerta para o descontrole das contas municipais capixabas, Vitória conquistou o tripé da sustentabilidade fiscal: liquidez para crises, ausência de endividamento e capacidade de poupança. A cidade demonstra que excelência fiscal existe — mas só ganha sentido quando transforma números em desenvolvimento humano. Não é milagre. É a aposta certa: investir em pessoas rende mais que guardar dinheiro.
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