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É promotora de Justiça e dirigente do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES)

Como o Ministério Público do ES combate a adultização precoce

Preservar a infância é proteger o futuro. Toda criança tem o direito de crescer no seu tempo, com dignidade e afeto

  • Valéria Barros Duarte Morais É promotora de Justiça e dirigente do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES)
Publicado em 19/08/2025 às 17h58

A infância é uma fase única e essencial, em que se constroem as bases emocionais, cognitivas e sociais que acompanharão cada pessoa por toda a vida. No entanto, o que temos visto com frequência crescente é a antecipação de comportamentos, aparências e responsabilidades típicas da vida adulta em crianças que ainda deveriam estar brincando, explorando o mundo com leveza e desenvolvendo-se com segurança. A isso damos o nome de adultização infantil.

Esse fenômeno acontece quando meninos e meninas são expostos a estímulos ou situações para os quais ainda não têm maturidade emocional. Pode se manifestar de forma sutil, por meio de roupas, linguagens ou coreografias inadequadas para a idade, ou de forma mais evidente, como a pressão por aparência, fama precoce, engajamento digital, responsabilidades excessivas ou participação em conteúdos erotizados.

As consequências são graves. Crianças adultizadas tendem a crescer com autoestima fragilizada, ansiedade, distorções de autoimagem, dificuldades de socialização e problemas emocionais duradouros. A antecipação da maturidade compromete o desenvolvimento saudável e fragiliza a proteção integral que lhes é garantida por lei.

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo, por meio do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude, atua constantemente na proteção integral da criança, inclusive no combate à adultização precoce. Isso se dá por meio de articulação com a rede de proteção, fiscalização de políticas públicas e ações de conscientização que garantam uma infância segura e respeitada.

Embora haja o trabalho ativo das instituições, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em 2024, a Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos da SaferNet Brasil registrou mais de 53 mil novas denúncias de imagens de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes.

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Sede do MInistério Público do Estado do ES - MPES. Crédito: Carlos Alberto Silva

Ainda de acordo com a SBP, o ambiente digital expõe os pequenos a riscos gravíssimos, como a cultura da sexualização, pornografia infantil, nudez, sexting, sextorsão, estupro virtual, grooming e até o uso criminoso de deep fakes para manipulação de imagens.

Nesse contexto, a tramitação do PL 2628/2022 no Senado Federal representa um avanço importante. O projeto propõe medidas contra a sexualização precoce de crianças e adolescentes em mídias e publicidade, com sanções a quem promover esse tipo de conteúdo. Mais que uma resposta legislativa, o PL reforça a urgência de uma mudança cultural: a infância não é palco nem vitrine, e não deve ser moldada à imagem do desejo adulto.

Além disso, medidas como a valorização do brincar e do lazer — conforme dispõe a Lei nº 14.826/2024, que reconhece a importância do brincar para o desenvolvimento infantil —, o monitoramento do acesso digital, o incentivo à educação equilibrada e a criação de ambientes familiares acolhedores são essenciais. O equilíbrio entre aprendizado, diversão e responsabilidades compatíveis com a idade é a chave para o crescimento saudável, com segurança, autonomia e autoestima fortalecida.

Preservar a infância é proteger o futuro. Toda criança tem o direito de crescer no seu tempo, com dignidade e afeto. E cabe a nós, como sociedade, garantir que esse direito seja respeitado — na lei, na cultura e na vida cotidiana.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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