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Afinal, a denúncia de Felca sobre “adultização de crianças” é jornalismo ou não?

Afinal, a denúncia de Felca sobre “adultização de crianças” é jornalismo ou não?

Em bate-papo do 28º Curso de Residência em Jornalismo, a nova geração de “focas” recebeu dicas dos editores-chefes de A Gazeta/CBN e da TV Gazeta sobre o alcance da profissão

Larissa Fontes

Residente em Jornalismo / [email protected]

Mayhan Araujo

Residente em Jornalismo / [email protected]

Publicado em 15 de agosto de 2025 às 17:11

Bruno Dalvi e Geraldo Nascimento falam a residentes na 28ª edição do curso
Os editores-chefes Bruno Dalvi, da TV Gazeta, e Geraldo Nascimento, de A Gazeta, em conversa com os alunos do 28º Curso de Residência. Crédito: Mariana Gotardo

Na manhã desta sexta-feira (15), a Polícia Civil de São Paulo levou à prisão o influenciador digital Hytalo Santos e o marido dele, Israel Nata Vicente. Os dois são investigados, entre outros crimes, pela “adultização de crianças”. A prisão acontece dias após um vídeo de outro influenciador - Felipe Bressanim, o Felca - denunciar a criação de conteúdos expondo crianças. Um dia antes da atuação polícial, no entanto, o assunto já era tratado na sala de aula dos alunos do 28º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, em bate-papo comandado pelos editores-chefes Geraldo Nascimento e Bruno Dalvi.

Nascimento e Dalvi são unânimes: o exposed feito por Felca, viralizado por mais de 4 milhões de usuários, é uma denúncia de grande gravidade, mas não deve ser interpretado como jornalismo. "O que ele (Felca) fez tem valor; ele juntou os pontos, explicou, mas isso não é ser jornalista. Ali houve adjetivações, opiniões, que podem até ser legítimas para uma conversa, mas não para o fazer jornalismo. E o principal, não se buscou o contraditório. Foi um bom trabalho, nos acendeu um alerta sobre algo que poderíamos ter visto antes, mas não dá pra chamar de jornalismo. E as pessoas precisam saber essa diferença”, diz o jornalista, que lidera as equipes de A Gazeta e CBN Vitória.

Chefe da TV Gazeta e do g1 ES, Bruno Dalvi comentou que o tema já deveria ter sido tratado pelo jornalismo, mas acabou ganhando visibilidade primeiro pelas redes sociais e que, a partir daí, “cabe agora ao jornalismo ir atrás dessa notícia, oferecer contexto e embasamento com técnica, e ouvindo os lados, para informar a população de maneira profissional”, pontuou.

Cenário adverso

Sabatinados pelos 12 alunos do Curso de Residência, os editores-chefes também trataram da crise de credibilidade que a profissão atravessa nos últimos anos. “Vivemos em uma era de desinformação, com ameaças constantes em que o jornalista está sendo atacado, descredibilizado”, ponderou Nascimento, reforçando a necessidade de valorizar e fortalecer o jornalismo em tempos de crise.

Na mesma linha, Dalvi sinalizou que a resposta para esse momento é clara: “Vamos resolver com mais jornalismo fazendo reportagem de verdade. O remédio para a crise do jornalismo é mais jornalismo”. Com décadas de experiência no ofício, os dois profissionais reforçaram que o jornalista não pode ter medo de perguntar, “mesmo quando alguma fonte fizer cara feia, ou não quiser ser questionada. É quem deve explicações que precisa ter medo da pergunta bem feita”, exemplificou.

Para o editor-chefe da TV Gazeta, existe uma diferença entre informar e noticiar. Segundo Dalvi, nos dias de hoje, qualquer pessoa pode informar nas redes sociais, sendo um direito legítimo. Mas noticiar exige a técnica e o olhar de um jornalista para apurar e dar contexto aos fatos. “É preciso que o jornalista transforme a informação em notícia”, pontuou.

Turma de alunos do 28º Curso de Residência com Bruno Dalvi e Geraldo Nascimento
Residentes da 28º edição do curso com Geraldo Nascimento e Bruno Dalvi. Crédito: Mariana Gotardo

Encerrando o encontro, os editores ressaltaram o caráter combativo do jornalismo e sua essência humanitária, mesmo diante das transformações tecnológicas. “Jornalista tem que gostar de gente”, disse Nascimento, lembrando que a profissão se constrói no contato direto com as pessoas e a escuta atenta das histórias que elas têm para contar.

* Esta matéria foi escrita por alunos do 28º Curso de Residência em Jornalismo, sob orientação da editora de conteúdo Mariana Gotardo.

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